Nobel para defensores de direitos humanos mostra que sociedade civil é importante no processo de paz
A atribuição do Nobel da Paz para defensores dos direitos humanos de Belarus, Ucrânia e Rússia, países em foco neste momento, é um símbolo forte para mostrar que a sociedade civil é parte importante do processo de paz, de acordo com Anaïs Marin, relatora especial da situação dos direitos humanos em Belarus, em entrevista à RFI. O prêmio foi concedido nesta sexta-feira (7) ao ativista pelos direitos humanos bielorrusso Ales Bialiatski e às ONGs Memorial, da Rússia, e Centro pelas Liberdades Civis, da Ucrânia.
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Marin diz que o prêmio “é um sinal forte enviado aos dirigentes mais autoritários da região, Putin e Lukachenko” e mostra que a paz “se faz também através destas pessoas e organizações que devem ser apoiadas” e “que lutam em condições extremamente difíceis de repressão”.
Ela lembra que a organização de Bialiatski, Viasna, luta pelos direitos humanos em Belarus por pelo menos três décadas. O ativista está preso desde julho de 2021, e corre o risco de ser condenado a 12 anos de prisão. Já a ONG russa Memorial foi proibida na Rússia, no ano passado.
Apesar de premiar ativistas e ONGs que militam contra o presidente russo Vladimir Putin, o comitê do Nobel preferiu manter a prudência e afirmou que não se tratava de uma premiação contra o chefe do Kremlin.
“O Nobel da Paz recompensa as pessoas que lutam pela paz usando meios pacíficos, então associações como Memorial ou Viasna, e a associação ucraniana que foi recompensada, trabalham neste sentido”, explica Marin.
“O fato do prêmio ter sido concedido a três organizações desses três países, dois deles em guerra e um considerado como co-agressor, é uma maneira de mostrar que a paz só pode ser feita respeitando a sociedade civil e a vontade dos indivíduos e não pelo desejo dos dirigentes”, afirma a relatora.
“Presente de grego” e memória
Para ela, Putin interpretará talvez os prêmios como um “presente de grego”, concedidos exatamente no dia de seu aniversário de 70 anos. Mas para ela, o Nobel deste ano recompensou pessoas que trabalham para resgatar o passado.
As origens de Memorial estão profundamente ligadas ao resgate da história da Rússia, explica Marin. “O poder cada vez mais autoritário da Rússia não permite reescrever a história da Segunda Guerra Mundial e camuflam os crimes cometidos na época de Stalin”, diz.
“Dessa maneira a organização também lembra que crimes contra a humanidade, crimes de agressão são cometidos pelo mesmo país, a Rússia, e que é importante guardar na memória justamente os erros do passado para que eles não se reproduzam mais. Isso é construir a paz”, diz.
Efeito em Minsk e Moscou
“Eu não sei em que medida Ales será informado e quando, que ele recebeu o prêmio. Os prisioneiros políticos em Belarus não têm acesso ao exterior, não podem receber visitas”, diz.
“Mas, claro, a propaganda do governo na Rússia e em Belarus fazem com que este prêmio não seja colocado em destaque na mídia”, lamenta. Apesar disso, ela acredita que o prêmio será um encorajamento. “Eu acho que será vivido como uma celebração para todas as pessoas que lutam quotidianamente pela defesa dos direitos humanos e que infelizmente não têm boas notícias há anos”, afirma.
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