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Apesar da derrota de Marine Le Pen, militantes de extrema direita comemoram resultado histórico

Apesar da derrota de Marine Le Pen na eleição presidencial francesa, neste domingo (24), os militantes do partido Reunião Nacional comemoraram o resultado histórico da extrema direita, que nunca esteve tão próxima da presidência na França. 

Marine Le Pen faz selfie com uma eleitora durante a recepção de anúncio dos resultados do segundo turno das eleições presidenciais francesas, em Paris, em 24 de abril de 2022.
Marine Le Pen faz selfie com uma eleitora durante a recepção de anúncio dos resultados do segundo turno das eleições presidenciais francesas, em Paris, em 24 de abril de 2022. © REUTERS / YVES HERMAN
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Às 20 horas de domingo, dois grandes telões no elegante Pavilhão d’Armenonville, em um bairro nobre de Paris, mostraram a derrota da candidata da extrema direita Marine Le Pen para Emmanuel Macron, no segundo turno da eleição presidencial na França. Mas na mansão escolhida como base para reunir os militantes do partido Reunião Nacional, o clima não era de tristeza. 

"Estamos decepcionados, mas também orgulhosos desse resultado histórico para o Reunião Nacional e confiantes para as legislativas", Christian Gérard, 21 anos.

Com uma bandeira da França enrolada nas mãos, o jovem estava emocionado. Horas antes de conhecer o resultado da eleição, Christian contou que veio de ônibus da região da Dordonha, no sudoeste do país e que trabalhou até os últimos momentos, colando cartazes, percorrendo toda sua região de ônibus, indo a feiras e distribuindo santinhos. "Eu militava para Marine Le Pen em 2017, quando ainda não podia votar", disse.

 "Vamos lutar ainda mais que na eleição para presidente, agora que sabemos que os franceses entenderam nosso programa. A campanha não acabou. Vamos nos mobilizar todos: os jovens, os menos jovens, os deputados que foram eleitos, os que não foram eleitos, todo mundo vai se mobilizar pela Reunião Nacional, por Marine Le Pen e para que os combates que os franceses realizam no quotidiano não sejam em vão", tentando manter o entusiasmo.

 

Christien Gérard, eleitor de Marine Le Pen de 21 anos, na base do partido Reunião Nacional, em Paris, em 24 de abril de 2022.
Christien Gérard, eleitor de Marine Le Pen de 21 anos, na base do partido Reunião Nacional, em Paris, em 24 de abril de 2022. © Ana Carolina Peliz - RFI

Entre taças de champanhe e petit fours, os militantes presentes lembravam que o discurso de Marine Le Pen sobre o empobrecimento dos franceses e o poder de consumo era o que os tinha feito votar pela candidata de extrema direita. "O poder de consumo é uma coisa que me preocupa muito. Eu estudo e trabalho ao mesmo tempo. É necessário devolver aos franceses seu poder de compra", disse Christian.

"Estamos decepcionados, mas ao mesmo tempo contentes com o resultado porque nunca tivemos um resultado tão expressivo e uma diferença tão pequena contra a parte que representa o sistema", disse Charles, um parisiense de 26 anos, uma taça de champanhe na mão e um sorriso confiante.

"Agora somos nós que devemos transformar este resultado para as eleições legislativas que vão chegar rapidamente no mês de junho. Se Emmanuel Macron não conseguir ter a maioria na Assembleia Nacional ele será obrigado a negociar com as forças políticas do país e conosco"

"Vamos tratar de mandar o maior número de deputados do Reunião nacional à Assembleia. Vamos voltar ao trabalho a partir de amanhã, aprender de nossos erros e continuar trabalhando", disse.

O desafio é grande, já que atualmente a extrema direita tem apenas sete representantes no Parlamento francês que conta com 577 deputados.

O parisiense Charles, eleitor de Marine Le Pen na base da campanha onde se reuniram os militantes da extrema direita para conhecer os resultados do segundo turno, em Paris, em 24 de abril de 2022.
O parisiense Charles, eleitor de Marine Le Pen na base da campanha onde se reuniram os militantes da extrema direita para conhecer os resultados do segundo turno, em Paris, em 24 de abril de 2022. © Ana Carolina Peliz - RFI

"Decepcionada por um lado mas por outro satisfeita, porque o resultado foi melhor que em 2017", disse a policial Letícia, de mãos dadas com a filha de 8 anos. "Espero que o presidente Emmanuel Macron leve em consideração os eleitores do Reunião Nacional em suas próximas decisões". 

Para Macron, será sobretudo difícil ignorar os eleitores de extrema direita após a progressão de Marine Le Pen, que obteve 42 % dos votos neste domingo, contra 33% em 2017. 

A policial e eleitora de Marine Le Pen, Laetitia na base do partido Reunião Nacional, em Paris, em 24 de abril de 2022.
A policial e eleitora de Marine Le Pen, Laetitia na base do partido Reunião Nacional, em Paris, em 24 de abril de 2022. © Ana Carolina Peliz - RFI

Ingerência de Lula

"Eu não estou decepcionada com o resultado", disse Monique Guard da Guiana Francesa, onde Marine Le Pen foi a primeira colocada com 60% dos votos. "A Guiana fez uma demonstração de democracia, a Martinica fez uma demonstração de democracia. A lição que nós enviamos para a França é que pare de diabolizar as pessoas. Às vezes é necessário parar e escutar », afirmou a militante de 51 anos. 

Marine Le Pen tirou vantagem do antimacronismo nas Antilhas Francesas, que aumentou após a crise sanitária e com a decisão do governo de obrigar profissionais de saúde a se vacinarem, em novembro de 2021. A medida foi o estopim de uma greve geral e de manifestações que denunciavam a falta de profissionais de saúde e o abandono dos hospitais. 

Monique também criticou as declarações do ex-presidente Lula no Twitter. Ele pediu aos eleitores franceses que barrassem a extrema direita nas eleições. "Não vamos tampar o sol com a peneira. Temos muitos problemas com os garimpeiros. Mas quando eu ouço o Lula convocar para fazer barragem para Marine Le Pen, na Guiana Francesa não entendemos", disse.

"Ao dizer que não era para votar por Marine, Lula falou ao mundo, ou talvez aos franceses que vivem no Brasil. Isso é  ingerência"

"Ele deveria cuidar de seu território e deixar os guianenses ou franceses, cuidarem de nosso território. O que ele ganha com isso? Ele não ganha nada! O Brasil e a Guiana Francesa vivem lado a lado e isso pode trazer frustrações aos guianenses", concluiu a militante.

Monique Guard, da Guiana Francesa, eleitora de Marine Le Pen na base do partido Reunião Nacional, após o anúncio dos resultados do segundo turno, em 24 de abril de 2022.
Monique Guard, da Guiana Francesa, eleitora de Marine Le Pen na base do partido Reunião Nacional, após o anúncio dos resultados do segundo turno, em 24 de abril de 2022. © Ana Carolina Peliz - RFI

Diabolização e revanche

"Para as eleições legislativas, vamos convencer os eleitores de Mélenchon e muitos já entenderam", disse David Rachline, prefeito da cidade de Fréjus, no sudeste da França, fazendo referência ao candidato da esquerda radical que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 22% dos votos. 

Rachline disse que membros do partido fariam um balanço dos erros e acertos da campanha nos próximos dias. "O que eu notei, em todo caso, foi a brutalidade e a violência do sistema, dos próximos a Emmanuel Macron, que se comportaram como mercadores do medo, dizendo que o mar iria embora, que o sol não se levantaria mais e criticaram nosso projeto. Tentaram amedrontar os franceses. Eles conseguiram em parte, mas somente em parte, porque nós progredimos de maneira espetacular e eu fico feliz", afirmou. 

"Nosso trabalho será, uma vez mais, mostrar quem somos realmente, longe da caricatura, longe dos anátemas que às vezes nos lançam", disse. 

A estratégia de reconstrução da imagem da candidata parece ter funcionado. Escondendo os parágrafos mais polêmicos de seu projeto de governo, sobre imigração ou uma possível saída da França da União Europeia, e colocando o foco no poder de compra dos franceses mais pobres, Marine Le Pen não ganhou as eleições, mas conseguiu uma revanche dentro de seu próprio campo. 

Após a derrota na eleição de 2017 diante do novato Emmanuel Macron, ela ficou desacreditada, perdeu apoios importantes, inclusive de sua própria sobrinha, Marion Maréchal Le Pen, que pediu votos para o ex-jornalista e candidato também de extrema direita Éric Zemour.

Talvez tenham sido os temores de uma nova derrota retumbante que fizeram Marine Le Pen dizer, em março, que pretendia deixar a política se perdesse a eleição. Mas o teor de seu discurso de domingo a noite indica que a candidata quer aproveitar o embalo de sua votação histórica e "continuar seu combate", visando as eleições legislativas de junho.  

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