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Pedofilia: Igreja Católica de Portugal abusou de quase 5 mil crianças desde 1950

O clero católico em Portugal abusou de quase 5.000 crianças desde 1950, declarou uma comissão independente na segunda-feira (13), anunciando suas descobertas depois de ouvir centenas de relatos de vítimas.

Mais de 4.800 menores sofreram abusos sexuais do clero católico em Portugal desde 1950.
Mais de 4.800 menores sofreram abusos sexuais do clero católico em Portugal desde 1950. REUTERS - PEDRO NUNES
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Milhares de relatos de pedofilia dentro da Igreja Católica surgiram em todo o mundo e o papa Francisco está sob pressão para enfrentar o escândalo.

O inquérito português, encomendado pela Igreja no país fortemente católico, publicou os resultados da sua investigação depois de ouvir mais de 500 vítimas. "Esses testemunhos permitem-nos de estabelecer uma rede muito maior de vítimas, pelo menos 4.815", disse o psiquiatra infantil Pedro Strecht em uma coletiva de imprensa em Lisboa.

Em outubro, a equipe de seis especialistas disse ter registrado 424 relatos legítimos de supostas vítimas, mas alertou que seus depoimentos indicavam que o número total de vítimas era "muito maior". Os relatos revelaram "situações graves que persistiram por décadas e em alguns casos atingiram proporções epidêmicas", afirmou a equipe.

O prazo para a apresentação de queixa já expirou para a grande maioria dos alegados delitos, mas 25 processos foram transferidos para a polícia e já foram abertos vários inquéritos.

Um desses raros casos diz respeito a "Alexandra", uma mulher de 43 anos que pediu anonimato. Ela alega que foi estuprada por um padre durante a confissão quando ela era uma freira noviça de 17 anos.

Denúncia ignorada  

“É muito difícil falar destas coisas em Portugal”, um país onde 80% das pessoas se dizem católicas, disse Alexandra, que já é mãe, formada em informática e trabalha como ajudante de cozinha.

"Mantive isso em segredo por muitos anos, mas tornou-se cada vez mais difícil lidar com isso sozinha", disse ela à agência AFP em entrevista por telefone.

Ela finalmente denunciou seu agressor às autoridades da Igreja, mas disse que foi "ignorada". O bispo responsável não fez nada além de encaminhar sua reclamação ao Vaticano, que ainda não respondeu.

Três anos depois de ter conseguido quebrar o silêncio, ela diz ter encontrado na comissão independente um ouvido compreensivo e o apoio psicológico de que precisa.

Em abril do ano passado, Manuel Clemente, cardeal patriarca de Lisboa e prelado do mais alto escalão em Portugal, disse estar preparado para “reconhecer os erros do passado” e pedir “perdão” às vítimas.

"Bispos pedindo perdão não significam nada para mim. Não sabemos se eles querem dizer isso", retrucou Alexandra, que afirmou sentir "nojo" da Igreja e de seus acobertamentos de abuso sexual.

'Livrar a Igreja deste flagelo'   

O papa Francisco, que visitará Lisboa em agosto, poderá se encontrar com algumas das supostas vítimas, disse recentemente o bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar.

Diante de milhares de casos de abuso sexual do clero que vieram à tona em todo o mundo e as acusações de encobrimento, o pontífice prometeu em 2019 erradicar a pedofilia dentro da Igreja. Ele está sob pressão para lidar com o escândalo e as investigações foram iniciadas em vários países, entre eles Austrália, França, Alemanha, Irlanda e Holanda.

Os bispos de Portugal se reunirão em março para tirar conclusões do relatório independente e "livrar a Igreja desse flagelo tanto quanto possível", disse em janeiro o padre Manuel Barbosa, membro sênior da Conferência Episcopal Portuguesa.

Para Alexandra, que antecipa a resposta dos bispos com um misto de esperança e ceticismo, a comissão independente representa "um bom primeiro passo" para as vítimas que querem "quebrar o muro de silêncio" que as cerca há tanto tempo.

Com informações da AFP

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