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Alemanha lamenta e Turquia apoia saída de Özil da Seleção

A decisão do jogador de futebol Mesut Özil de deixar a seleção alemã, acusando seus críticos de "racismo", abriu polêmica na Alemanha, enquanto vários ministros da Turquia elogiaram sua luta contra o "fascismo". Nesta segunda-feira (23), a chanceler Angela Merkel disse que respeita a decisão do atleta.

Mesut Özil após a eliminação na Copa do Mundo da Russia, em 27 de junho de 2018.
Mesut Özil após a eliminação na Copa do Mundo da Russia, em 27 de junho de 2018. REUTERS/Michael Dalder
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Em um comunicado divulgado no último domingo, o jogador alemão de origem turca anunciou que deixará de defender as cores da Alemanha e acusa o presidente da federação de futebol do país de "racismo". "Com muita dor e depois de muitas considerações sobre o ocorrido, não continuarei jogando para a seleção alemã enquanto houver esse sentimento de racismo e desrespeito", declarou Özil através do Twitter.

Campeão do mundo com a Mannschaft em 2014 e peça-chave para o técnico Joachim Low, Özil marcou 23 gols em 92 jogos pela seleção.

"Como sabem, a chanceler tem muito apreço por Mesut Özil, um jogador de futebol que fez muito pela seleção nacional. Mesut Özil tomou agora uma decisão que tem de ser respeitada", disse Ulrike Demmer, porta-voz do governo alemão.

A Federação Alemã de Futebol (DFB) negou as acusações. Em uma nota, a Federação disse recusar "categoricamente que a DFB esteja associada ao racismo".

O jornal Bild pedia a saída de Özil há semanas, depois de o atleta se encontrar com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e tirar fotos ao lado do chefe de Estado, também acompanhado de outro jogador de origem turca, Ilkay Gundogan.

Özil, que nunca ocultou sua religião muçulmana, justifica que o encontro não teve qualquer intenção política e que se tratava de uma festa beneficente. Mas a imagem valeu muitas críticas, sobretudo, após a eliminação da seleção alemã na primeira fase da Copa do Mundo da Rússia. O encontro foi interpretado como apoio a um líder considerado autoritário pela Alemanha.

O ministro turco da Justiça, Abdülhamit Gül, elogiou o jogador: "Felicito Mesut Özil que, ao deixar a seleção nacional alemã, marcou seu melhor gol contra o vírus do fascismo", tuitou Gül. Desde maio, quando se reuniu com Erdogan, Özil vinha mantendo silêncio. Já Gundogan pediu perdão pelo caso.

Alemão na vitória, imigrante na derrota

Nascido na Alemanha e filho de pais turcos instalados no país, Mesut Özil abandonou sua nacionalidade turca em 2007 para se naturalizar alemão.

As relações entre a Ancara e Berlim estão muito tensas desde a frustrada tentativa de golpe de Estado na Turquia, em julho de 2016. Enquanto Berlim acusa Erdogan de autoritarismo, o mandatário turco não hesita em comparar a Alemanha atual com a era nazista do país.

O jogador acusa, em particular, o presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB), Reinhard Grindel, ex-deputado conservador que sempre criticou o multiculturalismo durante sua carreira política. "Para Grindel e os que o apoiam, sou alemão quando vencemos e imigrante quando perdemos", alfinetou.

Depois da polêmica, o jogador do Arsenal declarou: "Como muita gente, minhas raízes vão além de um país. Cresci na Alemanha, mas minha história familiar tem suas raízes solidamente arraigadas na Turquia. Tenho dois corações, um alemão e outro turco", resumiu.

A ministra alemã da Justiça, Katarina Barley, também se pronunciou: "é um sinal de alarme quando um grande jogador de futebol alemão como Mesut Özil já não se sente representado em seu país por causa do racismo".

O líder da comunidade turca na Alemanha, Gokey Sofuoglu, afirmou que a "diversidade" da seleção alemã, que até agora foi um "modelo", está ameaçada.

O diário Tagesspiegel denuncia "um ambiente populista no país", onde a renúncia de Özil abre "uma ferida esportiva, política e social".

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