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França

Governo francês se preocupa com a radicalização de policiais

Difusão de cantos muçulmanos pelo rádio patrulha, se negar a participar do minuto de silêncio pelas vítimas de atentados ou se recusar a proteger uma sinagoga, e até mesmo estimular a realização de ataques terroristas nas redes sociais: ainda que os casos não sejam numerosos, a polícia francesa vem registrando a radicalização de seus próprios integrantes. Para o governo, a evolução de atos de fundamentalismo religioso nas delegacias do país é preocupante.

A maioria dos policiais que tiveram comportamentos fundamentalistas denunciados são jovens e mulheres.
A maioria dos policiais que tiveram comportamentos fundamentalistas denunciados são jovens e mulheres. REUTERS/Charles Platiau
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De acordo com uma nota confidencial da Secretaria de Segurança Pública de Paris, obtida pelo jornal Aujourd'hui en France, a polícia francesa vem registrando comportamentos que, além de afrontar o célebre princípio francês de laicidade, ameaçam a segurança do país. O grande problema, segundo o documento, é que todos os policiais têm acesso a armas, mesmo fora de serviço, e à maioria dos registros das delegacias.

A preocupação é tão efetiva que a Secretaria de Segurança Pública do país passou a documentar os comportamentos radicais ou considerados perigosos a cada semana. A nota confidencial à qual o Aujourd'hui en France teve acesso, redigida no final de 2015 pela Direção de Segurança da capital, detalha 17 casos de atos radicais de policiais nos últimos três anos.

A maior parte dos incidentes são relacionados a comportamentos extremistas no exercício da religião muçulmana. As policiais mulheres estão implicadas em um terço dos casos registrados e demonstram mais determinação que os homens, segundo a nota. Pelo menos quatro incidentes têm relação com oficiais que se converteram ao islã, indica o documento.

O relatório confidencial também informa que todos os policiais implicados nos incidentes considerados fundamentalistas são jovens que entraram para os serviço de segurança no final dos anos 2000. Nenhum dos casos registrados envolve oficiais da alta hierarquia da polícia. Os registros também não dizem respeito a atos extremistas, mas essencialmente a comportamentos.

Entrevistado pelo Aujourd'hui en France, o sociólogo Farhad Khosrokhavar pede cautela sobre os casos. "A radicalização supõe a passagem a um ato violento. Por isso que prefiro dizer que esses casos demonstram, antes de tudo, o fundamentalismo. Esse tipo de comportamento é raramente símbolo de uma atitude madura, mas ressalta uma impulsividade e uma fragilidade mental. Agindo desta forma, as pessoas sabem que elas se expõem a uma sanção, e, a longo prazo, a uma exclusão. Trata-se, nada mais nada menos, do que um suicídio profissional", analisa.

"Se eu fosse terrorista, eu já teria explodido o Palácio do Eliseu"

O diário revela alguns dos casos registrados pela Secretaria de Segurança Pública de Paris. Entrevistado pelo jornal, um alto funcionário do órgão, Patrice Latron, destaca que 17 casos são "marginais" e não refletem o comportamento do conjunto dos 27 mil policiais que atuam hoje na região parisiense.

Na conta Facebook de uma policial do 17° distrito de Paris, funcionários da Secretaria de Segurança Pública da cidade encontraram um post que julgaram perigoso. "Tenho vergonha de usar meu uniforme azul. Se eu fosse terrorista, eu já teria explodido o Palácio do Eliseu e todos os que lá trabalham". Depois de ter seu caso analisado, a oficial foi suspensa de suas funções.

Um outro policial que entrou para o registro da Secretaria de Segurança Pública de Paris preferia escutar os versos do Corão a acompanhar as informações veiculadas pelo rádio patrulha. Depois de uma viagem à Ilha da Reunião, departamento francês ultramarino no Oceano Índico, ele teria se radicalizado. Durante as rondas policiais, ele aproveitava para procurar e comprar burcas para sua companheira, relataram seus colegas.

Uma oficial mulher foi repreendida pela chefia depois da insistência em utilizar o véu islâmico em serviço. No Facebook da jovem, colegas encontraram diversos posts sobre teorias explicando que os atentados terroristas de 2015 não passavam de um complô de judeus.

Uma colega dessa mesma policial foi encontrada em uma manifestação pró-palestina, que não havia sido autorizada pelo governo. Segundo testemunhas, ela gritava, no protesto: "Israel assassino, Hollande é cúmplice!". Ao ser convocada por seus superiores, a policial se recusou a tirar o véu islâmico. Em sinal de protesto, ela improvisou uma oração diante de sua delegacia.

A mesma mulher se recusou a fazer um minuto de silêncio em memória de Ahmed Merabet, policial abatido em plena rua pelos irmãos Kouachi, depois do massacre que promoveram no jornal Charlie Hebdo, em janeiro de 2015. Ao ser questionada por seus superiores, ela respondeu que: "não posso homenagear pessoas que insultam a sua religião".

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