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Páscoa e outras celebrações religiosas serão limitadas na Terra Santa por causa do coronavírus

Um grande ponto de interrogação paira sobre as celebrações da Páscoa na Terra Santa por causa da epidemia da Covid-19. Em meio às severas normas de isolamento social em Israel e o fechamento total das fronteiras do país, as autoridades anunciaram que as cerimônias da Semana Santa cristã, principalmente em Jerusalém, serão realizadas de forma extremamente limitada. Eles ainda não especificaram exatamente como, mas o objetivo é evitar a contaminação em massa pelo vírus entre fiéis.

Funcionários da prefeitura higienizam a praça em frente à Igreja do Santo Sepulcro, na Cidade Velha de Jerusalém, após o fechamento da cidade para não-residentes, como medida para conter a propagação do novo coronavírus, em 30 de março de 2020.
Funcionários da prefeitura higienizam a praça em frente à Igreja do Santo Sepulcro, na Cidade Velha de Jerusalém, após o fechamento da cidade para não-residentes, como medida para conter a propagação do novo coronavírus, em 30 de março de 2020. AFP - MENAHEM KAHANA
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Correspondente da RFI em Tel Aviv,

Nesta segunda-feira (30), as portas da Igreja do Santo Sepulcro, na Cidade Velha de Jerusalém, foram fechadas a chave. A última vez que isso aconteceu foi em 1349 (há 671 anos), por causa da epidemia de Peste Negra, que dizimou entre um terço e metade da população da Europa. Desta vez, outra pandemia, a do coronavírus, é a responsável por cerrar os portões de um dos sítios cristãos mais sagrados do mundo, consagrado no ano 335 na Era Cristã, que marca, segundo a tradição, o local onde Jesus foi crucificado e ressuscitou.

Todas as denominações cristãs presentes em Jerusalém realizam eventos específicos durante os dias que antecedem a Páscoa. As igrejas católicas, que costumam ficar lotadas nessa época do ano com turistas e peregrinos, planejavam cerimônias tradicionais com milhares de fiéis a partir de 5 de abril culminando no Domingo de Páscoa (12 de abril), sendo que as gregas- ortodoxas, armênias, coptas e outras elaboravam solenidades a partir do dia 12, culminando na Páscoa, que festejam este ano no dia 19.

Fora isso, os judeus celebram o Pessach (a Páscoa Judaica) este ano em 8 de abril e os muçulmanos começam a marcar o mês sagrado do Ramadã em 23 de abril. Todos esses festejos costumam ser acompanhados de aglomerações ou ceias em família

No caso da Igreja do Santo Sepulcro, o local ficará fechado na Páscoa, segundo informou o porta-voz da Assembleia da Ordenaça Católica, Wadie Abu Nassar. Mas algum tipo de celebração será realizada dentro dela por alguns clérigos, seguindo as restrições das autoridades de saúde. Mesmo se a igreja reabra para isso, peregrinos não poderão entrar e apenas 10 clérigos de cada denominação católica – a igreja é controlada por diversos grupos que nem sempre se entender – poderão participar, ficando a dois metros de distância uns dos outros.

Procissão na Via Dolorosa

Uma das cerimônias mais complicadas em meio à crise do coronavírus é a procissão do Domingo de Páscoa entre o Monte das Oliveiras e a Igreja do Santo Sepulcro, em geral acompanhada por 25 mil fieis. Este ano, no entanto, as fronteiras de Israel estão fechadas e não há entrada de turista algum. Ainda não está claro como será realizada a parada deste ano. Também pode-se imaginar com antecedência que as tradicionais imagens de fiéis vestidos como Jesus encenando a Via Dolorosa não serão vistas.

O Ministério das Relações Exteriores informou ao jornal israelense “Jerusalem Post” que está pensando em soluções para outra cerimônia complexa: a do “Fogo Sagrado”, dos cristãos ortodoxos. Este ano, o evento será marcado em 18 de abril. Desde 867, a tradição manda que o Patriarca Grego Ortodoxo demonstre que não consegue acender fogo e, logo depois, entre na tumba de Jesus e volte com fogo aceso.

Depois, esse “fogo” é colocado em caixas especiais e levado por autoridades religiosas e peregrinos para igrejas em países como Grécia, Ucrânia Rússia, Sérvia e Romênia. A cerimônia acontecerá sem público e será transmitida online. E a chancelaria israelense informou, então, que está organizando voos para alguns dos países e que as caixas com o “fogo” serão levadas para o Aeroporto Ben Gurion por poucos fiéis acompanhados por policiais. De lá, as caixas entrarão em voos diretos para os destinos.

Judeus e muçulmanos

Festividades de outras religiões também terão que ser adaptados. Entre os judeus, a Páscoa Judaica (Pessach, que lembra o Êxodo dos hebreus do Egito) será celebrada de 8 a 15 de abril, sendo que, tradicionalmente, na primeira noite as famílias costumam se reunir para uma ceia tradicional chamada de “Seder”. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, fez uma aparição nas TVs e rádios, nesta segunda-feira, afirmando que os encontros entre famílias estão proibidos, este ano.

“Uma palavra sobre o feriado de Pessach, que começa na próxima semana. O Seder deste ano será lembrado como 'o Seder da quarentena'”, disse Netanyau. “Peço que vocês celebrem no contexto da família nuclear que mora com vocês em seus apartamento ou casas. Peço que se abstenham de visitas a familiares. O objetivo é não se encontrar com pessoas em outros lugares para não espalhar a doença. Não há escolha”.

Soluções tecnológicas

Muitas pessoas deverão passar o Seder sozinhos, o que está levando rabinos a optar por adotar soluções tecnológicas previamente rejetatas. Um grupo deu permissão, por exemplo, para que as famílias usem o programa Zoom para festejar juntas, mesmo que virtualmente. Isso porque, entre a população mais religiosa, principalmente os ultraortodoxos, há mais focos de coronavírus por causa de quantidade de eventos comunitários e da rejeição, por parte de alguns líderes religiosos, de orientar os fiéis a manter o isolamento social.

Outra preocupação em Israel é o mês muçulmano sagrado do Ramadã, que começa, este ano, no dia 23 de abril. Durante o Ramadã, os muçulmanos jejuam durante o dia, mas fazem banquetes festivos à noite com família e amigos: “O que eu disse sobre o Pessach se aplica para festividades não-judaicas. Saudamos a todos em suas festas, mas também exigimos que cumpram exatamente as mesmas diretrizes, pois elas salvam vidas”, afirmou o premiê israelense.

“É muito difícil, mas Alá nos pede para nos protegermos e não colocarmos a nós mesmos ou aos outros em perigo. Isso tem prioridade”, disse Kadi Iyad Zahalka, juiz da Corte da Sharia israelense, que rege sobre questões religiosas entre os muçulmanos.

A Wakf jordaniana, que controla a Esplanada da Mesquita/Monte do Tempo, onde fica a Mesquisa de Al-Aqsa – o terceiro local mais sagrado para os muçulmanos –, fechou o local para os fiéis, seguindo as orientações de Israel e ainda não se sabe se o abrirá perto do começo do Ramadã.

Seguindo orientações da OMS

Na Cisjordânia, a Autoridade Palestina também está seguindo as orientações da Organização Mundial de Saúde. Todas as mesquitas e igrejas estão fechadas. Em Belém, a Igreja da Natividade – que marca o local onde, segundo a tradição, Jesus nasceu – foi fechada no começo de março depois que casos da Covid-19 começaram a pipocar na cidade, um dos maiores focos entre os palestinos.

As ruas estão vazias porque cidadãos não podem deixar a cidade e ninguém pode entrar. Na Faixa de Gaza, o grupo islâmico Hamas, que controla a região, também ordenou o fechamentos dos locais de oração.

Casos em Israel

Em Israel, cerca de 5 mil pessoas foram diagnosticadas com coronavírus desde o começo da crise de saúde, com 18 mortos e 70 em estado grave, até o momento.

Para controlar a contaminação, o governo israelense decretou regras severas de isolamento social, que incluem fechamento quase total do comércio (a não ser por supermercados e farmácias) e outras instituições, permissão para a população em geral se afastar das casas em um raio de apenas 100 metros (a não ser trabalhadores essenciais como médicos, policiais e outros), “aglomerações” públicas de até duas pessoas, proibição de convidados em casamentos e permissão de apenas 20 pessoas em enterros.

 

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