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Campanha para governo de Madri termina com discurso populista e ameaça de morte a candidatos

A semana deve começar agitada na Espanha: a região de Madri vota na terça-feira (4) para renovar sua assembléia e eleger seu novo governador, mas toda a Espanha estará de olho nesta eleição, que pode resultar em um sério revés para o primeiro-ministro socialista Pedro Sanchez. Na região mais rica da Espanha - Madri -, considerada a "joia da coroa", quem tem maioria nas intenções de voto é a populista de direita Isabel Diaz Ayuso, que, caso vença o pleito, precisará da ajuda do partido de extrema direita espanhol Vox para governar.

A ex-presidente da região de Madri, Isabel Diaz Ayuso, 42, populista de direita e estrela em ascensão do Partido Popular (PP), o principal partido da oposição, apresentou a votação como uma escolha entre "comunismo e liberdade" e apontou o primeiro-ministro socialista, Pedro Sanchez, como seu "alvo privilegiado e único adversário".
A ex-presidente da região de Madri, Isabel Diaz Ayuso, 42, populista de direita e estrela em ascensão do Partido Popular (PP), o principal partido da oposição, apresentou a votação como uma escolha entre "comunismo e liberdade" e apontou o primeiro-ministro socialista, Pedro Sanchez, como seu "alvo privilegiado e único adversário". Óscar del Pozo AFP/Archivos
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Num país que ainda não afugentou os fantasmas da guerra civil e da ditadura de Franco, a campanha redescobriu polarizações duvidosas do passado, como a oposição entre os "vermelhos" e o "fascismo", com injúrias e ameaças, evitando qualquer debate sobre a pandemia de Covid-19 e a maneira caótica com que o governo de direita de Madri lidou com ela.

A campanha, que terminou na noite deste domingo (2), foi marcada pelo envio de meia dúzia de cartas ameaçadoras com balas, incluindo duas dirigidas a candidatos. A ex-presidente da região Isabel Diaz Ayuso, 42, populista de direita e estrela em ascensão do Partido Popular (PP), o principal partido da oposição, apresentou a eleição como uma escolha entre "comunismo e liberdade" e o primeiro-ministro Pedro Sanchez como seu "alvo privilegiado e seu único adversário".

A importância do pleito foi ilustrada pelo envolvimento pessoal do primeiro-ministro na campanha socialista por Madri, correndo o risco de parecer o responsável por um possível fiasco do seu partido.

Além disso, o líder do partido Podemos, de esquerda radical, parceiro dos socialistas na coalizão que governa a Espanha, Pablo Iglesias, renunciou ao governo para liderar seu partido na batalha em Madri.

No poder desde as últimas eleições, há dois anos, Diaz Ayuso é considerada a vencedora em todas as pesquisas, que a consagram com cerca de 40% dos votos, uma pontuação considerável se compararmos com a de 2019 (22%). Já o Partido Socialista, vencedor há dois anos, cairia de mais de 27% para cerca de 20%.

 Tal situação pode ser ainda mais surpreendente dado que a Covid-19 teve um impacto devastador em Madri, a região responsável por quase 20% das mais de 78.000 mortes e dos 3,5 milhões de casos no país.

Discurso populista na região mais rica da Espanha

Atacada por sua gestão da pandemia, Diaz Ayuso respondeu como faz há um ano, culpando Pedro Sanchez pela situação, a quem acusa de ter deixado as regiõesse defenderem sozinhas.

Mas, acima de tudo, ela está colhendo os benefícios da aposta ousada que fez ao optar por restrições mínimas de saúde. Opondo-se ao poder central, optou por deixar abertos bares, restaurantes, cinemas e teatros, para que Madri, um caso quase único na Europa, continuasse a ser uma "cidade aberta".

A tal ponto que Isabel Diaz Ayuso se apresenta como a campeã de uma espécie de “modelo madrileño”, um estilo de vida baseado na liberdade de ir tomar uma cerveja depois do trabalho ou ir a um restaurante à noite. Um discurso simples, até simplista, mas que encontra um certo eco entre a população.

"Pizza Ayuso"

A estratégia a tornou a heroína dos donos de restaurantes, que nunca tiveram que baixar a cortina desde o fim da primeira onda. Como homenagem, a Pizzart, uma rede de três restaurantes no centro de Madri, dedicou-lhe uma pizza, a "Madonna Ayuso" (tomate, mortadela, burrata e pistache).

“Graças a ela, conseguimos sobreviver”, disse uma das gerentes do restaurante, Marina Padilla, à mídia local. Os críticos de Ayuso culpam suas políticas pelo alto número de casos na região.

Terceira região mais populosa de Espanha, com cerca de 6,7 milhões de habitantes, Madri é a região mais rica do país e responde sozinha por 20% do PIB espanhol. Cerca de 72% das 2.000 maiores empresas espanholas estão sediadas na capital, de acordo com o Ministério da Indústria.

Centro de poder político, administrativo e mediático, a região, dotada de amplos poderes neste país altamente descentralizado, é muitas vezes chamada de "joia da coroa". Governar Madri, privilégio dos conservadores há 26 anos, dá ao seu líder um perfil de candidato nacional.

Epicentro da pandemia

A maneira como a pandemia foi gerenciada foi um dos principais tópicos da campanha, já que Madri foi o epicentro da primeira onda. Em março de 2020, a região respondia por 40% dos casos na Espanha.

Um desastre sanitário que levou as autoridades regionais a instalarem um necrotério provisório em uma pista de patinação no gelo da capital e a transformarem os pavilhões do centro de exposições em hospital de campanha.

O número de casos e mortes de Covid na região hoje continua sendo o mais alto da Espanha, mas é inferior ao de Paris, por exemplo.

Migrantes

O partido Podemos tem em sua lista um ex-migrante que chegou às Canárias em um barco improvisado em 2006. Ex-pescador do Senegal, Serigne Mbayé trabalhava como vendedor ambulante sem documentos e foi preso várias vezes pela polícia antes de obter a nacionalidade espanhola.

Ele agora é o porta-voz de um sindicato de Madri que representa esses vendedores chamados "manteros", em referência ao cobertor ("manta") em que colocam suas mercadorias na calçada.

Se eleito para o parlamento regional, ele prometeu lutar contra o racismo em uma região onde os imigrantes representam cerca de 15% da população.

Extrema direita cubana

As pesquisas preveem que Ayuso precisará mais uma vez do apoio do partido de  extrema direita Vox para governar. Terceira força política do país, Vox tem como candidato em Madri Rocio Monasterio, uma arquiteta hispano-cubana cujo pai deixou Cuba após ter visto sua exploração açucareira expropriada pelo regime de Fidel Castro.

Comparando o partido Podemos - que governa em nível nacional em coalizão com os socialistas - aos comunistas cubanos, ela acusa este partido de querer destruir a Espanha com suas medidas sociais.

"Eu sei exatamente o que isso traz, traz pobreza", disse ela no mês passado em uma entrevista para a TV.

(Com AFP)

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