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França/coronavírus

Franceses lotam estações de trem rumo a casas de campo e de praia para driblar confinamento, mas são criticados pelos médicos

Diante da ideia de passar pelo menos 15 dias de isolamento numa metrópole praticamente deserta, com parques e a maioria do comércio fechados, os franceses lotam as estações ferroviárias para fugir para o interior ou litoral. Eles buscam espaço para respirar, a fim de suportar o confinamento necessário ao combate da epidemia de coronavírus.

Parisienses aguardam trem na Gare du Nord para viajarem ao interior da França.
Parisienses aguardam trem na Gare du Nord para viajarem ao interior da França. Foto: REUTERS/Christian Hartmann
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A ideia de ficar trancado num apartamento pequeno, particularmente em Paris, tornou-se insuportável para milhares de pessoas acostumadas a passar a maior parte do tempo no espaço público. O êxodo dos habitantes das grandes metrópoles francesas começou na semana passada e se acentuou no domingo (15), quando foi ficando claro que o combate à epidemia do Covid-19 levará semanas ou mais provavelmente meses, como preveem os infectologistas.

Na manhã desta terça-feira (17), as cinco estações ferroviárias de Paris foram tomadas por viajantes em busca dos últimos trens disponíveis, antes de uma redução drástica do tráfego anunciada pela companhia SNCF.

Em uma pesquisa com seus leitores, o jornal Le Monde recolheu dezenas de depoimentos de parisienses que fugiam da capital, a maioria pessoas da faixa etária de 18 a 40 anos. Um leitor contou que estava de mudança temporária para o vilarejo de nove habitantes onde sua companheira tem uma casa na região oeste do país.

Famílias com crianças e adolescentes tiveram o mesmo reflexo, ignorando a orientação das autoridades sanitárias para evitar os deslocamentos. A companhia marítima que faz o transporte para Belle-Île-en-Mer, na costa francesa do Atlântico, viu em poucas horas as balsas lotarem com motoristas que deixaram as zonas urbanas para se instalar em casas de praia, muitos provenientes de Paris.

Críticas dos médicos

Esse êxodo interno é condenado por especialistas. O pediatra Rémi Salomon, presidente da comissão médica da rede de hospitais públicos da região parisiense, conhecida pela sigla AP-HP, criticou essa precipitação. Ele teme que o Covid-19 se espalhe em áreas remotas até então poupadas de contágio e, pior, sem estrutura hospitalar capaz de absorver os casos de emergência.

“Atravessamos um momento extremamente grave, excepcional. Se os franceses não compreenderem que devem ficar em casa, os hospitais não darão conta de acolher os doentes necessitados de reanimação nas próximas semanas. Será uma situação dramática”, alertou o médico em entrevista ao canal BFMTV.

Famílias franco-brasileiras desistem de viajar para o interior

O casal franco-brasileiro Mathieu e Caroline Laville, moradores na região parisiense, atravessou esse momento de hesitação depois que Mathieu passou a trabalhar pelo sistema de “home office”, na semana passada. Pais de duas crianças pequenas, um menino de 2 anos e meio e um bebê de 8 meses, eles pensaram em enfrentar o isolamento na cidade de Royen, a 500 km de Paris, onde residem familiares. Mas acabaram desistindo da viagem.

“Achamos melhor ficar em nossa casa, onde as crianças têm seus brinquedos. Lá não teríamos conexão de internet. Também refleti com meu marido sobre o risco de contágio para nossos vizinhos idosos de Royen. Eles têm mais de 80 anos de idade e não sabemos se nós estamos contaminados”, disse Caroline à reportagem da RFI.

Bruna e Arthur B.*, pais de duas crianças pequenas, também cogitaram a possibilidade de deixar a região parisiense para se instalar na casa dos pais de Arthur, na região oeste. A idade avançada dos sogros e o risco de contaminá-los, conta a brasileira Bruna, acabou persuadindo o casal a permanecer no apartamento deles em Issy-les-Moulineaux, um subúrbio da capital.

Mãe de um bebê de 7 meses e de uma menina de 2 anos, Bruna parou de trabalhar com o fechamento da creche por tempo indeterminado, na última segunda-feira (16). Ela se encontra em situação de desemprego técnico. Arthur, como a maioria dos franceses, trabalha em casa.

“Estamos evitando os parques que têm brinquedos para crianças. A gente sai para passear na beira do rio Sena, onde tem áreas para andar de patinete que não estão proibidas. Temos de sair, principalmente por causa da menina mais velha, senão ela surta de ficar fechada. Alimentamos os patos e andamos um pouco. É necessário para nossa saúde mental. Mas está sendo uma situação muito estranha e estamos bem estressados”, relatou Bruna à RFI.

*Os nomes foram trocados a pedido da entrevistada.

 

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