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Opep não vai abrir torneira do petróleo: organização preserva interesses da Rússia e desagrada EUA

Os países da Opep+ decidiram nesta quarta-feira (3) diminuir o ritmo no aumento da produção de petróleo, resistindo aos apelos do presidente norte-americano Joe Biden para produzir mais barris, numa tentativa de conter o aumento do preço do combustível. O Ocidente pressiona para aumentar a produção. Mas como fazer isso sem atirar no próprio pé e ofender os membros da aliança, como a Rússia? Thierry Bros, professor de energia e clima da Sciences-Po, explicou à RFI o dilema da Opep.

O logotipo da Opep, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, com sede em Viena, na Áustria.
O logotipo da Opep, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, com sede em Viena, na Áustria. REUTERS/Leonhard Foeger
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A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus dez parceiros da aliança Opep+, liderada pela Rússia, estiveram reunidos em Viena, nesta quarta-feira (3). A aliança mais ampla que se formou quando a demanda global entrou em colapso, durante a crise da Covid-19, mas está sob tensão, como explica o especialista Thierry Bros, de Sciences-Po, à RFI.

“O que a Arábia Saudita tenta definir é, em primeiro lugar, como suas decisões serão julgadas dentro da Opep, uma vez que o país ocupa uma posição estratégica dentro da organização, então o país precisa manter uma certa coesão. E, além disso, não se pode dizer a aliados do passado que ‘não somos mais aliados porque os Estados Unidos não estão de acordo com você’”, disse o pesquisador.

“O terceiro problema para a Opep é o risco de recessão, quer dizer, se amanhã o risco de recessão alemão, por exemplo, se mostrar mais grave do que o previsto, e contamine a União Europeia, sabemos que o preço do petróleo vai baixar. Hoje, a organização tenta se equilibrar nessa corda bamba, de um lado tentar não decepcionar Macron e Biden, mas dar um jeito para que o preço do petróleo não desabe amanhã”, avalia o especialista francês.

Declaração faz preços decolarem 

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), liderada pela Arábia Saudita, e seus aliados - Opep+ - liderados pela Rússia, acordaram um aumento quase irrisório da produção para setembro: "100.000 barris por dia". Isto se compara a cerca de 432.000 e depois a 648.000 barris adicionais estabelecidos nos meses anteriores, disse a aliança em uma declaração após a reunião. A declaração fez os preços subirem imediatamente.

Os 23 membros deveriam decidir sobre uma nova estratégia nesta quarta-feira, quando o acordo atual expira: no papel, eles voltaram aos níveis de produção pré-pandêmicos. Na primavera de 2020, o grupo optou por deixar milhões de barris de petróleo no subsolo, a fim de não inundar o mercado com petróleo bruto que não poderia absorver, devido a um colapso da demanda.

Com sua decisão, a Opep+ mostra que permanece unida e poupa a Rússia, cujos interesses são diametralmente opostos aos de Washington. No comunicado, ele insiste na "importância de manter o consenso essencial para a coesão da aliança".

Joe Biden na Arábia Saudita

Na esperança de influenciar a decisão, Joe Biden visitou a Arábia Saudita pela primeira vez como presidente dos EUA em meados de julho, uma estratégia muito longe de seus comentários sobre um estado "pária" após o assassinato do jornalista dissidente Jamal Kashoggi. Seu objetivo era convencer o reino a bombear mais petróleo para conter a alta dos preços dos combustíveis.

Na semana passada, o presidente francês Emmanuel Macron também esteve no meio de críticas quando recebeu o príncipe herdeiro da Coroa saudita, Mohammed bin Salman, suspeito de estar envolvido no cruel assassinato de Kashoggi. No final de uma reunião denunciada pelos defensores dos direitos humanos, os dois líderes disseram que desejavam "intensificar a cooperação" para "atenuar os efeitos da crise energética causada pela guerra na Ucrânia na Europa, no Oriente Médio e no mundo".

Além dos desafios geopolíticos, o recente declínio relativo dos preços do petróleo, em meio a temores de recessão, pode ter levado a Opep+ a preferir "não mexer em time que está ganhando". O grupo tira vantagens da situação atual. A Arábia Saudita registrou um forte crescimento no segundo trimestre de 2022, impulsionada pelo petróleo.

Outro fator é a baixa capacidade de reserva dos vários membros da Opep, com exceção da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos. A Opep+ está lutando para cumprir suas cotas declaradas devido a crises políticas prolongadas e à falta de investimento e manutenção de infra-estrutura durante a pandemia. A produção russa, sob o jugo das sanções ocidentais, em conexão com a invasão da Ucrânia, também está sendo reduzida.

(Com RFI e agências)

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