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Líderes podem se curvar à estratégia de Putin para Síria

O pedido de Vladimir Putin de apoio ao regime sírio na luta contra os jihadistas parece ter causado uma situação embaraçosa aos líderes mundiais, segundo a imprensa francesa desta terça-feira (29). O apelo para a formação de uma ampla coalizão militar antiterrorista sugere que as grandes potências não têm outra alternativa contra o grupo Estado Islâmico, senão negociar com o presidente Bashar Al-Assad.

Barack Obama estende a mão para o russo Vladimir Putin durante encontro à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York 28 de setembro de 2015.
Barack Obama estende a mão para o russo Vladimir Putin durante encontro à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York 28 de setembro de 2015. REUTERS/Kevin Lamarque
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Em sua manchete, Le Figaro afirma que os presidentes dos Estados Unidos e da França dizem "estar prontos" para trabalhar com a Rússia, mas o presidente sírio continua sendo o ponto de discórdia. Barack Obama denunciou na segunda-feira (28) na tribuna da ONU o apoio de Moscou ao "tirano" Bashar al-Assad.

Por seu lado, o francês François Hollande insiste que o presidente sírio deve deixar o poder. Em editorial, Le Figaro esclarece que a visão de Putin é estratégica. Não se trata apenas de apoiar Bashar Al-Assad por ser um aliado russo no Oriente Médio ou pela inclinação de Moscou por regimes autoritários.

Segundo Le Figaro, Putin se baseia nas experiências caóticas do Iraque e da Líbia depois da queda de seus ditadores. "Eles são repugnantes, mas infelizmente úteis", diz o jornal. Não é Bashar Al-Assad que ameaça o mundo, e sim os extremistas do grupo Estado Islâmico. Essa lógica do presidente russo deve prevalecer.

Le Figaro não vê como Obama poderá se recusar a estender a mão a uma coalizão de luta contra fanáticos extremistas. François Hollande deveria constatar que o grande ausente do debate é o presidente sírio e o destino deste homem tão ausente dos debates deve ser selado pela via política.

Putin pressiona por escolha

Para Aujourd'hui en France, o momento é de escolher: Putin ou o grupo Estado Islâmico? Negociar com Bashar Al-Assad ou eliminar os jihadistas? A posição de Putin é clara, mas na ONU ficou evidente a divisão de outros líderes sobre o assunto, diz o jornal.

O presidente russo compara os ultrarradicais aos nazistas e afirma que é um erro não ajudar o regime sírio a eliminá-los. "Ele é pragmático e está determinado a apoiar Assad", diz o diário. Diante da escolha "impossível", Aujourd'hui en France constatou que o aniversário de 70 anos da ONU teve um "gosto amargo".

Putin de volta ao cenário político mundial

Para Libération, Vladimir Putin se aproveita da confusão entre os países ocidentais para se posicionar como um ator indispensável na solução deste conflito. "A Rússia distribui os papéis na Síria", afirma o título de uma extensa reportagem sobre os protagonistas deste grande quebra-cabeça político.

Para o diário francês, a Síria permitiu a Putin sair de seu isolamento forçado, há mais de um ano, devido a interferência de Moscou no leste da Ucrânia. "Ao reforçar sua presença militar na Síria, com o envio de homens e armamento ao regime de Al-Assad, Moscou deixou claro que pretende ocupar um lugar central nas discussões para o fim do conflito", ressalta Libération.

Em editorial, Libé constata que o tirano Assad permitiu o surgimento de uma tirania ainda pior que a sua, deixando em segundo plano as atrocidades cometidas por seu regime. O que é mais urgente, defende o jornal, é a busca por uma situação de paz na Síria, que permita reunir as forças locais para lutar contra os jihadistas do grupo Estado Islâmico.

Mas é preciso ter em mente, pondera Libération, que manter Assad no poder, como sugere a "realpolitik", é "um insulto para todas as suas vítimas e uma perigosa recompensa para um cinismo sem limites".

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