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Extrema direita é "durável e poderosa" na França, dizem especialistas após resultado histórico de Le Pen

A candidata da extrema direita à presidência na França, Marine Le Pen, obteve 41,46% dos votos no segundo turno da eleição, no último domingo (24). Apesar de não ter conseguido se eleger, ela registrou um resultado inédito com o partido Reunião Nacional, o que prova, para o cientista político francês Jean-Yves Camus, que a legenda segue não sendo um componente efêmero da paisagem política do país. 

Marine Le Pen, French far-right National Rally (Rassemblement National) party candidate in the 2022 French presidential election, greets people at the end of a campaign rally in Arras, France, April 21, 2022
Marine Le Pen, French far-right National Rally (Rassemblement National) party candidate in the 2022 French presidential election, greets people at the end of a campaign rally in Arras, France, April 21, 2022 REUTERS - YVES HERMAN
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Há cinco anos, Marine Le Pen perdia, pela primeira vez, a disputa travada com Emmanuel Macron pela presidência da França. Na época, 32 pontos separavam os dois rivais. Em 2017, o centrista obteve 66,10% dos votos e a líder da extrema direita ficou com 33,90%.

No entanto, o cenário hoje é outro. Marine Le Pen avançou 16 pontos e algumas pesquisas apontavam, antes da eleição, que a diferença de votos entre os dois candidatos seria ainda menor, de apenas 10%. A previsão incitou muitos indecisos a irem às urnas para votar em Macron e impedir que a extrema direita chegasse à presidência.

Mas, para Jean-Yves Camus, diretor do Observatório dos Radicalismo Políticos na Fundação Jean Jaurès, "o partido de Marine Le Pen está se construindo não apenas como uma força durável, mas poderosa". O especialista lembra que desde a fundação da legenda em 1972, originalmente nomeada de Frente Nacional, a conquista do eleitorado não parou de crescer. 

Ele aponta que os resultados do partido em eleições presidenciais registram uma progressão importante. Em 2002, o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, obteve 17,79% dos votos no segundo turno que disputou com o presidente Jacques Chirac, que se reelegeu com 82,21%. No último domingo, quase 42% dos eleitores franceses apostaram na extrema direita. "É um partido que veio para ficar, isso é certo", defende Camus. 

Segundo o especialista, a oposição demorou a aceitar que a direita nacionalista francesa não foi erradicada com o fim da Segunda Guerra Mundial. "Esse atraso para entender que ela ainda tem espaço na paisagem política francesa suscitou um atraso na resposta", aponta. 

Progressão fulgurante 

Entre 2017 e 2022, Marine Le Pen melhorou seu score na maioria das cidades francesas. A candidata chegou a ganhar mais de dez pontos em 11.670 cidades. Em 6.500 municípios, ela obteve mais de 60% dos votos. 

Nos territórios ultramarinos, o Reunião Nacional varreu o cenário eleitoral. A líder da extrema direita registrou resultados impressionantes nas Antilhas (América Central), na Guiana (América do Sul), na ilha da Reunião e em Mayotte (Oceano Índico).

Há cinco anos, Macron liderava a preferência do eleitorado em todas essas localidades. Em Fort-de-France, capital da Martinica, Marine Le Pen avançou 37 pontos em relação à eleição presidencial de 2017. Neste território ultramarino no Caribe, ela obteve 77,5% dos votos.

A pesquisadora Christiane Rafidinarivo, do Centro de Pesquisas Políticas da Sciences Po de Paris, salienta que, nas Antilhas e na ilha da Reunião, o candidato da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, do partido França Insubmissa, liderou a preferência do eleitorado no primeiro turno. A migração do voto da esquerda radical para a extrema direita em apenas duas semanas é, segundo ela, uma prova de uma forte rejeição a Macron nos territórios ultramarinos. 

A média de abstenção de 53% nessas localidades também mostra uma recusa do eleitorado em barrar a extrema direita, conforme pediram várias personalidades políticas, entre elas o próprio Mélenchon. "Nos territórios ultramarinos, essa rejeição está ligada a uma forma de incompreensão sobre a recomendação de bloqueio do Reunião Nacional votando em Emmanuel Macron. Isso foi algo visto como ambíguo por muitos eleitores que preferiram, então, não ir votar", ressalta Rafidinarivo. 

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