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Sul-coreanas em greve “de nascimentos”: péssimas condições de trabalho para as mães

Na Coreia do Sul, as mulheres estão em "greve de nascimentos" e um dos desafios do Ministério dos Assuntos Sociais é tentar aumentar a taxa de fertilidade do país, a menor do mundo, segundo o Banco Mundial.

Estudos mostram que em famílias sul-coreanas onde ambos os pais trabalham, os homens gastam 40 minutos no trabalho doméstico, e as mulheres, três horas.
Estudos mostram que em famílias sul-coreanas onde ambos os pais trabalham, os homens gastam 40 minutos no trabalho doméstico, e as mulheres, três horas. Reprodução NDTV
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A recente morte de uma funcionária desse mesmo Ministério reavivou o debate sobre o esgotamento das mães que trabalham em uma sociedade onde o trabalho e os homens são reis. A funcionária de 34 anos, mãe de três filhos, havia passado em um dos concursos mais difíceis para um dos mais altos cargos executivos no serviço público sul-coreano.

De retorno da licença-maternidade, ela imediatamente retomou jornadas de 12 horas diárias. Ela começou a trabalhar em um sábado, voltou no domingo às 5h da manhã, e imediatamente morreu de um ataque cardíaco, de acordo com os seus colegas.

A taxa de fecundidade, em declínio há anos, é de 1,2 filhos por mulher, a mais baixa do mundo, de acordo com os últimos dados do Banco Mundial. A média mundial é de 2,4 filhos por mulher.

"Greve de nascimentos"

A identidade da alta funcionária que morreu por esgotamento não foi revelada. Mas Kim Yu-Mi, uma engenheira de 37 anos e mãe de duas meninas, "entende perfeitamente". "Esta é a realidade de todas as mães que trabalham na Coreia do Sul", disse ela. Kim Yu-Mi é uma das raras sul-coreanas que tiveram direito licença-maternidade de um ano, estabelecida pelas autoridades.

Desde 2006, o governo investiu mais de 100 mil bilhões de won (€ 83 bilhões) em centenas de programas para incentivar as pessoas a casar jovens e a terem famílias maiores. Sem sucesso, por enquanto. Kim Yu-Mi afirma ter sido "muita sorte" de ter encontrado um emprego. "Pelo menos o meu empregador não me colocou para fora quando eu pedi uma licença-maternidade. Costuma-se dizer aos empregados como eu: “Vá para casa e nunca mais volte".

Depois da primeira licença-maternidade, no entanto, ela muitas vezes chegou a trabalhar até até 21h direto. "Brincar com o meu filho, jantar com ele, tudo isso era um sonho inimaginável”, conta ela. De acordo com estatísticas oficiais, os sul-coreanos trabalham uma média de 2,113 horas por ano, o segundo lugar entre os países da OCDE, depois do México. A média mundial é de 1766 horas.

Estudos mostram que a realidade pode ser ainda pior, como no Japão, onde a imprensa local informa regularmente sobre a "morte por excesso de trabalho". Enquanto isso, os mesmos estudos mostram que em famílias onde ambos os pais trabalham, os homens gastam 40 minutos no trabalho doméstico e as mulheres de três horas.

A cultura corporativa hipercompetitiva, juntamente com uma sociedade patriarcal que acredita que as mulheres são as responsáveis pela família, explica o fato dos sul-coreanos estarem se afastando mais e mais do casamento, afirmou Lee Na-Young, professora de sociologia da Universidade Chung-Ang, da Universidade de Seul.

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