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Justiça francesa investiga estrelas de Davi pichadas em imóveis de Paris

Moradores e autoridades de Paris ficaram indignados ao descobrirem, na terça-feira (31), que edifícios e lojas de quatro bairros da capital amanheceram com estrelas de Davi, de cor azul, pichadas em suas fachadas. A utilização deste símbolo do judaísmo, que nazistas usavam para marcar a casa de judeus, recebe a atenção do Ministério Público, que abriu uma investigação.

Fachada de edifício do 14° distrito de Paris marcada com a estrela de Davi, símbolo do Judaísmo.
Fachada de edifício do 14° distrito de Paris marcada com a estrela de Davi, símbolo do Judaísmo. © Geoffroy Van Der Hasselt / AFP
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Apenas no 14° distrito da capital, cerca de 60 estrelas de Davi apareceram pintadas em prédios do bairro. O Ministério Público de Paris abriu uma investigação por degradação de propriedade privada, agravada pelas circunstâncias de origem, raça, etnia ou religião. A legislação francesa prevê pena de prisão de quatro anos para esse tipo de delito e € 30 mil de multa. 

A Promotoria alerta, entretanto, que ainda não é possível afirmar que essas pichações, também vistas no 13°, 15° e 18° distritos de Paris, tenham sido feitas pelos mesmos autores. "Nem se as pichações têm o objetivo de insultar os judeus ou reivindicar o pertencimento à comunidade judaica", afirma o Ministério Público. A dúvida vem do fato que as estrelas de Davi foram pintadas de azul, símbolo do judaísmo e do Estado de Israel, e não de amarelo, que era a cor usada pela Alemanha nazista para discriminar os judeus, em uma conduta notoriamente antissemita.

“Esses estênceis foram marcados nas fachadas, de forma claramente indiferente ao que os edifícios abrigavam”, especifica a acusação. "Portanto, não está estabelecido que esta estrela tenha uma conotação antissemita, mas isso não pode ser descartado imediatamente", assinalou um comunicado da Promotoria.

No fim de semana, pichações semelhantes surgiram em municípios da periferia, como Vanves, Fontenay-aux-Roses, Aubervilliers e Saint-Ouen. Mas, nessas áreas, algumas estrelas de Davi azuis foram vistas ao lado de frases como "Do mar ao Vale do Jordão, a Palestina vencerá".

Repercussão

De qualquer forma, as reações políticas foram de condenação. A prefeita ecologista do 14° distrito de Paris, Carine Petit, disse que o caso "é um insulto à história, à democracia e ao espírito republicano" da França. A mesma indignação foi manifestada por um representante da prefeitura do 15° distrito, que declarou que essas pichações recordam "as horas mais sombrias da nossa história". 

Moradores dos bairros afetados relatam à imprensa sentimentos que vão da consternação ao medo. A zeladora portuguesa de um edifício pichado disse à reportagem do Le Parisien que, apesar de ateia, ela ficou "profundamente abalada" quando viu o prédio onde mora e trabalha marcado com a estrela israelita.

A prefeitura de Paris condenou o que considera atos antissemitas e informou que solicitou uma investigação ao Ministério Público, para identificar, processar e condenar com a maior firmeza os autores das pichações.

O conflito entre Israel e o Hamas tem repercutido na população francesa. Os atos antissemitas estão em forte alta desde o início da guerra, em 7 de outubro. Mais de 900 boletins de ocorrência com queixas de discriminações a judeus foram registrados em diversas regiões do país. Na Normandia, moradores descobriram suásticas nazistas pichadas em fachadas, atos considerados "desprezíveis" por políticos da região.

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