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"Que chova mais, não temos mais nada para perder": norte da França enfrenta enchentes há um mês

A região de Pas-de-Calais, no norte da França, enfrenta há um mês chuvas e inundações históricas. Embora o alerta máximo de vigilância a precipitações tenha sido reduzido nesta quarta-feira (15), vários municípios seguem debaixo d'água. 

Município de Saint-Etienne-au-Mont é um dos cerca de 200 atingidos pelas chuvas torrenciais e enchentes há quase um mês na região de Pas-de-Calais, no norte da França.
Município de Saint-Etienne-au-Mont é um dos cerca de 200 atingidos pelas chuvas torrenciais e enchentes há quase um mês na região de Pas-de-Calais, no norte da França. AFP - FRANCOIS LO PRESTI
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As mídias francesas mostram imagens de ruas inundadas e moradores caminhando com água no nível dos joelhos: cenas que se tornaram comum em Pas-de-Calais. Na cidade de Blendecques, uma das mais afetadas pelas inundações, o aposentado Alain desabafa, em entrevista à reportagem do jornal Libération: "que chova mais, não temos mais nada para perder".

Como ele e a esposa, Nathalie, moradores desta região do norte da França, viram suas vidas paralisarem diante das chuvas torrenciais e incessantes. A maioria das pessoas relata ter perdido tudo dentro de casa, outros terão de reconstruir suas residências, muitos não tem mais onde morar e buscam abrigo junto a familiares e amigos. 

O jornal Le Figaro conversou com agricultores de Saint-Omer, outra localidade da região atingida pelas inundações históricas. Plantações inteiras foram dizimadas pelas enchentes, entre elas 2.500 hectares de culturas que aguardavam a coleta. Segundo a Câmara de Agricultura local, as perdas no local são da ordem de € 25 milhões. 

Criadores de gado também relatam os prejuízos ao diário, muitos animais adoeceram por causa da umidade e as vacas tiveram uma expressiva redução de produção de leite, conta Alain Delplace, proprietário de uma fazenda no município de Hames-Boucres. "Além disso, sabemos que essa situação vai perdurar. Meu estábulo não estará seco e habitável aos animais em menos de um mês", lamenta. 

Consequência das mudanças climáticas

O jornal La Croix destaca a ligação do fenômeno com as mudanças climáticas. O diário explica que um aquecimento de 1°C superior ao normal na atmosfera representa 7% de vapor suplementar que se transformará em chuva. O último mês de outubro foi o mais quente no mundo desde que as temperaturas começaram a ser registradas, com um calor digno de verão na França.

"O aumento da temperatura dos oceanos, que hoje atinge níveis nunca antes observados, também pode pesar na balança: ao provocar maior evaporação da água do mar, impulsiona ainda mais a atmosfera com vapor de água", reitera a matéria. 

Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos da França (Insee), um milhão de franceses vivem em zonas potencialmente inundáveis hoje. A região de Pas-de-Calais já havia sido palco de inundações sem precedentes há 20 anos e vê o fenômeno se agravar. 

Para especialistas, é impossível reverter a situação e a melhor solução é pensar em alternativas para evitar e lidar com os estragos. "Ou tentamos reter a água a ou impedir que ela entre nas casas", afirma ao diário Thomas Adeline, consultor especialista em prevenção de riscos naturais. 

Em visita à região na terça-feira (14), o presidente Emmanuel Macron anunciou a liberação de uma ajuda de € 50 milhões às administrações locais de Pas-de-Calais. Consciente da gravidade do fenômeno, o chefe de Estado afirmou que será preciso "se adaptar às mudanças climáticas" e "repensar os hábitos" para que a população possa continuar "morando, vivendo e trabalhando" nas localidades atingidas.

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