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Papa e grande imã realizam encontro histórico no Egito

Juntos, cristãos e muçulmanos receberam Francisco nesta sexta-feira (28) no Cairo. A comunidade católica no Egito representa cerca de 272 mil, ou seja menos de 0,5% da população, que é formada por uma maioria (90%) de muçulmanos sunitas. 

Papa Francisco encontrou o grande imã Ahmed al-Tayeb no Cairo nesta sexta-feira, 28 de abril de 2017.
Papa Francisco encontrou o grande imã Ahmed al-Tayeb no Cairo nesta sexta-feira, 28 de abril de 2017. Osservatore Romano/Handout via REUTERS
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Do Cairo, Richard Furst em colaboração especial para a RFI

A exclamação do papa Francisco "viva o Egito" veio minutos depois da oração semanal dos muçulmanos tomar conta do Cairo pelos auto-falantes nos minaretes das mesquitas e serviu de motivo de orgulho para um grupo de jovens egípicios que acompanhava o pontífice de perto durante os discursos.

"É um momento muito difícil para nós no Egito, como cristãos ou não", disse conta Kyrilos Ahmos, de 19 anos ainda emocionado com ao ver o papa de perto.

Jorge Bergoglio chegou ao Egito nesta sexta-feira (28), foi recebido pelo presidente egípcio, o militar Abdel-Fattah el-Sissi e viu um país repleto de cartazes pendurados nos postes e outdoors gigantes colocados pelo Governo egípcio com imagens da visita do pontífice à maior metrópole árabe do mundo.

O papa argentino participou da Conferência Internacional de Paz ao lado do grande imã, o xeque islâmico Ahmad el-Tayeb, da tradicional universidade de al-Azhar. A viagem acontece em meio a relações mais estreitas entre o Vaticano e al-Azhar, considerada a instituição teológica-acadêmica mais autoritária do Islã sunita com mais de mil anos.

O papa Francisco embarca para visita no Cairo marcando sua proximidade com a maior comunidade cristã no Oriente Médio.
O papa Francisco embarca para visita no Cairo marcando sua proximidade com a maior comunidade cristã no Oriente Médio. REUTERS/Tony Gentile

O papa também falou sobre a importância de fortalecer a cooperação entre três grupos de cristãos: cristãos coptas ortodoxos, os católicos coptas e os católicos romanos (formados de apenas 0,5% da população egípcia). A comunidade católica no Egito representa cerca de 272 mil pessoas, ou seja menos de 0,5% da população, que é formada por 90% de muçulmanos sunitas. O papa pediu aos líderes muçulmanos que digam não à violência em nome de Deus.

"O mundo lá fora"

"Não é apenas a visita de um papa, é a chegada de uma certa forma do mundo lá de fora até nós. Com o papa vêm a imprensa, os estrangeiros interessados em ver um Egito que até o papa pode visitar, mesmo com todas essas dificuldades na Segurança", pontua o morador de Alexandria, Mina Khalil, copta ortodoxo, de 25 anos. Ele vai afirma que vai acompanhar cada detalhe da visita pela internet e se diz ainda chocado com o que viu na sua cidade, na explosão de uma igreja em pleno Domingo de Ramos, há três semanas.

Cairo Copta é uma parte do Velho Cairo que engloba a Fortaleza de Babilônia, o Museu Copta, a Igreja Suspensa, a Igreja de São Jorge e muitas outras igrejas coptas assim como sítios históricos. Acredita-se que a Sagrada Família visitou esta área, estabelecendo-se no local da Igreja dos Santos Sérgio e Baco. O Cairo Copta foi uma fortaleza do cristianismo no Egito até a época islâmica, apesar da grande maioria das igrejas em Cairo Copta terem sido construídas após a conquista muçulmana do Egito.

O grande templo copta do Egito é a Catedral de São Marcos, casa do papa ortodoxo Teodoro II.

Imagem do papa Francisco durante uma missa, no Cairo, Egito abril 28, 2017.
Imagem do papa Francisco durante uma missa, no Cairo, Egito abril 28, 2017. REUTERS/Amr Abdallah Dalsh

"Eu estou muito feliz, é a segunda vez que eu vejo um papa no meu país. Muito mudou desde a visita de São João Paulo II, mas ainda estamos com quase todas as igrejas em esquema de máxima proteção devido ao medo de novos ataques", conta a RFI, Nagui Qamal, 53 anos, morador do Cairo.

"Em seus discursos, o papa nos disse mais de três vezes para que não deixemos o nosso país devido a religião. Então aqui estamos no Egito.Esta visita é curta, mas muito importante pra mim como egípcios e para os cristãos.A gente tem que lembrar que o nome copta quer dizer puramente egípcio, também somos deste país há muitos anos. É muito claro que o papa é nosso amigo, não os um pastor, mas alguém que reconhece o que vamos passar quando o papa embarcar para o Vaticano. É marcante pra mim ver que um papa vai visitar a igreja bombardeada em dezembro que desesperou a todos nós aqui no Egito. É o mesmo medo que temos de todos os tempos, de cinco anos até aqui os problemas estão maiores.

Fortalecer o Egito

Os moradores do Cairo, principalmente os que dependem do Turismo, esperam que a visita de Francisco repercuta bem pelo mundo.

"É uma mensagem poderosa que o papa vai trazer, porque ele está falando de paz, isso vai ser importante pra gente daqui e do mundo. Não temos tantos turistas como antes no Egito, a gente espera que a visita do papa também seja importante para alertar as pessoas e traga a mensagem de que é possivel ver as belezas do país", desabafa o muçulmano egípcio Ahmed Alleh Rojdy, que trabalha como guia turístico.

Em 1998, o diálogo católico-muçulmano foi iniciado entre especialistas do Vaticano e estudiosos muçulmanos da Universidade al-Azhar do Cairo, o principal centro de aprendizado islâmico para mais de 1 bilhão de muçulmanos sunitas em todo o mundo.

Em meados de março, o Vaticano confirmou que o papa faria a viagem após um convite do presidente Abdel-Fattah el-Sissi, dos bispos católicos do Egito e do papa copta ortodoxo Teodoro II. A agenda no sábado inclui uma missa no Estádio do Exército e almoço com bispos e clérigos. Antes de deixar o Cairo e retornar no fim da tarde para Roma, o papa tem encontro pastoral com a pequena comunidade do Egito. quem também acompanha o papa é o sacerdote copto católico Yoannis Lahzi Gaid, secretaria pessoal do Papa.

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