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Presidente do Afeganistão admite que "os talibãs venceram" e foge do país

O presidente afegão, Ashraf Ghani, disse que fugiu do país neste domingo (15) para "evitar um banho de sangue", quando o Talibã entrou na capital. Ele admitiu que o movimento radical islâmico conseguiu retomar o controle do Afeganistão.

Talibãs posam neste domingo (15) com bandeira do movimento islâmico radical em Ghazni, uma das cidades conquistadas, no momento em que o grupo tomava a capital Cabul.
Talibãs posam neste domingo (15) com bandeira do movimento islâmico radical em Ghazni, uma das cidades conquistadas, no momento em que o grupo tomava a capital Cabul. AP - Gulabuddin Amiri
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"O Talibã venceu ... e agora é responsável pela honra, propriedade e autopreservação de seus compatriotas", declarou Ghani em um comunicado postado no Facebook. O chefe de Estado, que não informou onde está refugiado, disse ainda que deixou a capita afegã pois "incontáveis patriotas seriam martirizados e a cidade de Cabul seria destruída" se ele permanecesse.

No início da noite dezenas de insurgentes talibãs tomaram o controle do palácio presidencial de Cabul e clamaram "vitória", segundo imagens divulgadas pela televisão afegã.

O Talibã, que governou o Afeganistão entre 1996 e 2001, havia sido derrubado por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos quando recusou entregar aos norte-americanos o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, logo após os ataques de 11 de setembro de 2001. Quase 20 anos depois, o grupo aproveitou o início da retirada das tropas estrangeiras do território afegão e, em apenas dez dias, conseguiu tomar o controle de praticamente todo o país. A capital Cabul era um dos últimos grandes centros a serem ocupados.

Os líderes talibãs afirmam que pretendem retomar o poder por meio de uma transição pacífica, respeitando os direitos humanos. Mas a comunidade internacional teme que abusos sejam cometidos, como no passado.   

Nos cerca de cinco anos em que estiveram no poder, os talibãs impuseram sua versão ultrarrigorosa a lei islâmica no país. Na época as meninas não podiam ir à escola, as mulheres eram proibidas de sair de casa sem um acompanhante masculino e as que eram acusadas de crimes como adultério eram apedrejadas. Ladrões tinham as mãos cortadas, assassinos eram executados em público e homossexuais eliminados.

Neste domingo (15) o pânico tomou conta das ruas de Cabul, com a população temendo a volta do regime extremista. Lojas fecharam, engarrafamentos se formaram, policiais foram vistos trocando seus uniformes por roupas civis para não serem identificados. Os bancos ficaram lotados de pessoas querendo sacar dinheiro.

A população local tenta fugir para regiões consideradas mais seguras. Alguns correram para embaixadas, na esperança de conseguir um visto e deixar o país rapidamente. Filas se formaram diante da representação diplomática de países vizinhos, como o Irã. 

Filas se formaram nos bancos para retirada de dinheiro e diante das embaixadas, na esperança de se obter um visto para deixar o país, como na imagem na calçada da representação diplomática iraniana
Filas se formaram nos bancos para retirada de dinheiro e diante das embaixadas, na esperança de se obter um visto para deixar o país, como na imagem na calçada da representação diplomática iraniana AP - Rahmat Gul

Retirada de cidadãos estrangeiros

A comunidade internacional acelerou a retirada de seus cidadãos do Afeganistão. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que a aliança "estava ajudando a manter o aeroporto de Cabul aberto para facilitar e coordenar as evacuações", após consultar os países-membros.

Alemanha, França e Holanda foram algumas das nações que transferiram seu pessoal diplomático das embaixadas para o aeroporto. "Não vamos arriscar que nosso pessoal caia nas mãos do Talibã", disse o ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas.

O Canadá fechou temporariamente sua embaixada após retirar sua equipe antes da chegada dos talibãs, informou o Ministério das Relações Exteriores em Ottawa. O embaixador francês no Afeganistão tuitou um vídeo feito no momento em que deixava a Zona Verde de Cabul (zona protegida em ficam as representações diplomáticas) a bordo de um helicóptero.

Em Paris, o Ministério das Relações Exteriores disse que reforços militares estavam sendo enviados aos Emirados Árabes Unidos para ajudar nas evacuações via Abu Dhabi.

Outros membros da Otan, incluindo Reino Unido, Itália, Dinamarca, Suécia e Espanha, também anunciaram a retirada de seu pessoal.

Vistos para funcionários afegãos

A União Europeia (UE) procurava uma solução para seus funcionários afegãos, tentando convencer os 27 Estados-membros a lhes oferecerem vistos.

"O assunto é extremamente urgente, nós o levamos muito a sério e continuamos a trabalhar duro, junto com os Estados-Membros da UE, para implementar soluções rápidas e garantir sua segurança", disse um porta-voz da UE.

A Noruega, que administra a pasta do Afeganistão no Conselho de Segurança da ONU junto com a Estônia, solicitou uma "reunião o mais rápido possível", pedido que já havia sido feito pela Rússia durante o dia. A Otan também estimou que é "mais urgente do que nunca" encontrar uma solução política para o conflito no Afeganistão.

(Com informações da AFP)

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