Cessar-fogo é respeitado e Síria amanhece sob relativa calma

As principais cidades sírias amanheceram em silêncio neste sábado (27), sem explosões de bombas ou colunas de fumaça, depois da entrada em vigor do cessar-fogo entre o regime e a rebelião ontem à noite. A trégua proposta pelos Estados Unidos e a Rússia começou à 0h local, 19 horas de sexta-feira (26) em Brasília. Mas violências têm prosseguimento em regiões ocupadas pelos jihadistas.

Em algumas regiões da Síria, a calma foi observada na manhã deste sábado (27). REUTERS/Rodi Said

Com informações do correspondente da RFI em Beirute, Paul Khalifeh

Essa é a primeira vez, desde que a guerra começou na Síria, há cinco anos, que um cessar-fogo é respeitado. Até o início desta tarde no local, a calma reinava nas cidades que mais registraram violências entre os rebeldes e as forças sírias nos últimos tempos, como Homs e Alepo.

Na capital síria, habitantes não passavam uma noite calma há vários anos. A artilharia pesada do exército e os lança-mísseis do Monte Kassioun, na capital, permaneceram silenciosos durante horas.

No final da tarde, a Sana, agência oficial do governo sírio, informou que vários obuses caíram em Damasco. Eles teriam sido projetados por "grupos terroristas" , indicou u uma fonte militar, sem mencionar vítimas.

Uma hora antes do início da trégua, o Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução que endossou, por unanimidade, a suspensão das hostilidades na Síria, fazendo um apelo para que todas as partes envolvidas respeitem a decisão.

Aproveitando da dinâmica que o cessar-fogo pode criar, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, anunciou ontem sua intenção de convocar uma nova rodada de negociações de paz entre o governo sírio e a oposição no dia 7 de março.

Jihadistas continuam a atacar

Nas regiões tomadas pelos grupos jihadistas Estado Islâmico e Al-Nosra, excluídos do cessar-fogo, combates entre o exército sírio e os extremistas continuam sendo registrados. Na província de Latáquia, cerca de 40 soldados do regime foram mortos pelos extremistas, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

No sul de Alepo, região noroeste, violentos combates foram registrados entre integrantes do grupo Estado Islâmico e soldados sírios. Confrontos também foram registrados na cidade de Tall Abyad, no norte.

Segundo especialistas, a trégua deve acontecer em apenas 10% do território da Síria, já que os jihadistas ocupam cerca da metade do país. A previsão é que as violências sejam interrompidas em Damasco e seus arredores, especialmente na região de Ghouta Oriental, principal bastião dos rebeldes.

O governo sírio não considera que a cidade de Daraya, no sul da capital, faça parte do cessar-fogo, alegando que ela é ocupada pela Frente Al-Nosra. Mas a oposição desmente a informação e diz que qualquer ataque das forças do regime à localidade será considerada como uma violação da trégua.

Regiões que fazem parte do cessar-fogo

O norte da província de Homs faz parte da suspensão das hostilidades. As cidades de Rastane, Talbissé e Houla, ocupadas pelos opositores do regime, devem permanecer sob a calma. Mas a zona ao leste de Homs, onde está a cidade antiga de Palmira, não foi incluída no acordo porque é dominada pelo grupo Estado Islâmico.

Combates também devem ser registrados na província de Idleb, na fronteira com a Turquia, ocupada pela Frente Al-Nosra, bem como a região de Latáquia. Na província de Hama, um carro-bomba explodiu nesta manhã e matou duas pessoas. Mas na cidade de Latamné, dominada pela rebelião, espera-se que não haja combates.

Embora a cidade Alepo esteja sob calma, seus arredores devem ser palco de violências, especialmente a região ao leste e ao norte da localidade, controlada pelo grupo Estado Islâmico. As cidades de Al-Bab, Hafer et Manbij são objetivos primordiais do exército sírio.

Na fronteira com a Jordânia, a maior parte da província de Daraa, deve cumprir o cessar-fogo, com excessão de algumas localidades. Já em Quneitra, nas colinas do Golã, ocupadas por Israel, a Frente al-Nosra está a postos e as violências devem se perpetuar.