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Reportagem

Redução de tensões sociais na América Latina passa pelo aumento da produtividade, diz OCDE

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Em um evento organizado nesta terça-feira (18) na Casa da América Latina, em Paris, para debater os principais pontos levantados na última edição do relatório "Perspectivas Econômicas da América Latina", os especialistas convidados pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) enfatizaram a necessidade de responder às demandas das novas classes médias latino-americanas com o melhoramento da infraestrutura e aumento da produtividade.

Obras de expansão do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília; o déficit em infraestrutura de transporte é um dos maiores entraves ao crescimento do comércio na América Latina.
Obras de expansão do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília; o déficit em infraestrutura de transporte é um dos maiores entraves ao crescimento do comércio na América Latina. José Cruz/ABr
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O documento elaborado pelo Centro de Desenvolvimento da OCDE alerta que após uma década de crescimento, a América Latina passa por um período de turbulência. Isso se deve à queda nas exportações, aos preços moderados das matérias-primas e à volatilidade dos mercados financeiros.

O crescimento era estimulado pelo aumento dos preços das matérias-primas e por uma grande demanda da China e da Índia, e não foi necessariamente acompanhado por um aumento da produtividade, necessário para garantir um desenvolvimento sustentável.

O relatório "Perspectivas Econômicas da América Latina" aponta que a inovação tecnológica e a diversificação econômica são essenciais para a retomada da produtividade e do crescimento na região, e enfatiza a necessidade de melhorar a logística, sobretudo o déficit de infraestrutura de transporte.

Transporte

Segundo a entidade, um investimento anual de 5,2% do PIB da região em projetos de infraestrutura permitiria que a América Latina eliminasse seu atraso em relação a outras regiões emergentes e recuperasse praticamente 2 pontos percentuais de PIB por ano. 

Cientes de que os investimentos em infraestrutura levam muito tempo, os analistas sugerem medidas que podem ser implementadas imediatamente para dinamizar a logística e estimular o comércio, como a diminuição das taxas alfandegárias, a agilização dos procedimentos nas fronteiras e o reforço da concorrência no setor.

"Uma parte muito importante da produção latino-americana é de commodities, que têm baixo valor agregado por quilo. E como o custo do transporte é calculado de acordo com os quilos transportados, ele representa uma porcentagem importante do preço dos produtos. Se o custo do transporte não for reduzido, os preços permanecem altos demais", explica Mario Pezzini, diretor do Centro de Desenvolvimento da OCDE. E isso, segundo ele, corre o risco de anular a vantagem concedida pela proximidade geográfica com os mercados do hemisfério norte.

Ele apontou que com o fim do período de crescimento da última década, a América Latina tem que enfrentar esses e outros desafios estruturais para garantir a competitividade diante das dinâmicas economias do sudeste da Ásia.

Classe média

Um dos participantes do debate, João Taborda, diretor da Embraer para a Europa, a África e o Oriente Médio, falou sobre os temas que mais chamaram a sua atenção no documento: "Um ponto foi a discussão sobre as alternativas à dependência do mercado chinês, e outro foi o desafio colocado pela expansão da classe média e a necessidade de subir na cadeia de valor e produzir bens mais evoluídos que matérias primas."

Mario Pezzini, da OCDE, nota que a América Latina enfrenta tensões sociais decorrentes da rápida ascensão de uma parcela considerável da população à classe média. Isso provocou uma maior demanda por serviços públicos eficientes e de qualidade que os Estados não têm como atender de imediato.

"Nesse contexto, o Brasil é um caso particular porque é um dos raros países no mundo, sem distinção entre nações desenvolvidas e nações em desenvolvimento, que foi capaz de reduzir de maneira significativa a desigualdade e a miséria. Esse resultado não se explica somente pelo Bolsa Família e outras políticas do gênero. Ele se deve também a políticas de garantia de um salário mínimo e de criação de empregos", analisa Pezzini.

"Então, com esses grandes esforços, o Brasil pode ter, de certa maneira, aumentado as expectativas da sua população ou o temor de um classe média que já existia e que agora vê a ascensão de outros indivíduos e o consequente congestionamento dos serviços. Esse tipo de problema só pode ser enfrentado com soluções para incrementar a produtividade e fazer com que o aumento dos salários seja acompanhado por uma produção de maior valor agregado", conclui ele.

O relatório "Perspectivas Econômicas da América Latina" foi lançado em outubro durante a Cúpula Iberoamericana no Panamá. Essa é a sétima edição do documento, elaborado pelo Centro de Desenvolvimento da OCDE em conjunto com a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe e o Banco de Desenvolvimento da América Latina.

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