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Planeta Verde

Conferência de Paris não fará o que Copenhague não fez, diz climatologista

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Após duas semanas de intensas negociações no Peru, a 20ª Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP-20) se encerrou com um “rascunho zero” do novo acordo climático mundial, que vai substituir o Protocolo de Kyoto a partir de 2020. O texto definitivo deve ser adotado na conferência de Paris, em 2015 - mas a falta de propostas ambiciosas dos países em Lima reduz as esperanças de um acordo à altura das necessidades para conter o aquecimento global.

O diretor do Departamento de Meio Ambiente do Itamaraty, Raphael Azeredo, e o embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho, negociador-chefe do Brasil em Lima, falam sobre a Conferência de Mudança no Clima da ONU.
O diretor do Departamento de Meio Ambiente do Itamaraty, Raphael Azeredo, e o embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho, negociador-chefe do Brasil em Lima, falam sobre a Conferência de Mudança no Clima da ONU. Marcelo Camargo/Agência Brasil
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A avaliação é do climatologista Carlos Nobre, secretário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e membro do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês). Nobre não se coloca nem no grupo dos otimistas, nem dos pessimistas sobre o que esperar da COP de Paris.

“Estamos todos com os pés no chão, muito mais realistas. A maioria dos cientistas climáticos não espera que Paris vai fazer o que Copenhague não fez, ou seja, um acordo maravilhoso, com todos os países apresentando pleitos e metas que nos coloque em uma trajetória sustentável, e as grandes economias emergentes propondo metas de redução de emissões bastante ambiciosas”, explica. “Nós achamos que esse cenário desejável, urgente e necessário é menos provável. O que teremos será um ponto intermediário.”

Em Lima, os países em desenvolvimento conseguiram manter na mesa de discussões o princípio de “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” – o que significa que aqueles que se desenvolveram antes poluem há mais tempo, portanto devem arcar com uma parte superior da chamada “conta do clima”. Os ricos também devem assumir o financiamento e a capacitação para os mais pobres conseguirem cumprir metas de emissões.

Avanços lentos

“Sempre há algum progresso. Mas em um fórum multilateral em que se exige aprovações por unanimidade, os progressos sempre são pequenos, apesar de positivos. E eles nunca são progressos que permitam enxergar um horizonte de menos risco climático no futuro”, lamenta Nobre. “É preciso registrar que foi um pequeno avanço todos os países concordarem que a responsabilidade é global. E a questão ética de que as responsabilidades são diferenciadas ainda é reconhecida.”

No Peru, os negociadores de 196 países não apresentaram propostas concretas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e limitar o aumento da temperatura global a 2°C – para que isso ocorra, seria preciso cortar pelo menos 40% do CO2 até 2050. Os compromissos dos países serão anunciados nas próximas reuniões preparatórias, em Genebra e em Bonn. Os planos de mitigação também deverão ser apresentados ao longo do ano.

A partir dessas negociações, será traçado o acordo de Paris, a ser fechado na Cúpula do Clima de dezembro do ano que vem. “A União Europeia já fez uma sinalização muito importante, de redução de 40% das emissões até 2030, em relação aos índices de 1990. Os Estados Unidos ainda estão a dever, apesar do compromisso anunciado em acordo com a China, que precisa ser aprovado pelo Congresso – o que não será um processo fácil. E no mundo em desenvolvimento, o país que está liderando é o Brasil, por causa da redução das emissões que vem realizando”, observa.

Carlos Nobre ressalta que, se as propostas não evoluírem, o mundo corre o “sério risco” de sofrer um aumento de até 3,5°C das temperaturas até 2100.
 

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