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Serviços de inteligência voltam a ser questionados após novo ataque na França

Um dia após um homem fichado por apologia ao terrorismo matar a mãe e a irmã em Trappes, no subúrbio de Paris, o debate sobre a “ficha S”, cadastro dos serviços de inteligência franceses com dados de pessoas potencialmente perigosas, volta a ser destaque na imprensa do país nesta sexta-feira (24).

Polícia francesa bloqueia rua de Trappes, no subúrbio de Paris, após um homem armado de uma faca matar duas pessoas e ferir outra, 23 de agosto de 2018
Polícia francesa bloqueia rua de Trappes, no subúrbio de Paris, após um homem armado de uma faca matar duas pessoas e ferir outra, 23 de agosto de 2018 REUTERS/Philippe Wojazer
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Para o jornal Le Figaro, o crime desta quinta-feira (23) foi cometido, “mais uma vez, por um radical islâmico inscrito no cadastro da polícia”. Segundo o diário conservador, o caso do “assassino de Trappes” mostra como as autoridades sofrem para conter esse tipo de ameaça que mistura, ao mesmo tempo, direito comum, problemas psiquiátricos e influência dos discursos de ódio vindos do grupo Estado Islâmico (EI). “Se esse não fosse o caso, este motorista de aplicativos, de 36 anos, não teria gritado “Allah Akbar” ao cometer o impensável”, escreve o jornalista Jean-Marc Leclerc.

O assassino, Kamel Salhi, estava inscrito no arquivo de Processamento de Antecedentes Judiciais (PAJ) por “apologia direta e pública de um ato de terrorismo”, ou seja, ele era um ficha S. Assim como Radouane Lakdim, que em março matou quatro pessoas e feriu outras 15 no sul da França. O cadastro de Salhi é de nível “S3-S4” e indica “um comportamento instável” com possibilidade de radicalização.

Muitos políticos criticam a “impotência” do governo. Laurent Wauquiez, líder do partido de direita Os Republicanos, chamou o presidente Emmanuel Macron de “ingênuo culpado” e pediu a volta do “estado de emergência”, a expulsão dos estrangeiros “ficha S” ou a detenção provisória deles.

O nacionalista Nicolas Dupont-Aignan, logo após o ataque, disparou pelo Twitter: “Mais um ‘ficha S’ conhecido por apologia ao terrorismo! Quantos mortos serão necessários para que Macron faça algo? Desde 2015 não parei de pedir a expulsão dos estrangeiros fichados e a prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica para os ‘ficha S’ franceses”.

Marine Le Pen, da extrema-direita, também fustigou o governo: “ a reivindicação desse ato bárbaro pelo EI parece não impressionar o governo, que continua minimizando o terrorismo islâmico e não toma as medidas necessárias para erradicar essa ideologia assassina”.

França tem 10 mil fichados “perigosos”

Le Figaro lembra que o cadastro de “ fichas S” tem hoje 26 mil nomes. Desses, 10 mil foram marcados como “mais perigosos” pela possibilidade de radicalização islâmica e mais de 3 mil têm um perfil considerado “muito preocupante” pelas autoridades.

São tantos fichados que a polícia não tem como vigiá-los individualmente. Um monitoramento eletrônico massivo, incluindo familiares e amigos dos “suspeitos” é feito diariamente. Mas para o juiz Marc Trévidic, que durante nove anos foi o encarregado de investigações sobre o terrorismo no Tribunal de Paris, esse tipo de método só é útil se houver mão de obra para tratar toda essa informação. Antes dos atentados do Bataclan, em 2015, Trévidic chegou a declarar que “a multiplicação das escutas telefônicas e a inclusão de jihadistas nas ‘fichas S’ não servem de nada se não houver uma exploração judiciária logo na sequência”.

“Os prefeitos precisam ser alertados da presença de ‘fichas S’ em suas cidades?”, pergunta Le Figaro. A polícia é contra e diz que a discrição continua sendo essencial nas investigações. “A eficácia total não existe, assim como não existe risco zero em matéria de terrorismo”, concluiu o jornalista Jean Marc Leclerc.

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