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Anistia Internacional acusa Israel de praticar política de "apartheid" contra palestinos

A exemplo de várias ONGs locais e a Human Rights Watch (HRW), a Anistia Internacional (AI) classificou de "apartheid" a política de Israel em relação os palestinos. Eles seriam tratados como um "grupo racial inferior", aponta um relatório divulgado nesta terça-feira (1º). 

Em um relatório publicado nesta terça-feira (1°), a ONG Anistia Internacional pede sanções contra as autoridades israelenses "mais envolvidas no crime de apartheid" contra os palestinos.
Em um relatório publicado nesta terça-feira (1°), a ONG Anistia Internacional pede sanções contra as autoridades israelenses "mais envolvidas no crime de apartheid" contra os palestinos. AP - Maya Alleruzzo
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"As políticas cruéis de segregação, expropriação e exclusão de Israel nesses territórios equivalem claramente a um apartheid", declarou a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard, durante uma entrevista coletiva em Jerusalém. "Quer vivam em Gaza, em Jerusalém Oriental, no restante da Cisjordânia ou em Israel, os palestinos são tratados com um grupo racial inferior e seus direitos são sistematicamente retirados", acrescentou.

Callamard enfatizou que deseja evitar comparações com a África do Sul, mas que um sistema de segregação similar é adotado pelo governo israelense. "Os cidadãos árabes de Israel não terão a mesma experiência de apartheid que os de Gaza, mas isso não significa que não exista um regime de apartheid", reiterou. 

Para a Anistia Internacional, Israel considera os palestinos uma "ameaça demográfica". De acordo com dados oficiais, atualmente 6,8 milhões de judeus e outros tantos árabes vivem em Israel, Jerusalém, Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza, um território submetido a um bloqueio israelense desde que o movimento islamita Hamas chegou ao poder, em 2007.

Embargo e sanções contra Israel

No relatório, a ONG faz um apelo ao Conselho de Segurança da ONU para que imponha um "embargo" às vendas de armas a Israel e também pede sanções contra as autoridades israelenses "mais envolvidas no crime de apartheid". 

Outro pedido é feito no documento ao Tribunal Penal Internacional (TPI), que no ano passado coordenou uma investigação por "crimes contra a humanidade" contra os palestinos. A AI quer que o termo "crime de apartheid" seja adicionado ao caso, mesmo que Israel tenha iniciado uma campanha diplomática para convencer os países ocidentais a apoiá-lo no TPI.

Callamard chegou na semana passada a Jerusalém e, deste então, se reuniu com moradores da Cisjordânia e de Israel, mas não conseguiu se encontrar com nenhuma autoridade israelense, apesar de ter enviado um pedido em outubro. A AI considera que chegou o momento para a comunidade internacional acabar com o conflito israelense-palestino, afirmou a secretária-geral da organização, lembrando que o processo político de paz permanece paralisado.

"Propaganda terrorista"

Logo após a divulgação do relatório, o ministro israelense das Relações Exteriores, Yair Lapid, rebateu as acusações da ONG. Segundo ele, o documento "compila as mentiras propagadas por organizações terroristas". Na segunda-feira (31), ele pediu à AI que não publicasse o relatório.

"A Anistia costumava ser uma organização de valor que todos nós respeitávamos. Hoje é exatamente o oposto", disse Lapid. O ministro afirmou que a ONG "não é uma organização de direitos humanos, mas uma organização radical". 

"Israel não é perfeito, mas é uma democracia ajustada ao direito internacional, aberta a críticas", acrescentou Lapid. Segundo ele, "se Israel não fosse um Estado judeu ninguém na Anistia se atreveria a atacá-lo". 

A secretária-geral da AI reagiu às declarações do ministro. "Criticar as práticas do Estado de Israel não é, em absoluto, uma forma de antissemitismo. A Anistia denuncia fortemente o antissemitismo", afirmou Callamard. "O que afirmamos é que em 2021, em 2022, há apartheid em Israel, não sugerimos que havia um sistema de apartheid em 1948", reiterou. 

Durante a entrevista coletiva, a secretária da AI também rebateu as acusações de que sua organização "estigmatiza" Israel, ao recordar que a ONG publica com frequência relatórios criticando o Irã, país rival de Israel.

Trabalho "corajoso e justo"

A Autoridade Palestina, que governa parte da Cisjordânia ocupada, elogiou a AI por seu trabalho "corajoso e justo" em nome do povo palestino. O movimento islamita Hamas, que controla a Faixa de Gaza e que tanto os Estados Unidos como a União Europeia consideram um grupo terrorista, aplaudiu o "profissionalismo" da ONG.

Essa não é a primeira vez que o termo apartheid é utilizado para designar o tratamento da população palestina. Em abril de 2021, a Human Rights Watch provocou alvoroço ao apoiar a posição de várias ONGs palestinas e israelenses que decidiram classificar desta mesma forma a política de Tel Aviv em relação aos palestinos, árabe-israelenses e descendentes que permaneceram em suas terras após a criação de Israel, em 1948.

(Com informações da AFP) 

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