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Novo relatório da ONU sobre clima traz previsões apocalípticas e consequências já irreversíveis

O aquecimento global é pior e mais rápido do que se temia. Por volta de 2030, dez anos antes do que se estimava, poderá alcançar o limite de +1,5 ºC, com riscos de desastres "sem precedentes" para a humanidade, já sacudida por ondas de calor e inundações. Os dados foram divulgados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, nesta segunda-feira (9).

As águas de inundação se dobram em um alto sinal de alerta de água que foi parcialmente empurrado pelo Furacão Florença na Ilha Oak, Carolina do Norte, EUA, 15 de setembro de 2018.
As águas de inundação se dobram em um alto sinal de alerta de água que foi parcialmente empurrado pelo Furacão Florença na Ilha Oak, Carolina do Norte, EUA, 15 de setembro de 2018. REUTERS - Jonathan Drake
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A menos de três meses da cúpula do clima COP26 em Glasgow (Reino Unido), os especialistas climáticos das Nações Unidas (IPCC) responsabilizaram o ser humano por essas alterações e advertiram que não há outra opção além de reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa.

O primeiro relatório de avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas em sete anos, aprovado na sexta-feira por 195 países, analisa cinco cenários de emissões, do mais otimista ao mais pessimista.

Em todos eles, a temperatura do planeta alcançaria o limite de +1,5 ºC em relação à era pré-industrial por volta de 2030, dez anos antes do previsto nas estimativas de 2018.

Antes de 2050, esse limite seria superado, chegando inclusive a +2 ºC se as emissões não forem reduzidas drasticamente.

Esse cenário representaria o fracasso do Acordo de Paris, que pretendia limitar o aquecimento global abaixo de +2 ºC ou, se possível, de +1,5 ºC.

Consequências já presentes  

O planeta já alcançou +1,1 ºC e começa a sofrer as consequências: incêndios que arrasam os Estados Unidos, a Grécia e a Turquia, chuvas diluvianas que inundam a Alemanha ou a China, termômetros beirando os 50 ºC no Canadá.

"Se acham isso grave, lembrem que o que vemos agora são apenas os primeiros sinais", diz Kristina Dahl, da organização União de Cientistas Preocupados (UCS).

Mesmo limitando o aquecimento a +1,5 ºC, ondas de calor, inundações e outros eventos extremos aumentarão de forma "sem precedentes" em sua magnitude, frequência, localização ou época do ano em que ocorrem, adverte o IPCC.

"Este relatório deveria causar arrepios em quem o lesse (...) Mostra onde estamos e aonde vamos com as mudanças climáticas: para um buraco que continuamos cavando", avalia o climatologista Dave Reay.

"Estabilizar o clima vai exigir uma redução forte, rápida e sustentada das emissões de gases de efeito estufa para alcançar a neutralidade de carbono", insiste Panmao Zhai, copresidente do grupo de especialistas que elaborou a primeira parte da avaliação do IPCC.

A segunda, prevista para fevereiro de 2022, mostrará o impacto dessas mudanças e como a vida na Terra será transformada irremediavelmente em 30 anos, inclusive menos, segundo uma versão preliminar obtida pela AFP. A terceira parte abordará as soluções possíveis e é aguardada para março.

Mas o caminho a seguir é conhecido de sobra: impulsionar a transição para uma economia descarbonizada. "Este relatório deve pôr fim ao carvão e às energias fósseis antes que destruam nosso planeta", reivindicou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. 

Objetivos da COP26

Diante da necessidade de reduzir à metade as emissões antes de 2030 para cumprir com a meta de +1,5 ºC, todos os olhares se voltam para a cúpula de líderes mundiais de novembro em Glasgow.

Por enquanto, só metade dos governos revisaram suas metas iniciais de redução de emissões. "Não há tempo a perder, nem lugar para desculpas", insistiu Guterres.

Os compromissos adotados após o Acordo de Paris de 2015 levariam a um aumento da temperatura do planeta de +3 ºC. Isso se fossem respeitados, porque no ritmo atual, o mundo esquentaria +4 ºC ou +5 ºC.

Entre essas projeções sombrias, o IPCC traz um resquício de esperança.

No melhor cenário, o aquecimento poderia voltar ao limite de +1,5 ºC, se as emissões forem reduzidas drasticamente e se for absorvido mais CO2 do que o emitido.

Mas as técnicas que permitem recuperar em larga escala o CO2 na atmosfera ainda estão sendo estudadas, aponta o IPCC.  

Consequências irreversíveis

O relatório indica que algumas consequências já são "irreversíveis".

O degelo dos polos fará com que o nível dos oceanos continue aumentando durante "séculos ou milênios". O mar, que já subiu 20 cm desde 1900, ainda poderia aumentar mais meio metro até 2100 mesmo que o aquecimento seja mantido a +2 ºC.

"Parece distante, mas milhões de crianças já nascidas ainda viverão no século XXII", destaca Jonathan Bamber, autor do relatório.

Cada fração de grau conta

Pela primeira vez, o IPCC não descarta a chegada de "pontos de inflexão", eventos irreversíveis pouco prováveis, mas de impacto dramático, como o degelo da calota de gelo antártica ou a morte da floresta amazônica.

Mas, afirmam cientistas e ativistas, não são motivos para se jogar a toalha, pelo contrário, porque cada fração de grau conta.

"Não estamos condenados ao fracasso", assegura Friederike Otto, uma das autoras.

 "Não deixaremos que este relatório fique na estante (...) Vamos levá-lo conosco aos tribunais", adverte Kaisa Kosonen, do Greenpeace.

(com informações da AFP)

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