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Greve na França: imprensa diz que Macron subestimou movimento nas refinarias e tensão social se espalhou

Trabalhadores dos setores público e privado atendem à convocação de vários sindicatos franceses, liderados pelas centrais CGT e FO, para uma greve nacional de 24h nesta terça-feira (18). A principal reivindicação é de aumento salarial diante do retorno da inflação, mas os grevistas também demonstram solidariedade com empregados de quatro refinarias da TotalEnergies, em greve desde 27 de setembro. Para a imprensa francesa, o governo falhou ao subestimar a insatisfação social crescente no país.

A forte tensão social se estendeu a vários setores e está nas manchetes dos principais jornais franceses nesta terça-feira.
A forte tensão social se estendeu a vários setores e está nas manchetes dos principais jornais franceses nesta terça-feira. AFP - JULIEN DE ROSA
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Segundo a Confederação Geral do Trabalho (CGT), que lidera a mobilização e mantém parte das refinarias de petróleo do país paralisadas, a greve desta terça-feira conta com a adesão de trabalhadores dos setores agroalimentar, transportes públicos, energia, inclusive centrais nucleares, educação, saúde, comércio e metalurgia, entre outros.

Nas primeiras horas da manhã, os trens que faziam a conexão entre Paris e subúrbios da periferia, assim como os da rede regional em todo o país, os chamados TER, registraram perturbações. A paralisação também interfere na circulação de ônibus, mas o tráfego é quase normal no metrô e na rede de veículos leves sobre trilhos (VTL) da capital francesa. Leves atrasos ou cancelamentos estão previstos na circulação de trens de alta velocidade (TGV) e nas linhas Eurostar, que ligam a França ao Reino Unido.

Os ferroviários preveem anunciar uma paralisação de vários dias, para aumentar a pressão devido à aproximação das férias escolares de outono, que começam no próximo fim de semana. A decisão de prolongar ou não a greve será votada ao longo do dia em assembleias dos trabalhadores da companhia SNCF. 

Cerca de 150 protestos foram anunciados em várias cidades francesas. Em Paris, uma passeata com início previsto às 14 horas locais na praça da Itália, zona sul da capital, seguirá em direção ao sétimo distrito, onde ficam as sedes do governo e de vários ministérios. 

Demora na reação do governo

A imprensa francesa nota uma tensão social crescente no país. Os trabalhadores exigem aumento salarial para compensar as perdas com a inflação, que chegou a 5,6% em setembro no acumulado de 12 meses. A guerra na Ucrânia desencadeou uma crise energética e de alta nos preços dos alimentos que corrói o poder aquisitivo dos franceses, apesar dos subsídios concedidos pelo Estado aos combustíveis e à energia.

A CGT e seus aliados na convocação da greve – FO, FSU, Solidaires, FIDL, MNL e duas federações de estudantes – também protestam contra a convocação compulsória de empregados das refinarias da TotalEnergies, decidida pelo governo depois que dois sindicatos majoritários na empresa fecharam um acordo com a direção na semana passada, aceitando um aumento salarial de 7% e pagamento de bônus variáveis de acordo com a categoria.

"Macron e a hora da greve" é a manchete do jornal Libération, que estampa em sua capa uma caricatura do presidente francês tentando se segurar em um megafone, mas sendo projetado no ar por gritos de manifestantes. O diário afirma que o governo subestimou o movimento social nas refinarias francesas e agora tem de lidar com a extensão da insatisfação a outras categorias de trabalhadores

Em editorial, o diário progressista afirma que, no início deste segundo semestre, Macron deixou de lado o humilde discurso adotado durante a campanha eleitoral para anunciar que vai colocar em prática sua polêmica reforma da Previdência, rejeitada pela maioria dos trabalhadores. Para o veículo, o presidente francês está completamente desconectado da realidade e, ao criticar os grevistas das refinarias da TotalEnergies, "se posiciona no campo dos grandes patrões"

"O governo é pego pelo outono social" é o título de uma matéria do jornal conservador Le Figaro sobre a greve desta terça. Segundo o diário, temendo um novo movimento no mesmo estilo dos coletes amarelos, entre 2018 e 2019, "o Executivo caminha sobre ovos". O Le Figaro destaca o esforço do governo para tentar "incitar antipatia da população contra os grevistas, a fim de evitar que o debate sobre o aumento dos salários resulte na multiplicação de paralisações". 

Em sua manchete, o jornal La Croix pergunta: "Podemos aumentar nossos salários?". O diário fez os cálculos com base na expectativa de reajuste das remunerações previstas pelo setor privado, entre 2,5% e 3% neste ano, diante da previsão de inflação de 5,3% em uma média anual. Desta forma, os salários registrariam uma perda de ao menos 2%, "algo inédito em 20 anos", diz a publicação. O problema é que 70% das empresas francesas pretendem fixar os reajustes salariais em no máximo 2,5% – "muito longe dos 10% exigidos pelos empregados da TotalEnergies", ressalta a reportagem do La Croix

"Um dia de greve e depois?", questiona o jornal Le Parisien. O diário afirma que a paralisação dos empregados das refinarias da TotalEnergies coloca "gasolina no motor dos sindicatos". Philippe Martinez, secretário-geral da CGT, principal central sindical da França, afirma que a insatisfação é forte em vários setores. A questão, agora, é saber se a mobilização de hoje dará gás para a continuidade de um movimento social mais amplo.

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