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Em Genebra, ministro ataca presidente do BC por juros altos no Brasil: “já tinha motivo para ser demitido”

O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, voltou a atacar o Banco Central por manter os juros altos no Brasil – a taxa básica está em 13,75% ao ano. Referindo-se ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto, o ministro disse que “já tinha motivo para ser demitido” e que “se fosse qualquer empresa privada, já estava na rua”.

O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho
O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho © Valeria Maniero
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Valéria Maniero, correspondente da RFI em Genebra

O ministro fez essas afirmações quando questionado pela RFI sobre a manutenção da taxa de juros em patamar elevado – também criticada esta semana pela empresária Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza. “Me parece mais capricho do que o zelo técnico, rigor técnico”, disse o ministro, que está em Genebra, na Suíça, participando da Conferência Internacional do Trabalho. O evento reúne representantes de trabalhadores, empregadores e governos de 187 estados membros da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

“Na verdade, se o Senado brasileiro fosse observar a rigor, o presidente do Banco Central teria sido demitido da sua função porque entre as suas funções está a inflação, portanto, os juros, mas está lá também emprego. Eu não lembro, em nenhuma ata, estar lá o tema emprego sendo abordado. Ou seja, ele não está cumprindo as suas obrigações. Então, já tinha motivo para ser demitido, troca", avaliou. "Se fosse qualquer uma empresa privada, já estava na rua. Teriam colocado outro com mais competência para olhar a abrangência da sua competência. Isso é a minha visão”, disse.

Sobre a afirmação da empresária Luiza Trajano, que pediu a Campos para sinalizar com a redução dos juros, ele respondeu que “a Luiza Trajano, sendo uma empresária que é, com a amplitude que tem, com a repercussão da fala que tem, é talvez uma das maiores autoridades para fazer essa abordagem que ela fez. Eu espero que o presidente do Banco Central não enxergue, de novo, como mais uma afronta". "Está me afrontando, então, por capricho, vou manter. Não faz absolutamente nenhum sentido”, continuou.

Se decisão fosse do governo, 'nós já teríamos trocado'

Segundo ele, ao manter a taxa elevada, “a sociedade tem que passar a cobrar do Senado brasileiro, que tem a função de controle desse processo”. Marinho explicou que uma decisão não cabe ao governo federal, "porque se fosse, nós já teríamos trocado".

"Pelo rigor técnico, a inflação, não é de hoje que está sob controle, as nossas exportações, o crescimento da economia. Tudo está colocado. O governo vem fazendo malabarismos e sacrifícios para não parar a economia", salientou. "Então, creio que talvez seja o último apelo para que o presidente do BC, de fato, conduza da maneira que a sociedade espera. Todos os outros agentes econômicos falam a mesma coisa. Até os bancos chegaram à conclusão que está asfixiando a economia.”

Ele também perguntou se “era um ranço, um capricho, uma marra do presidente Lula falar dos juros?”, antes de lembrar que o juro no Brasil é o mais alto do mundo. "O que a Luiza Trajano vem dizer é o seguinte: olha, não tem demanda coisíssima nenhuma, tem é produto estocado na prateleira por falta de renda e de crédito”, disse. "Não é com 0,25%. Venha com mais”, pediu o ministro.

Perguntado sobre quem ganhava com os juros altos, ele disse “que os bancos ganham, com certeza” e citou o caso de um empresário que prefere investir em títulos públicos por conta dos juros a enfrentar o risco de empreender.

“Cada empreendedor, cada investidor que chega à essa conclusão é mais um elo da economia que vai parando, paralisando. Isso é muito perigoso", frisou.

Os desafios do mercado de trabalho

A RFI também perguntou ao ministro se ele tinha boas notícias para dar aos trabalhadores brasileiros, já que o país soma 39 milhões de trabalhadores informais, mais de 9 milhões de desempregados e 1,6 milhão trabalham na precariedade de aplicativos. Marinho ressaltou que o primeiro passo foi “o resgate da democracia". “Sem isso, não tem chance de debater direitos. Aliás, nós vínhamos num profundo retrocesso, um profundo mergulhar no abismo”, afirmou, a partir dos governos que sucederam a ex-presidente Dilma Rousseff.

Bolsonaro, explicou, "mergulhou as relações de trabalho numa precariedade absurda no Brasil"e uma revisão da legislação trabalhista será necessária.

“Não deve ser simplesmente uma proposição de governo. Todo o desmonte veio ancorado no desmonte dos contratos coletivos, das negociações coletivas, estimulando a negociação individual”, detalhou.

Marinho disse que o governo está estimulando que “as partes", incluindo os empresários, "construam um entendimento para oferecermos ao Parlamento brasileiro”, de modo a ter mais chances de tramitar positivamente junto aos deputados e senadores. 

O ministro também sinalizou a intenção de regular o trabalho por meio de aplicativos. “As empresas precisam assumir as responsabilidades, saber que as coisas não são exatamente como elas desejam", disse.

Segundo o ministro, a projeção para este ano é de criação de entre 2 e 2,2 milhões de empregos, incluindo os gerados nas obras paradas que foram retomadas.

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