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Imprensa / Terrorismo / Distúrbios mentais

Nota confidencial da polícia estabelece vínculo entre terrorismo e distúrbio psicológico, diz jornal francês

A cada agressão contra pessoas aleatórias, há sempre uma pergunta que surge. Onde fica a fronteira entre desequilíbrio psicológico e ato terrorista. Após mais um ataque com arma branca em Paris, e a perseguição de um homem que aos gritos de “Allah Akbar” invadiu, com seu carro, a pista do aeroporto de Lyon, o jornal Le Figaro desta terça-feira (11) revelou um documento confidencial da Unidade de Coordenação de Luta Antiterrorista (UCLAT) que aborda o assunto.

O jornal Le Figaro revela documento da Polícia antiterrorista francesa que estabelece um vínculo entre ataques e distúrbios psicológicos.
O jornal Le Figaro revela documento da Polícia antiterrorista francesa que estabelece um vínculo entre ataques e distúrbios psicológicos. Fotomontagem com artigo do jornal Le Figaro
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“Os terroristas são pessoas loucas? ”, pergunta o Le Figaro. A pergunta está no centro de um documento confidencial da UCLAT ao qual diário francês teve acesso. Nele é possível ler que as autoridades detectaram, após analisar os atos cometidos, planejados ou impedidos desde janeiro de 2015, um alto número de indivíduos apresentando problemas psicológicos. “Essa evolução mostra que o fenômeno de passagem ao ato de pessoas com alguma instabilidade psicológica é uma tendência cada vez mais confirmada”, afirmam os especialistas da polícia.

O documento é de novembro de 2017, portanto não está relacionado com os recentes acontecimentos em Lyon e em Paris, mas o Le Figaro destaca como o conteúdo é revelador. “Apresentando uma forte receptividade à propaganda bem produzida pelo grupo Estado Islâmico e uma extrema sensibilidade a um “efeito Werther” - termo designado pelo sociólogo David Phillips em 1974 para definir o efeito imitativo do comportamento suicida – mantido por uma forte midiatização, essa população psicologicamente perturbada constitui hoje um vetor principal da ameaça endógena na França”, diz a nota.

Para as autoridades, segredo médico precisa ser quebrado

Desde 2012, quando um militar sofreu uma facada de um indivíduo apresentando uma “personalidade de estrutura psicótica”, a UCLAT observou que esse “tipo de ato se tornou recorrente a ponto do ministro do Interior estimar em 30% o número de casos patológicos no último mês de agosto”. “Já a maioria dos psiquiatras franceses classificou de exagero o fato de vincular terrorismo e psiquiatria”, diz a nota das autoridades citando o psicanalista Fethi Benslama, para quem “segundo estudos internacionais, entre 4% e 7% dos radicalizados violentos apresentariam distúrbios psíquicos”.

O jornal Le Figaro ressalta que mesmo assim, a UCLAT insiste na necessidade de uma comunicação maior entre as autoridades e os profissionais da área da saúde, com compartilhamento de informações sobre suspeitos. “Há hoje uma colaboração delicada e nem sempre bem sucedida por parte de profissionais de saúde mental que preferem manter o sigilo médico-paciente, o que é um grande problema para a polícia e um dilema entre os médicos”, diz o documento. No entanto, as autoridades lembram que é crime “se abster voluntariamente” de evitar um crime que possa colocar em perigo a vida de outras pessoas.

Ainda assim, a UCLAT afirma que houve uma melhora na comunicação entre a polícia e os médicos. Segundo o Le Figaro, o documento conclui que “o crime político-religioso não possui o monopólio da ‘loucura’. “A dimensão psicológica da passagem ao ato se manifesta tanto em terroristas quanto em criminosos de direito comum, com perfis parecidos nos dois casos. O monitoramento de indivíduos radicalizados conhecidos por possuir uma fragilidade psicológica não deixa de ser fundamental para a segurança do país”, finaliza a nota.

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