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O Brasil na Suíça: artistas negros expõem na ONU, em Genebra

Mais de 20 artistas negros do Brasil expõem suas obras na sede da ONU, em Genebra, na Suíça. A RFI acompanhou a abertura da exposição de arte “Atlântico Vermelho”, que contou com a participação da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, de autoridades brasileiras, artistas e representantes de organizações não governamentais.

Esta é a primeira exposição de arte contemporânea no Fórum Permanente de Afrodescendentes.
Esta é a primeira exposição de arte contemporânea no Fórum Permanente de Afrodescendentes. © Valeria Maniero
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Valéria Maniero, correspondente da RFI em Genebra, na Suíça

A cantora Teresa Cristina levou o samba para dentro da ONU, cantando Senhora da Liberdade, Sorriso Negro e um samba-enredo da mangueira. Ela também fez uma oração, citando nomes de mulheres negras.

O Brasil está presente nessa mostra e em outros dois eventos que acontecem esta semana por causa do Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU, considerado o evento mais importante das Nações Unidas sobre a questão racial.

Eu perguntei para a ministra Anielle Franco quão importante era aquele tipo de evento para o Brasil: “Nesses últimos 14, 15 meses à frente do ministério, a gente tem recebido muitas pessoas que há anos tentam viver da sua arte. E acho que a diferença de ter agora um governo humanizado, democrático, é que eu posso pegar o telefone e falar: Margareth, o que a gente pode fazer, que é a ministra da Cultura, uma mulher Negra, que entende. A importância de estar aqui e encontrar artistas negros que contam as nossas histórias que, historicamente e sistematicamente, são negadas há tanto tempo, é imensurável. Diz que a gente está no caminho certo, demonstra cada vez mais que a gente tem condições de falar por si só, que isso é algo que, enquanto mulher negra, eu sinto diariamente, muitas pessoas que acham que podem falar por nós e a gente cada vez tem reafirmado ser protagonistas das nossas histórias”.

Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, participa de evento em Genebra, na Suíça.
Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, participa de evento em Genebra, na Suíça. © Valeria Maniero / RFI

Caso Marielle

Eu também perguntei para a ministra a respeito das respostas que  faltam no caso Marielle. Ela disse que ainda é preciso garantir que a Justiça seja feita. Disse que a prisão dos envolvidos é um avanço, mas que é necessário esperar que as coisas se concretizem de fato. Falou também que falta tudo, mas que principalmente falta a irmã. Sobre os votos dos parlamentares favoráveis à liberação dos envolvidos que estão presos, disse que, para ela, foi “zero surpresa”.

Legitima o que o país da gente tem virado. A gente está lutando contra barbárie, fascismo, genocídio, contra vários tipos de violência. Diz muito do Congresso que a gente tem”.

 

A cantora Teresa Cristina ficou emocionada ao falar com a RFI sobre o que representava para ela estar ali.

“É muito importante qualquer tipo de alcance sobre a fala do povo preto. Eu fiquei muito emocionada com o convite, não foi fácil, porque eu tive de procurar o meu próprio financiamento, assim como os artistas que estão aqui expostos também lutaram para conseguir chegar aqui, expor o seu trabalho. Para minha carreira, é muito importante porque eu não sou só eu. Eu acho que o meu corpo é um corpo que se repete. Existem muitas Teresas no Brasil. E eu acho importante eu chegar até aqui, à ONU, pra cantar numa exposição dessas, porque eu quero que outras Teresas venham. Que isso se repita de alguma forma. Estar aqui hoje é uma vitória pra mim, mas é uma vitória para pessoas como eu, que são muitas”.

Autoridades e organizações civis do mundo todo vão se reunir para discutir temas importantes, como discriminação e desigualdade racial, xenofobia, educação e letramento racial, justiça reparatória.

Um dos objetivos deste Fórum é a elaboração de uma Declaração Universal sobre Direitos Humanos de Afrodescendentes, que terá força de Tratado Internacional.

Essa exposição é organizada pelo Instituto Luiz Gama, a ONG Paramar e o Instituto Guimarães Rosa.
Essa exposição é organizada pelo Instituto Luiz Gama, a ONG Paramar e o Instituto Guimarães Rosa. © Valeria Maniero

Esta é a primeira exposição de arte contemporânea no Fórum Permanente de Afrodescendentes. No total, 22 artistas afrodescendentes brasileiros de diferentes partes do país estão expondo 63 obras, como fotografias, esculturas e pinturas.

Essa exposição é organizada pelo Instituto Luiz Gama, a ONG Paramar e o Instituto Guimarães Rosa.

Curador da exposição, Marcelo Campos também falou com a RFI sobre a mostra.

“A Atlântico Vermelho é um projeto que reúne artistas negros, negras e negros do Brasil. Um projeto importante porque ele procura trazer as reflexões atualizadas e contemporâneas sobre o processo da Diáspora Africana. Ao mesmo tempo, ter artistas que são descendentes, afrodescendentes e, além disso, trazer a própria compreensão de luta, de sobrevivência, de certa maneira, de reparação histórica, referente à população afrobrasileira. Estar aqui na ONU é fundamental porque a gente está no Fórum de discussão, que pode fazer com que a exposição não fique restrita a uma exibição somente. Nós vamos discutir no Fórum, vamos propor cláusulas dentro da própria ideia da Constituição Brasileira, em relação à população afrodescendente”.

Nos eventos paralelos que acontecem até sexta, especialistas, representantes do governo brasileiro e artistas vão debater a efetivação dos direitos humanos por meio do poder da arte e, no final, vão fazer um documento com sugestões para serem incluídas na Declaração Universal sobre Direitos Humanos de Afrodescendentes.

A exposição está sendo realizada em um dos espaços mais nobres da ONU: no mezanino ao lado da Sala do Conselho de Direitos Humanos e da Aliança das Civilizações.  

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