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Putin nega uso de gás como arma e afirma ser “impossível” isolar a Rússia

O presidente russo, Vladimir Putin, negou nesta quarta-feira (7) que Moscou esteja usando energia como "arma" contra a Europa, dias após o fornecimento de gás russo pelo gasoduto Nord Stream ter sido interrompido. O chefe de Estado também afirmou que as sanções contra seu país são uma ameaça para o mundo inteiro e que é “impossível” isolar a Rússia.

O presidente russo, Vladimir Putin, participa de uma sessão plenária no Fórum Econômico do Leste, em Vladivostok, Rússia, nesta quarta-feira, 7 de setembro de 2022.
O presidente russo, Vladimir Putin, participa de uma sessão plenária no Fórum Econômico do Leste, em Vladivostok, Rússia, nesta quarta-feira, 7 de setembro de 2022. AP - Sergei Bobylev
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"[Os ocidentais] dizem que a Rússia usa energia como arma. Outra bobagem! Que arma usamos? Fornecemos o quanto for necessário de acordo com os pedidos feitos" pelos países importadores, declarou Putin em Vladivostok, no sudeste da Rússia, na costa do Pacífico, durante um fórum econômico.

Ele acrescentou ainda que a proposta europeia de limitar o preço do gás russo é "estúpida" e levaria a um novo aumento nos preços. Putin ressaltou que a demanda global por hidrocarbonetos russos continua alta, apesar das sanções ocidentais.

Para o presidente russo, é "impossível" para os países ocidentais isolar a Rússia e as sanções contra Moscou representam uma "ameaça para o mundo inteiro". A pandemia do novo coronavírus "foi substituída por novos desafios globais, que ameaçam o mundo inteiro. Refiro-me à febre das sanções do Ocidente", explicou.

“Há alguma polarização acontecendo”

Putin denunciou "a teimosa recusa das elites ocidentais em ver os fatos" e "a obscura dominação dos Estados Unidos" na implementação de pesadas sanções contra a Rússia em represália à ofensiva realizada na Ucrânia desde o final de fevereiro. "Mudanças irreversíveis ocorreram em todo o sistema de relações internacionais”, observou.

Apesar de uma enxurrada de represálias ocidentais, o chefe do Kremlin garantiu que a Rússia "não perdeu nada e não perderá nada". “Há alguma polarização acontecendo, mas acho que só será benéfico”, avaliou.

A crise da exportação de cereais também entrou no radar no presidente russo, que afirmou que as vendas de grãos ucranianos foram principalmente para países europeus e não para países pobres, o que representa um risco de "catástrofe humanitária".

"Talvez devêssemos pensar em como limitar a exportação de cereais e outros produtos alimentares desta forma?", continuou.

“Vou consultar o presidente turco [Recep Tayyip] Erdogan”, que apoiou um acordo em Istambul permitindo a exportação de grãos ucranianos, acrescentou. As declarações surgem no momento em que persistem as preocupações com a segurança alimentar global, que foi impactada pelas consequências do conflito na Ucrânia.

O acordo de Istambul permitiu a retomada das exportações de grãos ucranianos, mas a Rússia vem reclamando há semanas sobre os obstáculos impostos às suas próprias exportações de alimentos por causa das sanções ocidentais.

Mianmar, um parceiro “confiável”

Putin ainda elogiou as relações "positivas" entre Moscou e Mianmar, ao receber o chefe da junta birmanesa em Vladivostok. "Mianmar é nosso parceiro confiável e de longa data no Sudeste Asiático. Nossas relações estão se desenvolvendo de maneira positiva."

"Parece que você não é o líder da Rússia, mas o líder do mundo, porque você controla e organiza a estabilidade em todo o mundo", respondeu Min Aung Hlaing, em uma declaração traduzida para o russo e publicada em um comunicado do Kremlin.

Os dois líderes "discutiram a cooperação entre seus países de maneira amigável e aberta", informou a junta birmanesa em comunicado. A visita da autoridade birmanesa ocorre no momento em que os dois governos, enfrentando tensões com os países ocidentais, se aproximaram nos últimos meses.

Desde que um golpe de Estado derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi, em fevereiro de 2021, Mianmar enfrenta sanções ocidentais e uma deterioração em suas relações diplomáticas.

Não se espera que Min Aung Hlaing seja convidado para a cúpula dos líderes da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) que será realizada em Phnom Penh, no Camboja, em novembro, pois seus membros estão insatisfeitos com a falta de progresso na resolução da crise política birmanesa.

Ocidente em declínio

Diante de muitos líderes econômicos e políticos asiáticos, particularmente chineses, Putin também elogiou "o papel crescente" da região Ásia-Pacífico nos assuntos mundiais, em contraste com um Ocidente que ele descreveu como em declínio, prejudicado em particular pela " inflação".

Perante "a agressão tecnológica, financeira e econômica do Ocidente", o presidente russo disse estar satisfeito com a distância gradativa da economia russa do dólar, do euro e da libra esterlina, "moedas pouco confiáveis", em particular o yuan chinês.

Nesta terça-feira (6), a gigante de gás russa Gazprom, uma empresa estatal, anunciou que a China passaria a pagar seus contratos em rublos e yuans, em vez de dólares, um novo sinal de reaproximação entre Moscou e Pequim em meio a tensões com o Ocidente.

"A maioria absoluta dos estados da Ásia-Pacífico não aceita a lógica destrutiva das sanções", insistiu Putin. "Uma parceria criativa abrirá enormes novas oportunidades para nossos povos."

Os presidentes russo e chinês se reunirão nos dias 15 e 16 de setembro em Samarcanda, no Uzbequistão, por ocasião de uma cúpula regional, anunciou a diplomacia russa nesta quarta-feira, uma primeira viagem ao exterior de Xi Jinping desde o início da pandemia. O encontro ocorrerá na cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, anunciou o embaixador russo em Pequim, Andrei Denissov, citado pelas agências russas Novosti e Tass.

Contrapeso

Essa organização, construída como contrapeso à influência ocidental, reúne China, Rússia, quatro estados da Ásia Central (Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão e Tadjiquistão), além da Índia e do Paquistão. “Esta cúpula promete ser interessante, porque será a primeira cúpula presencial desde a pandemia”, observou o diplomata russo.

Xi e Putin se viram no início de fevereiro de 2022 na China, algumas semanas antes do início da ofensiva russa contra a Ucrânia. Moscou e Pequim assinaram então uma declaração conjunta pedindo uma "nova era" nas relações internacionais, assim como o fim da hegemonia americana e denunciando o papel das alianças militares ocidentais, Otan e Aukus (Austrália, Reino Unido e Estados Unidos).

Desde o começo do ataque russo, Pequim mostrou seu apoio à Rússia, atingida por todos os lados pelas sanções ocidentais. Moscou, em busca de aliados, pontos de venda e fornecedores, afirma estar se voltando para a Ásia.

(Com informações da AFP)

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