"Abrimos portas para a igualdade": Marta chora ao comentar legado durante coletiva na Austrália
Maior nome da seleção brasileira e ícone do futebol feminino mundial, Marta resistiu até onde pode para não se emocionar durante a coletiva de imprensa desta terça-feira (1°) em Melbourne, na Austrália, antes do jogo contra a Jamaica. Mas foi quando as perguntas extrapolaram o duelo decisivo que Marta bateu um bolão: "Vocês não cobriam futebol feminino", lembrou, ao ser perguntada sobre seu legado. "Minha geração não tinha como saber que isso era possível. Agora tem", destacou, entre lágrimas.
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Tudo ia bem no bate bola certeiro entre a camisa 10 da seleção brasileira, Marta, e a técnica Pia Sundhage com as dezenas de jornalistas em Melbourne, na Austrália, até que duas perguntas sobre seu legado ao futebol mundial, cravado nestes últimos 20 anos, desconcertaram a alagoana nascida na pequena Dois Riachos, no nordeste brasileiro.
A reação emocionou também os jornalistas presentes no local, acostumados a vê-la tirar sarro dos repórteres com suas tiradas certeiras e bem-humoradas. "Pô, estava tudo indo bem até agora", antecipou a goleadora, antes de cair no choro.
A emoção de Marta se explica também pela grandeza do momento: o Brasil enfrenta a Jamaica em Melbourne em sua última partida da fase de grupos na quarta-feira (2), sabendo que precisa vencer para garantir sua permanência no torneio na Austrália e na Nova Zelândia. Essa pode ter sido, portanto - e torcemos para que não -, a última coletiva desta lenda do futebol brasileiro, pelo menos em Copas do Mundo.
Marta, de 37 anos - apelidada de "Pelé de saias" pelo falecido craque do futebol - já disse que esta será sua última Copa do Mundo. Ela é a maior artilheira de todos os tempos em Copas do Mundo, masculinas ou femininas, e, se aumentar sua contagem de 17 gols, será a primeira jogadora de futebol da história a marcar em seis Copas do Mundo.
"Você sabe o que é bom? Quando comecei, não havia ídolos no futebol feminino", disse ela aos repórteres na véspera da partida contra a Jamaica, com lágrimas nos olhos. "Como poderia existir, se vocês não mostravam o futebol feminino? Como eu poderia entender que chegaria à seleção nacional e me tornaria um ponto de referência?", argumentou, olhando diretamente para os jornalistas presentes.
"Agora eu saio na rua e as pessoas me param, os pais me dizem: 'Minha filha adora você, ela quer ser como você'", disse, chorando. Marta passou uma vida inteira superando obstáculos, desde uma infância de pobreza até o sexismo e, mais recentemente, a pior lesão de sua carreira. "É lógico que estou feliz em ver tudo isso, porque há 20 anos, em 2003, ninguém conhecia Marta", acrescentou, relembrando o quanto o futebol feminino evoluiu.
Não se sabe se a atacante, que nunca venceu a Copa do Mundo apesar de todas as suas conquistas, será titular contra a Jamaica. Mas ela pode ser chamada do banco de reservas pela técnica Pia Sundhage se o Brasil estiver buscando a vitória de que tanto precisa para continuar na competição.
Arma "letal"
A Jamaica está em segundo lugar, atrás da líder do Grupo F, a França. As jamaicanas não contaram com a prolífica atacante Khadija Shaw na vitória contra o Panamá, depois que ela foi expulsa pelo segundo cartão amarelo no empate de 0 a 0 com a França.
Shaw, de 26 anos, que marcou 31 gols em 30 jogos pelo Manchester City na última temporada, estará de volta para enfrentar o Brasil e poderá ter uma participação importante no jogo.
"Ela é uma arma letal, marca gols e é a maior artilheira da Jamaica", disse o técnico Lorne Donaldson. "Ela é uma líder muito boa e uma excelente jogadora de futebol". Donaldson, cuja equipe está classificada em 43º lugar no mundo, contra oito do Brasil, disse que seu time era o azarão, apesar de estar em uma posição melhor para sair do grupo.
Mas ele chamou suas jogadoras de "resilientes", acrescentando: "Sabemos que o Brasil virá atrás de nós com tudo o que tem, mas temos de estar prontos. Queremos ficar um pouco mais", afirmou.
As "Bleues", como são chamadas as jogadoras francesas, devem terminar em primeiro do grupo e são as grandes favoritas contra o Panamá.
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