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Reportagem

Viagem de Hollande aos EUA é a primeira visita de Estado em 18 anos

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A última vez foi em 1996, quando Jacques Chirac ocupava o Palácio do Eliseu. Desde então, nunca mais um presidente francês tinha sido convidado para uma visita de Estado aos Estados Unidos. Essa é uma das razões pelas quais a viagem de François Hollande ao país, iniciada hoje, marca um momento importante nas relações entre os dois aliados.

François Hollande e Barak Obama já se encontraram diversas vezes em eventos, mas esta é a primeira visita oficial de um ao outro.
François Hollande e Barak Obama já se encontraram diversas vezes em eventos, mas esta é a primeira visita oficial de um ao outro. http://blogs.telegraph.co.uk
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As diferenças culturais fazem das provocações entre franceses e americanos um hábito dos dois lados do oceano. Também no campo diplomático, os dois países mantêm um diálogo marcado por altos e baixos. Se a distância se instaurou depois da oposição francesa à invasão americana ao Iraque, Paris e Washington voltaram a convergir sobre as guerras na Líbia e na Síria.

Thomas Snegaroff, especialista nas relações entre França e Estados Unidos no Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas de Paris, confirma que, desde que Hollande assumiu a presidência, em 2012, a diplomacia franco-americana vive um bom momento.

“De certa forma, a França realiza um dos objetivos da política estrangeira da era Obama, o famoso ‘leading from behind’ (liderar por trás), ou seja, de dirigir as operações mundiais mas sem estar na linha de frente. Na República Centroafricana ou no Mali, os franceses estão fazendo o trabalho que os americanos esperavam, com um apoio logístico americano para as operações”, observa. “Isso permite aos Estados Unidos não terem que assumir toda a segurança de todo o mundo, como acontecia antes.”

Este aspecto foi evidenciado em um artigo assinado pelos dois líderes e publicado hoje na imprensa francesa e americana. Eles destacam que “é preciso que um maior número de países tomem iniciativas e dividam o peso e o preço da liderança”.

O cientista político Gama Perruci, professor do Marietta College, avalia que a visita de Estado de Hollande coloca em evidência um segundo mandato de Obama com mais espaço para a política internacional. “Durante o primeiro mandato dos presidentes, eles gastam muita energia política nas prioridades domésticas. Ao chegar ao segundo mandato, eles já se desgastaram muito politicamente”, explica. “É comum o presidente se voltar, então, para a política externa. Nessa área ele terá mais autonomia política e poderá exercer a função de chefe de Estado.”

Negociações comerciais

Também no aspecto econômico as divergências estão menos marcantes do que já foram no passado. Snegaroff destaca que o governo socialista poderia colocar empecilhos às negociações sobre um tratado de livre-comércio entre a União Europeia e os Estados Unidos, porém Hollande tem se mostrado flexível sobre a questão. O francês vai inclusive prestigiar as start-ups francesas instaladas no Sillicon Valley, na Califórnia.

“Ele quer mostrar que é um presidente aberto, moderno e que olha para o futuro, e que precisa retomar o crescimento na França. Portanto esse é um verdadeiro sinal. Permite a ele reforçar a idéia de que ele é o líder não somente de um país com um peso enorme do serviço público, com muitos funcionários, mas sim de um país que também busca oportunidades, inovação e empreendedorismo”, analisa.

Além disso, a viagem acontece poucas semanas depois de o francês anunciar um plano para abrir mais empregos no país, baseado na redução dos impostos sobre a mão de obra para as empresas. A medida surpreendeu a esquerda e a oposição, ao tocar em um tema tabu no sistema trabalhista francês. 

A viagem ainda fará o francês se tornar mais conhecido nos Estados Unidos – a maioria dos americanos só passou a saber quem era o sucessor de Nicolas Sarkozy depois do escândalo pessoal que resultou na separação de Hollande da primeira-dama, Valérie Trierweiler. “Ele não é tão conhecido quanto o presidente russo Vladimir Putin ou o premiê britânico David Cameron. Acho que, de certa forma, essa visita vai ajudar neste sentido”, atesta Perruci.

Ausência de primeira-dama e escutas

Hollande será o primeiro presidente francês a viajar solteiro para uma visita de Estado aos Estados Unidos. Apesar dos imprevistos de última hora, resolvidos pelo protocolo da Casa Branca, a situação não deve prejudicar a agenda dos líderes, garantem os analistas ouvidos pela reportagem.

Em uma agenda tão convergente, um fator poderia causar mal-estar: o escândalo das escutas ilegais realizadas pela NSA americana. Mas na opinião dos especialistas, Hollande vai preferir dar pouca ou nenhuma atenção a este assunto.

“Eu acho que François Hollande já desativou um pouco esta bomba para poder se concentrar nos assuntos mais importantes, em termos de alianças e de objetivos econômicos e geopolíticos comuns. Talvez o Hollande pergunte, mas eu não imagino isso virando um ponto de tensão entre os dois países, afinal hoje para eles é muito mais vantajoso trabalharem lado a lado do que em oposição, inclusive sobre essa questão das escutas telefônicas”, garante Snegaroff.

A visita do presidente francês aos Estados Unidos se encerra na quarta-feira.
 

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