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Rio Sena mais baixo é um dos sinais da seca que atinge vários departamentos da França

Ele é um dos principais símbolos de Paris e também não passou ileso à seca que atinge 46 departamentos franceses, agora classificados no nível de crise hídrica. Nesta terça-feira (3), a vazão do rio Sena passou abaixo do limite de 81 m3/s na estação de Austerlitz, levando as regiões metropolitanas de Île de France, Hauts-de-Seine, Seine-Saint-Denis e Val-de-Marne ao estado de vigilância de seca. Na prática, as autoridades incentivam a população a economizar água.

Um homem toma sol às margens do rio Sena, em Paris. As temperaturas devem atingir 40 graus Celsius esta semana, durante mais uma onda de calor no país. (Foto AP/Thibault Camus)
Um homem toma sol às margens do rio Sena, em Paris. As temperaturas devem atingir 40 graus Celsius esta semana, durante mais uma onda de calor no país. (Foto AP/Thibault Camus) AP - Thibault Camus
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O nível de vigilância, conhecido como laranja, é o primeiro dos quatro níveis de estiagem. A prefeitura da região parisiense recomenda evitar lavar carros e regar plantas, mas por enquanto não impõe restrições, como já acontece em outras regiões.

O território francês enfrenta a terceira onda de calor em dois meses, tornando mais visíveis as consequências do aquecimento global.

Na segunda-feira (1), o instituto de meteorologia Météo-France anunciou que julho se tornou o segundo mês mais seco desde que os registros começaram a ser feitos, em 1958, com 9,7 milímetros de chuva. O recorde anterior data de março de 1961 (7,8).

A situação é "preocupante", devido ao grande número de departamentos em alerta de seca, analisa Frédéric Long, meteorologista da Météo-France, destacando que "a onda de calor não ajuda neste aspecto". Em julho, quando as temperaturas bateram recorde na França, a precipitação foi 84% menor do que o normal para o período entre 1991-2020, segundo o serviço de meteorologia.

"Podemos dizer que nos últimos 35 anos tivemos três vezes mais ondas de calor do que nos 35 anos anteriores", explica Long, que prevê um aumento da intensidade e frequência de eventos extremos "nos próximos anos".

A temporada de férias de verão na Europa Ocidental está carregada de alertas sobre as mudanças climáticas: secas, incêndios, recordes de temperatura e mortes por insolação.

O pico da onda de calor, que no momento se concentrada no sul, centro e leste da França, é esperado na quarta-feira (3), com temperaturas de até 40ºC. Justamente quando o governo pediu aos franceses para que fizessem "pequenos gestos", como moderar a temperatura do ar condicionado para economizar energia, num contexto de cortes de fornecimento do gás russo.

Um quadro que preocupa o setor agropecuário francês, especialmente os produtores de milho, cujas lavouras já estão sendo bastante afetadas pelo clima.

Agricultor de Blecourt, norte da França, mostra a terra seca devido a estiagem prolongada no país.
Agricultor de Blecourt, norte da França, mostra a terra seca devido a estiagem prolongada no país. Reuters

Os alertas de seca são acompanhados de recomendações para a redução do consumo de água em alguns territórios, e até a sua limitação a usos essenciais, em outros.

O agricultor Baptiste Cribeillet, de 32 anos e que trabalha em Saint-Génis-des Fontaines (sul), teme os efeitos em sua fazenda de 60 hectares de nectarinas, próxima à Perpignan, caso a irrigação seja proibida. Atualmente, o uso de água está limitado a 50% no local. "Se passarmos para a próxima fase, não poderemos irrigar de forma alguma e os prejuízos às árvores e às próximas colheitas seriam enormes", alerta.

A seca prolongada tem mudado a paisagem no Maciço do Vercors, que faz parte dos Alpes franceses, onde 10% dos 72 quilômetros de córregos estão secos. É o caso do rio Méaudret, que foi completamente esvaziado de suas águas e de seus peixes. "A catástrofe acontece diante de nossos olhos", lamenta Nicolas Martino, presidente da Associação ambiental "Au fil du Méaudret". "Vemos a disparição de todo tipo de vida, microfauna, a flora e espécies de peixes como a truta", completa. "Se compararmos os rios com a aparência que tinham há dez anos, nos damos conta da catástrofe", insiste, lembrando que a urbanização crescente e intensiva piora ainda mais a situação neste paraíso natural.  

As águas turquesas aos pés dos cânions no Verdon, em meio a uma vegetação exuberante, são um spot privilegiado para a prática de esportes aquáticos, como rafting e caiaque.
As águas turquesas aos pés dos cânions no Verdon, em meio a uma vegetação exuberante, são um spot privilegiado para a prática de esportes aquáticos, como rafting e caiaque. © Joseph Plotz/ Creative Commons/ Wikipedia

"Adaptação humana necessária"

O ministro francês da Transição Ecológica, Christophe Béchu, defendeu, na segunda-feira, "reduzir o consumo de água, poupar, combater o desperdício", "uma adaptação humana", na sua opinião, "necessária".

Criticado por sua "inação climática" em seu primeiro mandato, o presidente centrista Emmanuel Macron prometeu acelerar as ações para cortar as emissões de gases de efeito estufa. A França, como toda a União Europeia (UE), espera alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Contudo, a estratégia não passa pela "redução", mas sim pela promoção da energia nuclear e de fontes renováveis.

A questão climática, com seca e ondas de calor como os seus fatores mais visíveis, é o tema de muitas manchetes dos jornais franceses, nesta terça-feira.

O Le Parisien, cuja capa tem como título "Consumir menos água é possível", aborda alternativas para reduzir o consumo, como reutilizar a água do chuveiro no vaso sanitário ou no jardim.

Em um editorial assinado por Étienne de Montety, o jornal Le Figaro destaca as mudanças na sociedade. “Cortes, restrições, escassez... Fazia talvez 40 anos (primeiro choque do petróleo), ou mesmo 75 (imediatamente após a guerra), que essas palavras não reapareciam em nosso cotidiano. O “antidesperdício” está de volta à França.

(com informações da RFI e de agências)

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