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Visita polêmica de príncipe saudita reflete desejo de Macron de manter liderança na cena internacional

A visita do príncipe herdeiro da Arábia Saudita Mohammed bin Salman (MBS) a Paris é um dos destaques dos jornais franceses desta sexta-feira (29). Uma vez tratado de pária internacional pelo presidente americano Joe Biden, por seu papel presumido no assassinato do jornalista saudita Jamal Kashoggi, em 2018, MBS foi recebido com pompa para um jantar, na noite de quinta-feira (28), no Palácio do Eliseu, sede da Presidência francesa. 

O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, foi recebido pelo presidente francês Emmanuel Macron no Palácio do Eliseu em Paris, França, em 28 de julho de 2022.
O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, foi recebido pelo presidente francês Emmanuel Macron no Palácio do Eliseu em Paris, França, em 28 de julho de 2022. VIA REUTERS - SAUDI ROYAL COURT
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O jornal Le Monde destaca que, além de ter sido o primeiro dirigente internacional a visitar a Arábia Saudita após a morte violenta do jornalista, estrangulado e cortado em pedaços na embaixada saudita na Turquia, Emmanuel Macron é o primeiro a receber o príncipe herdeiro em uma importante capital ocidental, desde o escândalo.

O texto explica que num contexto de guerra na Ucrânia e sanções contra a Rússia, "se tornou urgente" para a França, Estados Unidos e União Europeia se voltarem para os países que "se recusaram a escolher um lado" da guerra, "tanto na África quanto no Golfo, para evitar que o fosso se torne ainda mais profundo entre eles". 

O Le Monde lembra que em um momento de risco de recessão sobre a economia mundial, Macron não perde a oportunidade de oferecer a expertise de empresas francesas para grandes projetos na Arábia Saudita, "país cujos cofres se encheram ainda mais com o aumento do preço do petróleo". Entre os grandes projetos de MBS estão "a construção de uma megalópole futurista e estações balneárias no Mar Vermelho que começam a sair do papel", destaca o diário. 

"Os responsáveis do Golfo adoram vir à França no verão, onde eles têm resorts e barcos", lembra Bertrand Besancenot, ex-embaixador da França em Riad, ouvido pelo jornal. Já "Macron quer mostrar que, apesar da perda de apoio lesgislativo em seu país, continua forte na cena internacional", completa o observador, lembrando que o presidente francês já recebeu outras lideranças do Oriente Médio neste mês de julho, como o primeiro-ministro israelense Yair Lapid (5 de julho), o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas (20 de julho) e o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sissi (22 de julho).

O jornal Libération destaca que Emmanuel Macron "tenta a todo preço manter o diálogo com todos", assim como fez com Vladimir Putin. Porém, no momento em que a Arábia Saudita não demonstra inclinação a abrir suas "torneiras" da produção de petróleo, como desejam os ocidentais, "este jantar com honrarias era necessário?", pergunta o diário. 

Libé também questiona se longe das câmeras e dos jornalistas, Macron teria sido "virulento" contra MBS, da mesma forma como fez na África, onde o presidente francês não mediu palavras, esta semana, para recriminar os Estados que apoiam a Rússia na guerra da Ucrânia. 

Porta aberta para o Oriente Médio

O Figaro também destaca que Paris, como outras capitais ocidentais, "tenta convencer Riad a produzir mais petróleo para evitar que os preços continuem subindo numa inflação galopante". Mas "apegada a seus engajamentos junto à Opep, da qual faz parte a Rússia de Vladimir Putin, a Arábia Saudita não pode aumentar massivamente sua produção do chamado ouro negro".

Mesmo assim, de acordo com o jornal, a "França quer mostrar que é a porta de entrada na Europa dos dirigentes do Oriente Medio". Além disso, a Arábia Saudita não confia em seu vizinho Irã e o apoio da França pode ser importante no momento em que se discute o novo acordo nuclear internacional. Nesta sexta-feira, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, agradeceu ao presidente Emmanuel Macron por sua "calorosa recepção".  

Os dois líderes defenderam "encontrar uma saída para o conflito" na Ucrânia e cooperar para "mitigar os efeitos na Europa, Oriente Médio e no mundo", segundo um comunicado da Presidência francesa. Emmanuel Macron ainda destacou "a importância de continuar a coordenação iniciada com a Arábia Saudita para diversificar o fornecimento de energia aos Estados europeus", no momento em que a UE tenta se tornar independente do gás russo. "No marco do diálogo de confiança entre a França e a Arábia Saudita, o presidente abordou a questão dos direitos humanos na Arábia Saudita", conclui o comunicado do palácio do Eliseu, sem dar detalhes da conversa entre os dois. 

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