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Vacina Covid-19: Sanofi sinaliza vantagem de acesso aos EUA e provoca indignação na França

Neste momento em que há uma corrida global pela descoberta de uma vacina contra a Covid-19, a declaração do diretor-geral do laboratório farmacêutico francês provoca indignação na França. Paul Hudson afirmou na quarta-feira (13) que a Sanofi dará vantagem de acesso a uma eventual vacina contra o Covid-19 aos Estados Unidos. O governo francês julga essa possibilidade "inaceitável" e o presidente da Sanofi na França tentou nesta quinta-feira (14) acalmar os ânimos, garantindo um acesso a todos os países.

O laboratório francês Sanofi disse que trabalha com autoridades europeias para facilitar o acesso da Europa para uma eventual vacina contra a Covid-19.
O laboratório francês Sanofi disse que trabalha com autoridades europeias para facilitar o acesso da Europa para uma eventual vacina contra a Covid-19. REUTERS - Charles Platiau
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A secretária de Estado da Economia francesa, Agnès Pannier-Runacher, foi uma das primeiras a reagir ao anúncio do laboratório farmacêutico. Segundo ela, "seria inaceitável que houvesse acesso privilegiado a um país com um pretexto financeiro".

Em entrevista à agência Bloomberg, o diretor-geral da Sanofi, Paul Hudson, havia adiantado na quarta-feira que o laboratório provavelmente reservaria aos Estados Unidos a eventual vacina contra o novo coronavírus, porque as autoridades americanas "compartilharam o risco" e investiram em seu desenvolvimento. Paul Hudson salientou que os americanos poderiam receber o produto "vários dias ou semanas" antes dos outros países.

Além do governo, políticos franceses de todas as tendências se indignaram. O líder do Partido Socialista, Olivier Faure, denunciou uma "tática mercantilista", lembrou os méritos de uma nacionalização e instou o governo a agir. Marine Le Pen, presidente do partido de extrema direita Reunião Nacional perguntou se o país vai continuar "se lamentando pelo patriotismo econômico praticado por outros (no caso os Estados Unidos) ou se vai agir? ". Le Pen destacou ainda que a Sanofi "não é mais uma empresa francesa".

Empresa francesa?

De acordo com o site do laboratório, em 31 de janeiro de 2020, o principal acionista do grupo era a multinacional francesa L'Oréal com 9,3% do capital. Globalmente, 37,3% dos acionistas são franceses, mas mais de 60% dos investidores são estrangeiros, sendo 28,1% americanos. Mas vários críticos lembram que a empresa, sediada na França, se beneficia de milhões de euros em redução de impostos de apoio à pesquisa.   

A controvérsia também chega ao mundo associativo. A ONG Oxfam considerou a informação "simplesmente escandalosa" e criticou "as motivações financeiras e a busca de lucros pelos gigantes da indústria farmacêutica".  

A secretária de Estado da Economia, Pannier-Runacher informou ter imediatamente entrado em contato com a Sanofi e obtido a garantia de que uma vacina seria acessível a todos.

Negociações da Sanofi com a UE

O acesso universal é a mensagem que o grupo tenta passar para acabar com a polêmica criada pelas declarações do diretor-geral. Em entrevista na manhã desta quinta-feira à radio France Info, o presidente da Sanofi na França, Olivier Bogillot, tentou tranquilizar os franceses. Ela garantiu que se o laboratório descobrir uma vacina eficaz contra a Covid-19, "ela será acessível a todo mundo" e nenhum país será privado do tratamento.

No entanto, ele não desmentiu categoricamente a possibilidade do produto ser distribuído primeiramente nos Estados Unidos. "Teoricamente, o objetivo é que a vacina esteja disponível nos EUA na França e na Europa no mesmo momento. Mas, na realidade, isso será possível "se os europeus trabalharem tão rápido quanto os americanos", afirmou Olivier Bogillot.

O presidente da Sanofi na França pediu que as autoridades europeias colaborem financeiramente com a pesquisa, enfatizando que os Estados Unidos já haviam prometido várias centenas de milhões de euros, além de facilitar procedimentos de regulamentação dos testes.

"Os americanos são eficazes no momento. A UE deve ser tão eficiente para nos ajudar a disponibilizar a vacina rapidamente", insistiu Bogillot, que também concedeu uma entrevista à BFMTV. Ele revelou que negocia com as autoridades europeias, e particularmente com França e Alemanha.

Vacina só em 2021

Em relação ao estágio da pesquisa, Bogillot não espera ter uma vacina eficaz antes de 18 a 24 meses. Mas ele ressaltou que este prazo é mais rápido do que o normal. "Desenvolver uma vacina leva dez anos", salientou.

A Sanofi, uma dos maiores especialistas em vacinas do mundo, se lançou na corrida pela descoberta de um tratamento contra o novo coronavírus em meados de fevereiro. Para realizar suas pesquisas, o laboratório farmacêutico assinou um acordo de cooperação com a Autoridade Barda, que depende do ministério americano da Saúde. O grupo vai utilizar sua tecnologia de recombinação do DNA para "acelerar a descoberta de uma eventual vacina contra a Covid-19", segundo um comunicado divulgado na época. Sanofi também se aliou ao laboratório britânico GSK.

(Com informações da AFP e da imprensa francesa)

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