Acessar o conteúdo principal

Rússia bloqueia acordo na ONU sobre desarmamento nuclear

A Rússia impediu na sexta-feira (26) a adoção na ONU de uma declaração conjunta no final da conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Moscou se opôs a disposições que considerou "políticas" no documento final de cerca de 30 páginas, que foi negociado por representantes de 191 países durante quatro semanas. 

Representantes de 191 países signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) participaram das negociações na sede da ONU, em Nova York.
Representantes de 191 países signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) participaram das negociações na sede da ONU, em Nova York. AP - John Minchillo
Publicidade

O objetivo das negociações era impedir a propagação de armas nucleares, favorecer o desarmamento e promover a cooperação para a utilização pacífica da energia nuclear. O representante russo, Igor Vishnevetsky, denunciou, no entanto, a falta de "equilíbrio" no acordo. 

"Nossa delegação tem uma objeção-chave a certos parágrafos que são descaradamente políticos", disse o representante de Moscou, repetindo várias vezes que a Rússia não foi o único país a ter objeções ao texto.

Segundo fontes próximas às negociações, a Rússia se opôs particularmente aos parágrafos relativos à usina nuclear ucraniana de Zaporíjia, ocupada por militares russos. 

O presidente da conferência, o argentino Gustavo Zlauvinen, disse que "não estava em condições de alcançar um acordo" depois que a Rússia discordou do texto.

Ameaça nuclear na Ucrânia

O último texto sobre a mesa, visto pela agência AFP, sublinhou uma "grande preocupação" com as atividades militares em torno das usinas nucleares ucranianas, principalmente a de Zaporíjia, com a "perda de controle" desses locais pela Ucrânia e o "impacto significativo na segurança".

Outras questões sensíveis para alguns Estados também estiveram em discussão desde o início da conferência, em 1° de agosto, incluindo o programa nuclear do Irã e os testes nucleares da Coreia do Norte.

Na última conferência de revisão do TNP, em 2015, as partes também não conseguiram chegar a um acordo sobre questões relevantes.

Na avaliação de Beatrice Fihn, que dirige a Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (Ican), "o que é realmente problemático é que com ou sem um texto, nada se faz para reduzir o nível de ameaça nuclear neste momento". O esboço da regulamentação era "muito fraco e distante da realidade", acrescentou ela, observando a ausência de "compromissos concretos de desarmamento".

Áustria critica postura de grandes potências

No sábado (26), a Áustria, um país neutro e não nuclear, denunciou a atitude das grandes potências.

"Enquanto mais de três quartos dos 191 Estados signatários do TNP pediram progressos credíveis no desarmamento nuclear, foram principalmente os Estados com armas nucleares e, sobretudo, a Rússia, que resistiram", escreveu o governo austríaco em uma declaração.

"Ao contrário dos compromissos de desarmamento consagrados no TNP, os cinco Estados com armas nucleares – Estados Unidos, França, China, Reino Unido e Rússia – estão aumentando ou aperfeiçoando seus arsenais", acrescentou a nota. O governo austríaco lamentou que "durante as negociações em Nova York não houve a menor vontade de implementar obrigações contratuais não cumpridas anteriormente", frisou o comunicado de Viena.

Na abertura da conferência, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que "tal perigo nuclear não foi experimentado desde o auge da Guerra Fria". "Hoje, a humanidade está diante de um mal-entendido, a um erro de cálculo da aniquilação nuclear", advertiu ele.

Ucrânia alerta para risco de "pulverização radioativa" em Zaporíjia

A operadora pública ucraniana Energoatom advertiu neste sábado (27) que existe o risco de "pulverização de substâncias radioativas" na central nuclear de Zaporíjia, atualmente ocupada pelas tropas russas.

Como resultado de vários bombardeios ocorridos nas últimas 24 horas, "a infraestrutura da usina foi danificada, há riscos de vazamento de hidrogênio e de substâncias radioativas, e o risco de incêndio é alto", afirmou a Energoatom no Telegram.

A Rússia confirmou os bombardeios à central, mas acusou as forças ucranianas pelos ataques.

"No total, 17 obuses foram disparados, dos quais quatro atingiram a cobertura do Edifício Especial 1, onde estão armazenados 168 barras de combustível nuclear WestingHouse", afirma um comunicado do Ministério da Defesa russo, acrescentando que "a radioatividade no local permanece normal".

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.