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Nobel para defensores de direitos humanos mostra que sociedade civil é importante no processo de paz

A atribuição do Nobel da Paz para defensores dos direitos humanos de Belarus, Ucrânia e Rússia, países em foco neste momento, é um símbolo forte para mostrar que a sociedade civil é parte importante do processo de paz, de acordo com Anaïs Marin, relatora especial da situação dos direitos humanos em Belarus, em entrevista à RFI. O prêmio foi concedido nesta sexta-feira (7) ao ativista pelos direitos humanos bielorrusso Ales Bialiatski e às ONGs Memorial, da Rússia, e Centro pelas Liberdades Civis, da Ucrânia. 

Ales Bialiatski acena atrás das grades durante julgamento em Minsk, em Belarus, em Novembro de 2011.
Ales Bialiatski acena atrás das grades durante julgamento em Minsk, em Belarus, em Novembro de 2011. AP - Sergei Grits
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Marin diz que o prêmio “é um sinal forte enviado aos dirigentes mais autoritários da região, Putin e Lukachenko” e mostra que a paz “se faz também através destas pessoas e organizações que devem ser apoiadas” e “que lutam em condições extremamente difíceis de repressão”.

Ela lembra que a organização de Bialiatski, Viasna, luta pelos direitos humanos em Belarus por pelo menos três décadas. O ativista está preso desde julho de 2021, e corre o risco de ser condenado a 12 anos de prisão. Já a ONG russa Memorial foi proibida na Rússia, no ano passado.

Apesar de premiar ativistas e ONGs que militam contra o presidente russo Vladimir Putin, o comitê do Nobel preferiu manter a prudência e afirmou que não se tratava de uma premiação contra o chefe do Kremlin.

“O Nobel da Paz recompensa as pessoas que lutam pela paz usando meios pacíficos, então associações como Memorial ou Viasna, e a associação ucraniana que foi recompensada, trabalham neste sentido”, explica Marin.

“O fato do prêmio ter sido concedido a três organizações desses três países, dois deles em guerra e um considerado como co-agressor, é uma maneira de mostrar que a paz só pode ser feita respeitando a sociedade civil e a vontade dos indivíduos e não pelo desejo dos dirigentes”, afirma a relatora.

“Presente de grego” e memória

Para ela, Putin interpretará talvez os prêmios como um “presente de grego”, concedidos exatamente no dia de seu aniversário de 70 anos. Mas para ela, o Nobel deste ano recompensou pessoas que trabalham para resgatar o passado.

As origens de Memorial estão profundamente ligadas ao resgate da história da Rússia, explica Marin. “O poder cada vez mais autoritário da Rússia não permite reescrever a história da Segunda Guerra Mundial e camuflam os crimes cometidos na época de Stalin”, diz.

“Dessa maneira a organização também lembra que crimes contra a humanidade, crimes de agressão são cometidos pelo mesmo país, a Rússia, e que é importante guardar na memória justamente os erros do passado para que eles não se reproduzam mais. Isso é construir a paz”, diz.

Efeito em Minsk e Moscou

“Eu não sei em que medida Ales será informado e quando, que ele recebeu o prêmio. Os prisioneiros políticos em Belarus não têm acesso ao exterior, não podem receber visitas”, diz.

“Mas, claro, a propaganda do governo na Rússia e em Belarus fazem com que este prêmio não seja colocado em destaque na mídia”, lamenta. Apesar disso, ela acredita que o prêmio será um encorajamento. “Eu acho que será vivido como uma celebração para todas as pessoas que lutam quotidianamente pela defesa dos direitos humanos e que infelizmente não têm boas notícias há anos”, afirma.  

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