Príncipe hesita em assumir reino da Tailândia, um dos mais ricos do mundo
Enquanto chora a morte do rei Bhumibol Adulyadej, ocorrida na quinta-feira (13), a Tailândia também aguarda com expectativa para saber quem vai se sentar no trono. A hesitação inesperada do príncipe Vajiralongkorn, de 63 anos, conhecido pelas excentricidades, colocou o país em um cenário de incertezas.
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A morte do rei tailandês não foi exatamente uma surpresa: aos 88 anos, ele exercia o mais longo reinado do planeta e estava com a saúde frágil. O que ninguém esperava era que o príncipe, que vive na Alemanha, pediria “alguns dias” para assumir o trono, um dos mais ricos do mundo.
Na Bavária, Vajiralongkorn leva uma vida pouco preocupada com a etiqueta real e, desde que foi designado como herdeiro, em 1972, é conhecido por uma certa rebeldia. Ele nomeou o seu cão poodle Fufu como major-general da Aeronáutica e já passou por três divórcios. Atualmente, o herdeiro vive com uma comissária de bordo da Thai Airways – e abandonou, pelo menos por enquanto, a ideia de um quarto matrimônio.
Em julho, uma foto publicada pela revista alemã Bild causou polêmica entre os súditos: o príncipe aparecia com uma calça jeans bem abaixo da cintura, com a barriga e suas tatuagens à mostra, em pleno aeroporto de Munique.
Incertezas sobre o futuro
Oficialmente, após a morte do pai, Vajiralongkorn declarou que desejava observar “alguns dias a mais” de luto antes de colocar a coroa. Mas a verdade é que ninguém sabe exatamente o que isso quer dizer, como explica a pesquisadora Sophie Boisseau de Rocher, especialista no sudeste asiático do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), de Paris.
“A sucessão não está garantida. Em 1994, o rei também nomeou uma de suas filhas como princesa herdeira - e não está claro quem vai assumir”, disse Boisseau, em entrevista à RFI. “O príncipe leva uma vida, digamos, irresponsável. Ele não tomou consciência da função política, simbólica e religiosa do trono.”
A pesquisadora observa que essa hesitação pode ser aproveitada pelos setores que não querem que Vajiralongkorn assuma: há uma luta implícita entre o conselho do rei, que decide a sucessão, e o atual governo. Essa apreensão ocorre em um momento em que o país é governado por uma junta militar, no poder desde o golpe militar de 2014.
A apreensão da população – constatada pela correspondente da RFI em Bangcoc, Arnaud Dubus – se justifica porque, na história contemporânea tailandesa, jamais o trono ficou vago durante mais de algumas horas. A exceção foi quando o herdeiro era menor de idade. Na ausência do rei, quem assume temporariamente é o presidente do conselho real, Prem Tinsulanonda.
Luto de um ano tem imprensa em preto e branco
Esse é apenas mais um capítulo de um episódio que tem fascinado o Ocidente pelos detalhes curiosos. O luto pela morte do rei vai durar um ano – e neste período, os tailandeses não poderão festejar em público.
Pela tradição, até a imprensa é obrigada a entrar em luto – os jornais e revistas só podem circular em preto e branco durante um mês e, mais surpreendente ainda, as televisões também não devem ir ao ar em cores, inclusive as emissoras internacionais. Sendo assim, a britânica BBC e a americana CNN passaram a transmitir em preto e branco.
Desde a morte do soberano, os tailandeses são vistos aos prantos nas ruas, a maioria vestindo preto. Uns rezam, outros acendem incensos diante da imagem do rei, onipresente em cartazes e estátuas em todo o país. O cortejo funerário levando o corpo do rei para o templo do buda da Esmeralda, o maior do país, reuniu milhares de pessoas nesta sexta-feira (14).
Uma série de cerimônias fúnebres vão ocorrer por vários meses. A primeira delas foi o ritual budista da lavagem do corpo do rei pelo príncipe herdeiro, feita nesta manhã por Vajiralongkorn.
“Havia um laço visceral entre o rei e o seu povo e hoje os tailandeses estão perdidos. Quase 90% da população só teve Bhumibol como rei”, frisa Boisseau. “Mas, nas ruas, os tailandeses não vão reclamar ou exigir nenhuma definição sobre o futuro, porque isso seria visto como um sinal de desrespeito em relação ao monarca.”
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