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Começa em Biarritz festival de Cinema Latino com foco no Brasil

O Festival Biarritz América Latina movimenta, a partir desta segunda-feira (26), o charmoso balneário localizado no sudoeste da França com exibições de filmes, encontros literários, shows e um colóquio sobre o Brasil, país em foco nesta 31ª edição. Até 2 de outubro, Biarritz é o ponto de encontro entre a Europa e a América Latina para diretores, produtores, atores, jornalistas e amantes do cinema, que poderão assistir aos filmes em competição.

Cartaz da 31° edição do Festival Biarritz América Latina que acontece de 26 de setembro a 02 de outubro de 2022.
Cartaz da 31° edição do Festival Biarritz América Latina que acontece de 26 de setembro a 02 de outubro de 2022. © Divulgação
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Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz

A mostra competitiva acontece em três categorias: longa-metragem de ficção, documentário e curta-metragem. O Brasil tem representantes em todas elas.

Na sua mensagem de boas-vindas aos participantes, Jean-Christophe Berjon, delegado-geral do festival, explica que, pela primeira vez em sua longa história, "o festival lança seus projetores sobre o Brasil", apresentando um “álbum de família do cinema brasileiro”.  

Brasileiros em competição

Tinnitus (2022), de Gregório Graziosi, é o único representante brasileiro entre os longas-metragens de ficção. O filme conta a história de Marina, uma atleta que participa de competições de salto ornamental, até que um súbito zumbido nos ouvidos ameaça a sua carreira. O elenco tem Joana de Verona, Andre Guerreiro Lopes, Indira Nascimento e Thaia Perez. “Estou muito orgulhoso de exibir ele na França, pela primeira vez em Biarritz”, disse o diretor à RFI, antes de embarcar para a Europa.

“O lugar mais seguro do Mundo” (2021), dos realizadores Aline Lata e Helena Wolfenson, disputa a categoria documentário. O filme acompanha a trajetória de Marlon, um jovem cuja vida se transforma após ser vítima de uma das maiores tragédias sociais e ambientais do mundo, causada pelo rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração. Ele é forçado a migrar do campo para a periferia da cidade, onde vive muitos conflitos.

“Todas por uma”, (2022) de Jeanne Dosse, é outro representante brasileiro na categoria documentário. O filme acompanha o processo de criação da peça “As Comadres”, no Brasil, com a supervisão da renomada diretora teatral francesa Ariane Mnouchkine, fundadora do vanguardista Théâtre du Soleil.

Entre os curtas-metragens em competição, estão “O Último Domingo”, de Renan Barbosa Brandão, inspirado num trecho de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago.

O curta “Fantasma Neon”, de Leonardo Martinelli, conta a história de um entregador que sonha em ter uma moto, com inspiração em musical.

Eleições à vista

O festival de Biarritz considera o ano de 2022 como crucial para o Brasil por diversas razões. O país comemora o bicentenário de sua independência de Portugal, o Centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, e vai organizar eleições gerais.

Pesquisadores são convidados a revisitar o perfil do "Brasil, país do futuro", descrito pelo escritor Stefan Zweig, no início dos anos 1940, de um país-continente, como uma natureza exuberante, mas também um dos espaços mais desiguais da América Latina.  O país que vive uma profunda crise política, econômica e social será o tema de um debate promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da América Latina. Organizado e liderado por Olivier Compagnon, professor de história da Universidade Sorbonne Nouvelle, a palestra tem como título: “Brasil, um gigante caído?” 

A programação segue no sábado (1°) com a conferência: “Anna Muylaert e as assombrações do cinema brasileiro contemporâneo”, na Mediateca de Biarritiz. O longa-metragem escrito e dirigido por Muylaert, “Que Horas ela volta? (2015)”, com a atriz Regina Casé no papel da empregada doméstica Val, será exibido na mostra Focus Brésil, com seleção de Kleber Mendonça Filho. O longa é uma crônica amarga das diferenças de classes sociais e das desigualdades geográficas no Brasil. 

Carta branca à Kleber Mendonça Filho

O Brasil segue sendo homenageado em sessões paralelas do festival de Biarritz. A Focus Brésil é uma programação de filmes que o cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho recebeu carta branca para organizar, incluindo filmes clássicos ou pouco conhecidos.

Na lista estão a Hora da Estrela (1985), de Suzana Amaral; Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) de Glauber Rocha; Garrincha, Alegria do Povo (1963) de Joaquim Pedro de Andrade; Pixote (1981) de Hector Babenco; Cabra Marcado para Morrer (1984) Eduardo Coutinho, além de longas mais recentes e curtas-metragens.

Literatura brasileira em destaque

O festival Biarritz América Latina ainda abre espaço para a literatura brasileira, com uma homenagem à escritora Clarice Lispector (1920-1977), na manhã da quinta-feira (29), no Salão dos Embaixadores, no Cassino de Biarritz.

A tradutora, ensaísta e professora Izabella Borges analisa a obra de uma das figuras mais importantes da literatura brasileira e uma das maiores escritoras do século 20. Clarice Lispector deixou uma obra importante de ficção, contos e crônicas composta por uma escrita implacavelmente precisa.

A romancista, dramaturga e roteirista Patrícia Melo é outra atração do festival de Biarritz. Ela faz palestra no mesmo dia, às 15h. Considerada uma das figuras emblemáticas da literatura contemporânea, a autora retrata em seus romances a realidade da violência social e urbana no Brasil.

Produções de 12 países

Em 2022, a programação competitiva de ficção do Festival Latino-Americano de Biarritz é surpreendentemente feminina. Reúne 10 filmes, com seis diretoras e sete personagens principais mulheres. Filmes que revelam temas de seus países, como terras confiscadas na Colômbia, o instinto de sobrevivência diante da extrema pobreza na Nicarágua, a resistência diante da barbárie no México, a religião da Santeria e a dor diante do exílio em Cuba, ou a obsessão pelo futebol na Argentina.

Há produções ainda do Chile, Peru, Costa Rica, Uruguai e Venezuela. As grandes questões que atravessam as sociedades em todo o mundo estão presentes, como os temas feministas, a descoberta sexual, a superação de si mesmo, a educação ou o compromisso político.

No longa “O Norte sobre o Vazio”, os cineastas mexicanos Gabriel Nuncio e Alejandra Márquez Abella contam a história de Dom Reynaldo, um renomado caçador em declínio sob a ameaça de perder a sua herança e o legado do pai.

Manuela Martelli e Alejandra Moffat assinam a produção chilena “1976”, ambientada três anos após o golpe de Estado do general Augusto Pinochet. No filme, a personagem Carmem viaja para cuidar da renovação da casa da família, à beira mar.

O filme Vicenta B trata de emigração pelo viés das descobertas da cartomante Vicenta Bravo, que recebe todo o tipo de gente, com os mais diversos problemas. O longa de Fabián Suárez e Carlos Lechuga trata da santeria, religião de origem africana popular em Cuba.

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