Dia Internacional das Mulheres: imprensa francesa denuncia injustiças e atraso nos direitos
A imprensa francesa desta quarta-feira, 8 de março, marca o Dia Internacional das Mulheres com reportagens especiais e análises sobre a luta das cidadãs do sexo feminino por igualdade. Os jornais apontam injustiças e demora na evolução dos direitos delas.
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"Aborto, base comum das feministas" é a manchete do jornal católico La Croix, que destaca que o presidente francês, Emmanuel Macron, pode anunciar hoje a inscrição da interrupção voluntária da gravidez na Constituição francesa. O aborto é legalizado na França, mas diante dos recentes recuos em relação à prática nos Estados Unidos, as francesas querem constitucionalizar esse direito para protegê-lo.
O diário faz uma retrospectiva da batalha das mulheres no país para conseguir legalizar o aborto na França. Também conta a história da chamada "Lei Veil", promulgada em 1975, e que leva o nome da advogada e ministra Simone Veil, autora do projeto de legislação que descriminalizou na França o chamado IVG - sigla para interrupção voluntária da gravidez.
"Elas contam 125 feminicídios" é o título de uma matéria do jornal Le Parisien que destaca a chegada às livrarias, neste 8 de março, de uma obra da escritora francesa Sarah Barukh que convidou 125 personalidades francesas femininas a homenagear 125 mulheres assassinadas por seus maridos ou namorados.
O diário lembra que neste últimos 15 anos mais de 2.200 francesas foram mortas por seus companheiros, 26 desde o início deste ano. No livro estão histórias de mulheres como Salomé Garnesson, morta em 2019, aos 21 anos, em plena luz do dia em Cagnes-sur-mer, pelo namorado. O autor do crime começará a ser julgado nesta semana, quatro anos após o chocante feminicídio.
Francesas contra a reforma da Previdência
O jornal progressista Libération e o conservador Le Figaro focam na luta das mulheres contra a reforma da Previdência, atualmente em debate no Senado francês. O projeto é acusado pela esquerda de prejudicar particularmente as cidadãs do sexo feminino, que já são castigadas com salários inferiores aos dos homens. Segundo o texto, para obter a aposentadoria mínima, elas precisarão trabalhar mais para compensar ausências por gestações e cuidados familiares ao longo dos anos da vida ativa.
"Dias da revolta das mulheres contra a reforma da Previdência" é o título de uma matéria do Le Figaro. O diário lembra que a igualdade de gêneros era a "grande causa" dos primeiros cinco anos do governo Macron, mas agora o governo apresenta um projeto que "penaliza as mães de família", diz o jornal, que entrevistou várias francesas que saíram pela primeira vez às ruas do país na terça-feira (7) para denunciar os planos do executivo.
Já Libération denuncia que todo o sistema fiscal, social e previdenciário da França foi herdado de uma política paternalista do pós-guerra, desfavorecendo as mulheres até hoje. O diário analisa o último relatório do Observatório de Emancipação Econômico das Mulheres que aponta a responsabilidade do Estado na propagação de um sistema incoerente que faz com que as mulheres consagrem duas vezes mais seu tempo aos trabalhos domésticos. Ao mesmo tempo, o salário das francesas, em um casal heterossexual, é, em média, 42% menor que o do homens. "Injustiças flagrantes", critica Libération neste 8 de março.
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