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Afeganistão: fuga em massa da população termina com pânico e mortes no aeroporto de Cabul

O Afeganistão acordou nesta segunda-feira (16) nas mãos dos talibãs, poucas horas após a tomada de Cabul pelos insurgentes. O presidente afegão, Ashraf Ghani, que fugiu do país, reconheceu a vitória do movimento, em possessão do palácio do governo. A entrada dos talibãs na capital provocou uma onda de pânico e mortes, quando milhares de pessoas se amontoaram no aeroporto da cidade na tentativa de deixar o país.

Milhares de pessoas se aglutinam no aeroporto internacional de Cabul nesta segunda-feira (16), um dia depois da tomada da capital pelos talibãs.
Milhares de pessoas se aglutinam no aeroporto internacional de Cabul nesta segunda-feira (16), um dia depois da tomada da capital pelos talibãs. © AFP
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Sonia Ghezali, correspondente da RFI em Cabul, com agências

O cenário no aeroporto internacional de Cabul na manhã desta segunda-feira é caótico. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram milhares de pessoas aglutinadas - famílias inteiras em pânico - correndo em direção aos aviões no solo. Muitas pessoas chegaram a se pendurar nas escadas de acesso às aeronaves, na tentativa de fugir do país em qualquer voo.

Por enquanto, os talibãs não controlam o aeroporto da capital, que se tornou a única porta de saída do país. As agências de notícia indicaram que, diante do caos, as forças americanas presentes no local atiraram para o alto, na tentativa de acalmar os cidadãos desesperados. Mas o resultado foi o contrário: um imenso movimento de massa se formou e muitos foram pisoteados e mortos. Ainda não há um balanço de vítimas.

O aeroporto de Cabul também acolhe algumas embaixadas estrangeiras, agora entricheiradas na espera da evacuação de funcionários. O serviço diplomático americano retirou sua bandeira nesta manhã. Muitos voos comerciais foram cancelados. A embaixada americana na capital afegã pediu aos cidadãos que ainda estão no país para não ir até o aeroporto.

Filas nos bancos

Cabul é palco de um caos sem precedentes desde a noite de domingo (15). Imensas filas se formaram diante dos bancos na tentativa dos cidadãos de retirarem suas economias e fugir do país. Lojas fecharam suas portas e os policiais trabalhavam sem o uniforme.

Os talibãs tomaram o controle da segurança da capital, inclusive da chamada "zona verde", até então uma área ultrafortificada, que abriga as embaixadas e as organizações internacionais. É o próprio movimento que filtra a circulação nos arredores das zonas diplomáticas, até mesmo nos escritórios das Nações Unidas. 

Um líder dos talibãs em Cabul afirmou à agência Reuters que a regra é não assustar os cidadãos. O movimento estaria esperando a saída de todos os cidadãos estrangeiros e dos corpos diplomáticos internacionais para estruturar a nova administração do país. 

Os talibãs também anunciaram a seus combatentes que "ninguém pode entrar na casa das pessoas sem permissão". "Não se pode atentar contra a vida, a propriedade, a honra de ninguém", afirmou um dos porta-vozes do grupo, Suhail Shaheen.

Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o cofundador dos talibãs, Abdul Ghani Baradar, anunciou a vitória do movimento na noite de domingo (15). "Agora temos que mostrar que podemos servir a nossa nação e garantir a segurança e o bem-estar", disse.

Saída dos corpos diplomáticos

O governo dos Estados Unidos enviou 6.000 soldados para retirar os funcionários da embaixada e afegãos que atuaram como intérpretes ou em outras funções. Muitos foram retirados às pressas de Cabul no domingo.

A França iniciará o processo de saída nesta segunda-feira. O governo realiza uma reunião de emergência de seu Conselho de Defesa para discutir a situação do Afeganistão e o presidente Emmanuel Macron anunciou um pronunciamento à nação esta noite, às 20hs, no horário local, pelas redes de televisão e rádio.

A Alemanha anunciou que também deseja enviar soldados para retirar seus cidadãos e afegãos sob ameaça.

Os cidadãos afegãos e estrangeiros que desejam deixar o Afeganistão "devem ser autorizados a sair", afirmaram Estados Unidos e outros 65 países em um comunicado conjunto, com a advertência de que os talibãs devem demonstrar "responsabilidade". O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta segunda-feira para debater a situação.

Nesta manhã, a Rússia anunciou que seu embaixador em Cabul se encontrará na terça-feira (17) com os talibãs. Moscou decidirá se reconhece ou não o governo dos insurgentes com base em suas "ações", afirmou o ministério das Relações Exteriores.

Já a China, que compartilha 76 quilômetros de fronteira com o Afeganistão, afirmou que deseja manter "relações amistosas" com o movimento. Pequim "respeita o direito do povo afegão a decidir seu próprio destino e futuro e deseja seguir mantendo relações amistosas e de cooperação com o Afeganistão", afirmou à imprensa a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying.

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