No primeiro depoimento, Rubiales insiste em beijo consensual e defesa de Hermoso mantém versão
O ex-presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, de 46 anos, compareceu pela primeira vez a um tribunal nesta sexta-feira (15) e se apresentou ao juiz de instrução Francisco de Jorge, responsável pelo caso no qual é acusado de "agressão sexual e coação", após uma queixa da atleta Jenni Hermoso.
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A decisão do juiz em chamar Rubiales para contar a sua versão dos fatos acontece um dia depois da abertura do processo criminal, após denúncia apresentada pelo Ministério Público contra o dirigente espanhol sobre os alegados crimes.
Segundo o El País, Francisco de Jorge ordenou à polícia que recolhesse "vídeos relacionados aos fatos", referindo-se ao próprio beijo e aos momentos anteriores e posteriores.
O depoimento de Rubiales durou cerca de uma hora, mas ele, que entrou e saiu a pé com seus advogados, usando um terno azul-marinho, não fez nenhuma declaração às dezenas de jornalistas de plantão em frente ao prédio Tribunal Central de Instrução da Audiência Nacional.
No entanto, de acordo com uma fonte ligada ao Ministério Público, ele negou as acusações perante o juiz, em uma audiência fechada, e reiterou que o beijo na jogadora no palco da premiação da Copa do Mundo Feminina foi "consensual".
Em uma entrevista com um jornalista britânico transmitida na terça-feira (12), Luis Rubiales - que se recusou a renunciar por três semanas, apesar da pressão - negou qualquer irregularidade criminal.
"Foi um ato recíproco", declarou o ex-dirigente. Não foi "nada além de um momento de felicidade, uma grande alegria", continuou ele, negando qualquer ato com "conotações sexuais". "Minhas intenções eram nobres, 100% não sexuais, 100%, repito 100%", insistiu.
Essa versão é contestada por Jenni Hermoso, atleta de 33 anos, que disse ter se sentido "vítima (...) de um ato impulsivo e sexista, inapropriado e sem qualquer consentimento", e apresentou uma queixa.
Uma advogada de Jenni Hermoso disse aos jornalistas, em frente ao tribunal, que a defesa da jogadora manterá sua versão: "Estamos muito satisfeitos com a declaração de hoje. Creio que podemos continuar dizendo que não foi consentido, como todos viram ao vivo".
Os repórteres chegaram a pedir notícias de Jenni, mas a defensora não respondeu.
Recusa da equipe
As campeãs mundiais da Espanha continuam se recusando a voltar à Seleção nacional, de acordo com sua federação. Apesar da recente renúncia de Rubiales, "elas não vão voltar", disse à AFP uma fonte próxima à Real Federação Espanhola de futebol (RFEF), sem dar mais detalhes.
A decisão, que foi um choque na Espanha, ocorre poucas horas antes de a nova treinadora Montse Tomé anunciar sua lista de jogadores para as partidas da Liga das Nações contra a Suécia e a Suíça, nos dias 22 e 26 de setembro.
Nos últimos dias, as autoridades do futebol espanhol estavam otimistas quanto ao retorno dos campeões mundiais, apontando a renúncia de Luis Rubiales da presidência da federação no domingo e a demissão, na semana passada, do técnico da equipe feminina, Jorge Vilda, que era próximo a Rubiales e cujos métodos eram contestados.
Mas, de acordo com a imprensa espanhola, isso ainda não é suficiente para as jogadoras, que no final de agosto pediram "mudanças estruturais reais", dizendo que não jogariam novamente enquanto os líderes da federação permanecessem no cargo.
Ofuscando a conquista do título mundial feminino em Sydney, em 20 de agosto, o beijo forçado de Rubiales na camisa 10 durante a cerimônia de entrega das medalhas mergulhou o futebol espanhol no caos e provocou uma onda de indignação internacional.
Nenhuma decisão imediata
O magistrado encarregado do caso terá de decidir, ao final de sua investigação, se encaminhará ou não Luis Rubiales aos tribunais. Como sua investigação está apenas começando, nenhuma decisão é esperada a curto prazo.
A promotoria pública pediu ao juiz que proibisse o ex-dirigente de chegar a menos de 500 metros de Jenni Hermoso, que atualmente joga na liga mexicana, e de entrar em contato com ela.
Desde uma recente reforma do Código Penal espanhol, um beijo não consensual pode ser considerado uma agressão sexual, uma categoria criminal que abrange todos os tipos de violência sexual. De acordo com uma porta-voz da Promotoria pública, as penalidades para Rubiales, 46 anos, variam de uma multa a quatro anos de prisão.
O tribunal também considerou que houve coerção, o que Rubiales negou. De acordo com o Ministério Público, "Jenni Hermoso explicou que ela e as pessoas ao seu redor foram vítimas de pressão constante de Rubiales e de sua equipe profissional para justificar e aprovar os fatos".
Com informações da AFP
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