Acessar o conteúdo principal
Líbia/Conflito

Mercenários africanos de Kadafi recebiam em média 500 euros por mês

Recrutados pelo ditador Muammar Kadafi para lutar contra os rebeldes líbios, africanos vindos de outros países recebiam um salário médio mensal de 500 euros (cerca de 1.100 reais) e a promessa de ganhar uma casa e um carro. Jornalistas da RFI enviados especiais à Líbia entrevistaram mercenários que conseguiram escapar da guerra.

Muammar Kadafi recrutou mercenários em países vizinhos, na África negra.
Muammar Kadafi recrutou mercenários em países vizinhos, na África negra. REUTERS/Anis Mili
Publicidade

Eram necessários apenas um documento de identidade e duas fotos para se inscrever no exército do ditador líbio Muammar Kadafi. Os mercenários recrutados em países da África subsaariana desde o início do conflito, há seis meses, chegavam ao imenso complexo presidencial de Bab al-Azizia, no centro da capital Trípoli, recebiam uma arma e um passaporte e dali partiam para uma semana de treinamentos militares. O relato é do jornalista Guillaume Thibault, correspondente da Rádio França Internacional em Trípoli.

Segundo ele, muitos desses africanos morreram em combate ao serem utilizados como escudos humanos para proteger as forças de segurança do ditador. Os que ainda estão na frente de batalha vivem escondidos e aqueles que foram presos aguardam a criação de um novo sistema judiciário na Líbia para serem julgados.

Quem conseguiu escapar da guerra não guarda boas lembranças. Um ex-mercenário de nacionalidade nigeriana que preferiu não se identificar contou a Guillaume Thibault que não tinha trabalho em seu país e aceitou ir para a Líbia em busca de “uma vida melhor”.

“Eu fiz isso para ter algum dinheiro e poder sobreviver, não para fazer mal. Eu me arrependo e gostaria que todo esse sofrimento acabasse. Eu consegui fugir de Misrata e acho que meus colegas estão todos mortos. Agora eu aceito a democracia”, disse ele ao jornalista.

Segundo outros depoimentos recolhidos pelo correspondente da RFI, o maior chamariz para os mercenários era a oferta de um salário mensal de 500 euros em média, além de uma casa e um carro.

"Eram pelo menos 40 mortos por dia", diz ex-mercenário

Outro repórter da RFI, Raliou Ahmed, entrevistou três ex-mercenários de Kadafi, na cidade de Agadez, no Níger, onde mora o povo tuaregue. Eles combateram os rebeldes líbios nas cidades de Benghazi, Brega e Misrata e, em seguida, fugiram para escapar do massacre.

Um deles foi ferido no peito e decidiu voltar casa passando pela Argélia e pelo Mali. “Eu tinha uma metralhadora, assim como meus colegas. Durante as batalhas, não tínhamos tempo de contar os mortos. Eram pelo menos 40 por dia, sem contar os feridos”, afirmou o ex-combatente.

Ele explicou que foi recrutado sem saber direito o que enfrentaria na Líbia e em que condições: “Quando queríamos desistir, as forças leais a Kadafi se viravam contra nós.”

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.