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Ex-presidente Sarkozy será julgado por financiamento da Líbia na campanha de 2007

O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy será julgado em 2025, acusado de ter recebido fundos do ditador líbio Muammar Kadafi para financiar sua campanha eleitoral em 2007, anunciou a Promotoria nesta sexta-feira (25). Sarkozy nega as acusações.

Na foto de arquivo de 2007, Nicolas Sarkozy recebe o então presidente da Líbia, Muammar Kadafi no Palácio do Eliseu, em Paris.
Na foto de arquivo de 2007, Nicolas Sarkozy recebe o então presidente da Líbia, Muammar Kadafi no Palácio do Eliseu, em Paris. AP - Francois Mori
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O ex-presidente ficou no poder entre 2007 e 2012 e responderá por corrupção passiva, associação criminosa, financiamento ilegal de campanha eleitoral e ocultação de desvio de fundos públicos líbios, segundo um comunicado de imprensa divulgado sexta-feira (25) pelo procurador Jean-François Bohnert.

Outras doze pessoas também foram implicadas no processo, incluindo três ex-ministros: Claude Guéant e Brice Hortefeux, políticos próximos de Sarkozy, e Eric Woerth, ex-tesoureiro da campanha presidencial sob suspeita.

Aos 68 anos, o ex-presidente sempre contestou as acusações e deve entrar apelar contra o inquérito. Sujeita a eventuais recursos, a audiência deve acontecer “entre 6 de janeiro e 10 de abril de 2025” na 32.ª seção do Tribunal Penal de Paris, segundo o Ministério Público Financeiro Nacional (PNF).

Pacto contra a corrupção

Os dois magistrados acompanharam os pedidos do PNF, que havia comunicado, em meados de maio, “o aval” e o “perfeito conhecimento dos fatos” de Nicolas Sarkozy quanto às ações alegadas.

No despacho de 557 páginas assinado quinta-feira, os magistrados apontam os dez anos da investigação realizada pelo Gabinete Anticorrupção (Oclciff), que sofreu com "poucos recursos humanos", com a "ausência de vontade política da França para tornar estes fatos transparentes", com "manipulações" e "desestabilizações".

No documento, destacam ainda que se “nos arquivos econômicos e financeiros não há provas”, e que “tudo aponta para um pacto de corrupção entre Nicolas Sarkozy e Muammar Kadafi para efeitos de financiamento da eleição”.

Para os magistrados, a ideia de uma “conspiração destinada a prejudicar Nicolas Sarkozy”, tese defendida pelo ex-presidente “para puni-lo por liderar a coligação contra o regime de Muammar Kadafi” em 2011, “não resiste à análise”.

Dois empresários estão no centro do caso: o franco-libanês Ziad Takieddine, que fugiu para o Líbano e que não deverá, portanto, participar da audiência, e o franco-argelino Alexandre Djouhri, suspeito de ter servido de intermediário.

A investigação judicial foi aberta em abril de 2013 com base nas acusações de autoridades líbias, de Takieddine, e de uma reportagem do site investigativo Mediapart, a partir de um documento que supostamente provaria que a campanha se beneficiou de fundos líbios.

Em 2007, Kadhafi foi recebido por Sarkozy em Paris, onde passou cinco dias e chegou a armar uma "tenda" no jardim do hotel Marigny, uma das residências do presidente, situada perto do palácio do Eliseu, no 8º distrito da capital.

Reações

Os magistrados reuniram uma série de pistas robustas para apoiar a tese de que fundos líbios beneficiaram a campanha do ex-presidente, a partir de diversos depoimentos, alguns anteriores a 2011, notas dos serviços secretos de Trípoli, movimentos de fundos "atípicos e conturbados", materialização de um certo número de contrapartes...

“Não tem prova de chegada, nem prova de saída do dinheiro (…) Onde está o dinheiro?”, afirmou o ex-chefe de Estado durante um interrogatório no final de 2020.

Claude Guéant “sempre argumentou que nenhuma culpa lhe poderia ser atribuída (...), o que demonstrará” durante a audiência, reagiu na sexta-feira o seu advogado, Philippe Bouchez El Ghozi.

“Estamos falando de milhões de Kadhafi, mas não podemos fazer esta relação com €30 mil recolhidos e distribuídos depois da campanha”, disse ainda o advogado de Eric Woerth, Jean-Yves Le Borgne.

Vincent Brengarth, advogado da associação anticorrupção Sherpa, elogiou o "trabalho extremamente meticuloso do tribunal de investigação", que "abre caminho para um julgamento totalmente histórico contra um ex-chefe de Estado".

O processo principal tem sido acompanhado desde meados de 2021 por uma investigação sobre uma possível tentativa de suborno por parte de Ziad Takieddine, que retirou temporariamente as acusações contra Nicolas Sarkozy no final de 2020.

O ex-presidente, que acaba de publicar um novo livro de memórias, foi alvo de uma ação em junho, quando uma busca foi feita em sua residência e ele teve que depor como suspeito.

Já condenado à prisão pelo caso das “escutas telefônicas”, em que recorreu, e em primeira instância no caso Bygmalion - dos recibos falsos de campanha - com novo julgamento previsto para novembro, Nicolas Sarkozy terá, portanto, que enfrentar um terceiro processo criminal.

Questionado sobre as acusações na quarta-feira, Sarkozy declarou: "Não há nada que me inculpe, não desviei um centavo".

(Com informações da AFP)

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