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Jornal francês critica proximidade de Macron com presidente autoritário do Egito

O presidente do Egito, Abdel Fatah Al-Sissi, está em Paris desde a noite de domingo (6) para uma visita de Estado de três dias à França. A presença do dirigente egípcio em solo francês é criticada por organizações de defesa dos direitos humanos e parte da imprensa.

O jornal Libération analisa a visita de Estado do presidente do Egito a Paris, Abdel Fatah Al-Sissi.
O jornal Libération analisa a visita de Estado do presidente do Egito a Paris, Abdel Fatah Al-Sissi. © Fotomontagem RFI/Adriana de Freitas
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O jornal Libération informa que Al-Sissi é recebido pelo presidente Emmanuel Macron como "um aliado da França no combate ao terrorismo" e no espinhoso conflito líbio. A proximidade de Paris com o poder no Cairo incomoda o diário progressista pela situação dos direitos humanos no país árabe. O Egito mantém atualmente 60 mil pessoas atrás das grades por "delito de opinião". Entre os prisioneiros políticos estão advogados, jornalistas, ativistas dos direitos humanos e opositores que criticam o autoritarismo do regime de Al-Sissi. A tortura é prática corrente nas prisões egípcias, denuncia a ONG Anistia Internacional.

Durante os preparativos da visita, diplomatas franceses pressionaram as autoridades no Cairo e obtiveram a liberação de três ativistas da Iniciativa Egípcia pelos Direitos Pessoais (EIPR), que tinham sido detidos em novembro. O número de libertações é considerado, no entanto, irrisório.

Na semana passada, em uma carta aberta a Macron, 17 ONGs, incluindo a Anistia Internacional, pediram ao presidentes francês para "colocar um fim ao apoio incondicional ao governo egípcio".

A França considera o Egito um pilar da "estabilidade" na região ante o terrorismo transfronteiriço, destaca o Palácio do Eliseu. No entanto, a importância e a eficácia do papel do Egito nesta área continuam difíceis de determinar. "O regime egípcio está exagerando suas capacidades nesse sentido ao se apresentar como um baluarte da Europa contra os extremistas", opina nas páginas do Libération Hussein Baoumi, pesquisador sobre o Egito na Anistia Internacional.

Neste ano, Egito e França sofreram um revés na Líbia ao apoiar o marechal rebelde Khalifa Haftar, que claramente falhou em sua tentativa de estabelecer um poder unitário no país, apesar de todos os meios militares colocados à sua disposição. Desde que a intervenção direta da Turquia na Líbia mudou o rumo dos acontecimentos, Paris e Cairo voltaram a demonstrar apoio à solução política da ONU, pedindo a retirada de tropas estrangeiras e mercenários da Líbia.

Convergência

É devido à recente agressividade da Turquia de Erdogan na Líbia e no leste do Mediterrâneo que a França e o Egito estão estreitando seus laços, explica o Libération. “O confronto com a Turquia reforçou uma proximidade ideológica entre os dois países”, observa Claire Talon, pesquisadora do Centro Árabe de Pesquisa e Estudos em Paris (Carep). A especialista do Egito destaca a importância de uma "relação que se tornou triangular entre Paris, Cairo e Abu Dhabi, e que norteia toda a política francesa no Oriente Médio".

Outro "parceiro estratégico" da França na região, os Emirados Árabes Unidos estão engajados em uma rivalidade total contra o projeto de Islã político de Erdogan. Eles formam com o Egito e a Arábia Saudita um eixo autoritário que se opõe a qualquer democratização em nome da luta contra o extremismo e o terrorismo, destaca o jornal.

Essa interpretação é reforçada pelo novo compromisso de Macron no combate ao extremismo islâmico no território francês. "E mesmo que as situações não sejam de forma alguma comparáveis, o ditador egípcio poderia aproveitar essa convergência durante suas conversas em Paris para fazer as pessoas esquecerem os 60 mil prisioneiros que ele continua mantendo sob acusações de terrorismo islâmico", conclui o Libération.

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