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'Não sobrou nada neste país': crise no Líbano provoca penúria de itens básicos

O Líbano está passando por uma das piores crises econômicas do mundo desde 1850, de acordo com o Banco Mundial, e enfrenta uma escassez significativa de combustível que afeta o fornecimento e fabricação de bens básicos, como o pão.

Abbas vive nas ruínas de sua casa, um ano após a explosão que destruiu o porto de Beirute.
Abbas vive nas ruínas de sua casa, um ano após a explosão que destruiu o porto de Beirute. © RFI/Thibault Lefébure
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Manifestantes indignados bloquearam na quinta-feira (12) várias estradas do país, no dia seguinte à decisão do Banco do Líbano (BDL) de anular o subsídio ao combustível em plena crise econômica.

Na ausência de divisas, os subsídios a vários produtos básicos foram retirados gradualmente nas últimas semanas. De acordo com a ONG local "Information International", um fim dos incentivos pode provocar um aumento de 344% no preço da gasolina e de cerca de 387% para o diesel.

A crise econômica sem precedentes no Líbano, outrora um país próspero, foi agravada pela inércia dos políticos, que estão há um ano sem formar um novo governo desde a explosão do porto de Beirute, que agravou a situação e o ânimo dos libaneses.

'Não sobrou nada'

Muitas lojas fecharam depois que o BDL anunciou na quarta-feira que não seria mais capaz de subsidiar o combustível, levantando temores de mais um aumento no preço para abastecer os geradores privados de eletricidade necessários para a fabricação de produtos básicos como o pão.

Em Beirute, Mikhail Hamati, 72, surge exausto de uma longa fila para comprar pão. “Não sobrou nada neste país”, lamenta, saindo da padaria onde tinha vindo buscar mantimentos.

Antes do amanhecer de sexta-feira, já havia uma longa fila em frente à padaria para onde Hamati havia se dirigido. "Eu só consegui pegar um pacote", ele suspira, com suor na testa. “O que resta neste país? Falta-nos tudo”, acrescenta o septuagenário. Todos os supermercados onde ele faz suas compras "fecharam as portas".

“Precisamos de diesel e farinha”, afirma Jacques el-Khouri, o padeiro de 60 anos que está assando pão desde as três da manhã, quando os primeiros clientes chegaram à fila. “O estoque de farinha que recebo (para um mês) é suficiente para apenas uma semana”, diz ele.

População está cada vez mais pobre

Com a crise, 78% da população libanesa vive abaixo da linha da pobreza segundo as Nações Unidas, enquanto a libra libanesa perdeu em menos de dois anos mais de 90% de seu valor em relação ao dólar no mercado.

As autoridades acusam os distribuidores de terem retido seus estoques para vender o combustível mais caro no mercado negro ou na vizinha Síria.

Em Trípoli (norte), as padarias que permaneceram abertas lutam, como na capital libanesa, para atender a demanda dos moradores.

“Impusemos um racionamento na distribuição de pão às lojas”, disse à AFP um trabalhador de uma das maiores padarias da cidade. “Estamos fornecendo menos da metade do que enviamos antes”, resume.

As famílias no Líbano gastam atualmente cinco vezes o valor de um salário mínimo apenas com suas necessidades alimentares, de acordo com um relatório divulgado em julho pelo Observatório de Crises da Universidade Americana de Beirute.

"Depois que o aluguel é pago, não temos mais nada", disse Mohammad Abdel Kader, 62, m uma confeitaria de Beirute, onde trabalha.

Hezollah é visto como obstáculo para reformas

Em um contexto de crise econômica, os discursos e posições do Hezbollah, é visto como um obstáculo para mudanças radicais no Líbano, observa o correspondente da France24, Marc Daou.

“O movimento xiita pró-iraniano se viu isolado e no centro de tensões com atores de três das principais comunidades religiosas do país: sunitas, drusos e cristãos”, explica.

Esse clima de tensão em torno do Hezbollah tende a refletir um certo mal-estar da população libanesa, segundo especialistas. "O partido e seu arsenal continuam sendo vistos como obstáculos à mudança exigida, desde outubro de 2019, pelo movimento de protesto popular contra a classe política acusada de ter conduzido o país à ruína econômica”, comenta Daou.

(Com informações da AFP)

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