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Ex-namorada de Guga, nova ministra da Educação na França é pressionada a pedir demissão

O novo primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, já está em apuros. Ao ser nomeado chefe de governo, na semana passada, ele escolheu a atual ministra dos Esportes e Jogos Olímpicos, Amélie Oudéa Castéra, para substituí-lo no Ministério da Educação. Ela passou a acumular os dois cargos, o que desagradou aos professores. Em suas primeiras declarações à frente da nova pasta, a ministra, que foi tenista na adolescência e namorou o brasileiro Gustavo Kuerten, fez uma série de afirmações desastrosas.

Políticos de oposição e professores pedem a demissão de Amélie Oudéa-Castera (centro), acusada de "mentir" para os franceses.
Políticos de oposição e professores pedem a demissão de Amélie Oudéa-Castera (centro), acusada de "mentir" para os franceses. AFP - GEOFFROY VAN DER HASSELT
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Na sexta-feira (12), em sua primeira visita oficial como ministra da Educação a um colégio público na região parisiense, Amélie Oudéa Castéra disse, ao lado do primeiro-ministro, que não iria compactuar com a "hipocrisia", ao ser indagada por jornalistas por que ela não havia escolarizado os filhos na rede pública. 

Mãe de três meninos, já adolescentes, a ministra contou, diante das câmeras de TV, que quando o mais velho entrou em uma escola pública de ensino elementar do 6° distrito de Paris – bairro nobre da capital onde a família morava –, ela e o marido "não suportaram a frustração" de ver a quantidade de aulas que o filho perdia pelo elevado nível de absenteísmo de professores não substituídos em sala de aula.

Em seguida, ela explicou que, por essa razão do absenteísmo, o casal decidiu mudar os filhos para uma escola particular – ultraconservadora e elitista – na mesma rua em que moravam. Nesse estabelecimento privado, segundo a ministra, os filhos do casal "receberam os fundamentos básicos de uma boa educação, puderam crescer em segurança, num ambiente zen e foram felizes", declarou Amélie Oudéa Castéra.

Durante um momento da visita ao colégio público, o canal TMC flagrou a ministra perguntando a três meninos que usavam tênis nos pés, se naquele dia eles estavam de tênis porque tinham sido autorizados a correr no pátio. Um menino de cerca de 11 anos retrucou: "Como assim, não entendi a pergunta, eu venho todos os dias de tênis à escola". A emissora de TV exibiu, em seguida, o regulamento da escola particular elitista onde os filhos da ministra estudaram, que só admite que os alunos usem sapatos de couro no dia a dia. Os tênis são reservados às aulas de esporte.

Esse abismo entre a elite no poder e a realidade da escola republicana, que acolhe alunos de todas as categorias sociais, é motivo de duras críticas ao governo.   

"Provocação"

Os professores da rede pública francesa interpretaram essas declarações como uma "provocação", um sinal de “desprezo insuportável” por parte da ministra em relação à categoria. Cabe ao Ministério da Educação organizar as substituições em sala de aula quando há professores ausentes. Há vários anos, os professores denunciam o número insuficiente de colegas contratados para fazer esse tipo de rotação. 

O jornal Libération procurou a escola pública do 6° distrito criticada pela ministra para verificar se houve, na época citada, problemas de absenteísmo. Qual não foi a surpresa quando a reportagem do Libé encontrou uma professora que deu aulas para um dos filhos da ministra. Ela desmentiu a versão da ausência de professores e revelou outra informação. Disse que a família da ministra retirou os filhos da escola pública porque insistia para que um dos meninos avançasse um ano na escolaridade – um pedido frequente entre famílias da elite francesa –, e a direção discordava que essa mudança pudesse ser benéfica para o aluno em questão.

Protesto e greve marcados

Diante da péssima repercussão do caso, a ministra se desculpou publicamente e prometeu defender a escola republicana. No entanto, professores, associações de pais de alunos e a imprensa estimam que as declarações desastrosas de Amélie Oudéa Castéra não permitem que ela continue no cargo.

Sindicatos de professores já convocaram um protesto diante da sede do ministério, em Paris, no dia 25 de janeiro e uma greve nas escolas em 1° de fevereiro.

Absenteísmo mascara falta de contratações

Atualmente, a falta de professores em sala de aula é uma das maiores deficiências do ensino público francês, e a ministra foi encarregada pelo novo chefe de governo a buscar as soluções, em vez de denegrir a comunidade educativa. O presidente Emmanuel Macron tem afirmado que resgatar a qualidade do ensino na França é uma prioridade absoluta neste segundo mandato. 

Não existem dados atualizados sobre o absenteísmo de professores no ensino elementar. Mas, em 2022, um relatório oficial mostrou que cerca de 8,8% das horas de aula não teriam sido ministradas, em média, no ensino secundário.

Num relatório de dezembro de 2021, o Tribunal de Contas apontou que as “dificuldades decorrentes de faltas de curta duração” (menos de 15 dias) representam, por si só, perto de 2,5 milhões de horas durante o ano letivo de 2018-2019 no ensino secundário, “das quais apenas pouco mais de 500.000 foram substituídas”. Os docentes só são substituídos no ensino público a partir do 16° dia de ausência.

Segundo especialistas e órgãos públicos, como o Tribunal de Contas, o problema seria decorrente de vagas não preenchidas, substituições de longa duração (por doença ou maternidade, etc.) e ausências curtas de professores para cursos de atualização, por exemplo, que não são substituídas. 

Depois de Guga, ministra casou-se com presidente de banco

A vida de Amélie Oudéa Castéra mudou bastante desde os tempos em que ela teve uma paixão por Guga, em 1997, ano em que o tenista brasileiro ganhou seu primeiro Torneio de Roland Garros e passou da 66ª posição para o 15° lugar no ranking mundial. Guga continuou a crescer nas quadras, mas a francesa não.

Depois de conquistar três títulos femininos nacionais, ela desistiu do tênis profissional e, encerrado o rápido namoro com Guga, Amélie integrou a Escola Nacional de Administração, a renomada ENA, que forma a elite política e empresarial na França. Por coincidência, ela se formou na mesma turma do presidente Émmanuel Macron. 

Em 2006, ela se casou com o engenheiro politécnico Frédéric Oudéa, pós-graduado na mesma ENA. Com este alto funcionário que foi assessor do ex-presidente Nicolas Sarkozy, presidente do banco Société Générale e do laboratório farmacêutico Sanofi, Amélie Oudéa Castéra teve os três filhos.  

Como alta funcionária do Estado, ela ocupou diferentes cargos públicos e na direção de empresas do setor privado. Em 2018, assumiu a presidência do Conselho de Auditores da Olimpíada de Paris 2024 e, quatro anos mais tarde, tornou-se a ministra dos Jogos Olímpicos. A escolha de Amélie para substituir Gabriel Attal na Educação causou enorme surpresa na opinião pública.

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