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Relatório de Ong mostra que União Europeia não cumpre objetivos de redução de agrotóxicos

Um relatório da Ong Pesticide Action Network Europe (PAN)  mostra que a Europa está muito longe de atingir o objetivo de livrar os pratos de seus consumidores de substâncias tóxicas. Ao contrário, o uso de agrotóxicos, de acordo com a associação, aumentou nos últimos 10 anos. Um terço das frutas produzidas e consumidas na União Europeia atualmente são contaminadas com agentes que poderiam causar problemas hormonais e câncer.

Imagem de ilustração. Relatório de ong mostra que Europa não cumpre regras sobre diminuição de agrotóxicos.
Imagem de ilustração. Relatório de ong mostra que Europa não cumpre regras sobre diminuição de agrotóxicos. JEAN-FRANCOIS MONIER / AFP
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Ana Carolina Peliz, da RFI

Desde 2011, os estados-membros da União Europeia se comprometeram legalmente a renunciar progressivamente a 55 pesticidas identificados como particularmente nocivos pela Orgnaização pela Alimentação e Agricultura (FAO). Mas o relatório da PAN mostra que não só os países não respeitam o compromisso, como a presença desses elementos tóxicos na alimentação aumentou de maneira espetacular na última década.

Em 2009, uma resolução europeia introduziu uma nova categoria de substâncias ativas chamadas "candidatos à substituição", com o objetivo de identificar as substâncias comprovadamente mais nocivas e substituí-las por alternativas químicas e não-químicas menos prejudiciais ao homem e ao meio ambiente. Em 2020, o Conselho Europeu foi mais longe e apresentou uma estratégia para reduzir em 50% o uso de agrotóxicos até 2030. 

Mas de acordo com o relatório da PAN, publicado nesta semana, em fevereiro de 2022, 56 candidatos à substituição ainda eram usados. Entre eles, o fungicida Ziram, que, segundo pesquisas científicas, causa desequilíbrios hormonais; o inseticida Pirimicarb, que poderia causar câncer e o fungicida Metconazole, que poderia ser tóxico para a reprodução humana.

Pessoas escolhem frutas e vegetais para comprar em uma feira de rua em Berlim, sexta-feira, 1º de abril de 2022. A contaminação de frutas e vegetais produzidos na União Européia pelos pesticidas mais tóxicos aumentou substancialmente durante a última década, de acordo com novas pesquisas publicadas na terça-feira, 24 de maio de 2022.
Pessoas escolhem frutas e vegetais para comprar em uma feira de rua em Berlim, sexta-feira, 1º de abril de 2022. A contaminação de frutas e vegetais produzidos na União Européia pelos pesticidas mais tóxicos aumentou substancialmente durante a última década, de acordo com novas pesquisas publicadas na terça-feira, 24 de maio de 2022. AP - Pavel Golovkin

Obrigação para AAPs

Conhecidos como Agrotóxicos Altamente Perigosos (AAP), de acordo com a FAO, estas substâncias representam um perigo de intoxicação aguda ou crônica, particularmente elevado para a saúde ou para o meio ambiente. Por isso, estes produtos químicos têm regras mais rígidas de uso na Europa.

“A razão pela qual a gente enfrenta este aumento de resíduos dessa categoria de pesticidas mais tóxica nos últimos 10 anos, é simplesmente porque a obrigação que existe, de fazer desaparecer essas substâncias, substituindo por alternativas mais seguras, nunca foi respeitada", lamenta Salomé Roynel, encarregada de campanhas na PAN Europe,  em entrevista à RFI.

"É uma obrigação dos estados-membros, como a França, a Alemanha e a Bélgica, e eles nunca aplicaram essa obrigação. É por essa razão que temos agricultores cada vez mais dependentes dessas substâncias e continuarão a utilizá-las de maneira crescente", afirma.

O estudo se focalizou em frutas e legumes de consumo corrente na Europa como kiwis, cerejas, maçãs e amoras produzidos nos 27 estados-membros do bloco. "Todas as informações ligadas à importação foram retiradas", explica Roynel. "Isso nos faz pressupor que os consumidores estariam sendo expostos a mais resíduos do que os observados durante o estudo", analisa.

Kiwis e cerejas

Entre as frutas, o aumento mais expressivo é o do kiwi. Enquanto a fruta era quase totalmente livre de agrotóxicos dez anos atrás, com apenas 4% contendo resíduos, atualmente 32% estão contaminados. No caso das cerejas, atualmente 50% das frutas europeias contém agrotóxicos contra 22% em 2011. Considerando que 70% dos consumidores europeus comem pelo menos uma fruta ou legume por dia, a presença dos pesticidas nos pratos europeus é representativa.

kiwi
kiwi © Pexels

O aumento do uso de agrotóxicos também poderia estar ligado ao lobby das empresas. “Os produtos observados são os mais tóxicos e os mais eficientes, por isso existe uma forte resistência da indústria agroquímica para mantê-los, para ter lucros, em detrimento dos agricultores, que já são muito dependentes, dos consumidores, isso sem falar do meio ambiente”, afirma Roynel.

Mas a inação dos Estados é o que mais preocupa a organização. “Esse relatório, sua principal conclusão é do aumento da presença desses resíduos muito tóxicos que é ligada a uma inação do Estado, e pede mais transparência sobre o que foi feito nestes últimos 10 anos e a prestar contas sobre a razão da não substituição e da não substituição dessas substâncias", diz Roynel.

"Esperamos que leve a uma resposta política forte e compromissos para fazer desaparecer essas substâncias do mercado e dos pratos dos consumidores, nos próximos 10 anos", afirma.

No Brasil, 70%  dos agrotóxicos utilizados são do tipo AAP. Estes produtos são majoritariamente utilizados no país na agricultura, cerca de 85%, na produção, armazenamento e beneficiamento de produtos e nas pastagens e florestas plantadas, sendo a maioria deles herbicidas.

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