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Agressão a Vini Jr: Federação espanhola admite 'problema de racismo' e Real Madrid aciona Justiça

O Real Madrid anunciou nesta segunda-feira (22) que apresentou uma queixa ao Ministério Público da Espanha depois do atacante brasileiro Vinicius Jr ser novamente alvo de insultos racistas em Valência. O jogador já disse que não vai "ficar calado" e deseja se pronunciar por meio de uma coletiva de imprensa. Vini Jr, que foi veementemente defendido pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, no encerramento de sua participação no G7, ameaça até deixar o Real Madrid. 

Mestalla, Valencia, Espanha - 21 de maio de 2023 Vinicius Junior, do Real Madrid, imita o abuso dirigido a ele por um torcedor.
Mestalla, Valencia, Espanha - 21 de maio de 2023 Vinicius Junior, do Real Madrid, imita o abuso dirigido a ele por um torcedor. REUTERS - PABLO MORANO
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A liga espanhola de futebol está mais uma vez sendo confrontada à violência do racismo em seus estádios, depois que novos insultos contra o atacante brasileiro Vinicius Jr, do Real Madrid, em Valência, na noite de domingo (21), provocaram indignação no mundo do futebol, e também fora dele.

"A Federação [espanhola de futebol] está chocada com o que aconteceu. Essas atitudes devem ser erradicadas", disse a insitutição, que é responsável por essas questões por meio de seu "Comitê de Competição", o equivalente ao comitê disciplinar francês. Ela garantiu que seu presidente, Luis Rubiales, falaria publicamente sobre o caso nesta segunda-feira.

A instituição também está pedindo a adoção de "medidas mais enérgicas", que podem chegar ao fechamento de arquibancadas ou até mesmo de estádios em caso de reincidência, além de encaminhar a questão à "Comissão Estadual contra a Violência, a Xenofobia e o Racismo no Esporte".

O estrondoso silêncio do chefe da "La Liga"

Por fim, a federação pediu aos clubes que "colaborem" com as autoridades, "respeitem as regras" e "não os atrasem com processos legais artificiais". Essas palavras estão entre os muitos apoios que Vinicius recebeu, com a notável exceção do poderoso chefe da "La Liga", Javier Tebas. Na linha de frente da defesa do jogador, o  técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, que se manifestou em uma coletiva de imprensa, dizendo que a liga espanhola tem "um problema com o racismo".

"O Real Madrid condena os fatos ocorridos ontem [domingo] contra nosso jogador Vinicius Junior e se opõe vigorosamente a eles", disse, em um comunicado. O clube decidiu apresentar a queixa para que uma "investigação possa ser aberta" sobre os insultos, que, segundo o Real Madrid, constituíram legalmente um "crime de ódio".

"Em primeiro lugar, temos que reconhecer que temos um problema de comportamento, de educação, de racismo" no futebol espanhol, declarou o presidente da Federação Espanhola, Luis Rubiales, em uma coletiva de imprensa realizada na sede da instituição, perto de Madri. Ele disse que estava apoiando totalmente o atacante brasileiro.

Racismo condenado com veemência

"Enquanto houver um torcedor isolado, uma pessoa indesejável, ou um grupo de torcedores que insulta alguém por sua orientação sexual, sua cor de pele, teremos um problema sério, que mancha todo um time, todos os torcedores, todo um país", acrescentou.

Durante a partida entre o Real Madrid e o Valencia CF na 35ª rodada do Campeonato Espanhol, que o Madrid perdeu por 1 a 0 no domingo, Vinicius foi vítima de todos os tipos de insultos, inclusive racistas, de grande parte da torcida no estádio Mestalla.

O Movimento Contra a Intolerância (MCI) e a Associação de Futebolistas Espanhóis (AFE), o principal sindicato de jogadores da Espanha, também anunciaram em um comunicado que haviam apresentado uma queixa.

"As duas organizações são totalmente contrárias ao comportamento inaceitável de certos torcedores e acreditam que é hora de agir agora, e de forma decisiva, diante de eventos tão graves que, infelizmente, não são isolados", escreveram a AFE e o MCI em sua declaração conjunta.

Quanto ao racismo, "não há situações distintas, adversários ou clubes. Ele deve ser condenado, como um todo. Devemos erradicar o racismo de uma vez por todas", disse Xavi, técnico do Barcelona, o grande rival do Real Madrid, em uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira.

Reações do mundo inteiro

"O que aconteceu até agora? Relatórios que não deram em nada (...). A solução é parar o jogo", denunciou o técnico do Real Madrid, o italiano Carlo Ancelotti. Além do apoio do italiano, Vini Jr recebeu a solidariedade de todo o mundo do futebol. No Brasil, por exemplo, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, disse nas redes sociais que Vinicius tinha "o amor de todos os brasileiros".

"Mais uma vez um episódio de racismo na @laliga. Mais uma vez com o @vinijr. Até quando?", lamentou Ronaldo, ídolo da Seleção, no Instagram. "Enquanto houver impunidade e conivência, haverá racismo", reiterou.

"Tô contigo", postou Neymar no Instagram.

Em uma coletiva de imprensa em Hiroshima, no Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também denunciou o "racismo" sofrido por Vinicius.  "Ele foi chamado de macaco. Não é possível, em pleno século XXI, que haja um preconceito racial tão forte em tantos estádios de futebol", acrescentou.

Gilberto Gil seguiu o exemplo do líder petista. No Instagram, o ídolo da MPB postou uma foto de Vini, junto com uma mensagem.  "Gostaria que o povo espanhol mostrasse acolhimento e respeito a todas as raças, a todos os jogadores que vêm de todos os lugares do mundo", escreveu.

Fora do país, o astro do PSG, Kylian Mbappé, também se posicionou. "Você não está sozinho. Estamos com você e o apoiamos", escreveu em inglês no Instagram. "Eu vejo dor, desgosto, o vejo precisando de ajuda. Temos que ajudá-lo", apoiou o ex-jogador da seleção inglesa, Rio Ferdinand.

O clube Valencia, que foi o anfitrião do incidente, disse em um comunicado que "condena publicamente qualquer tipo de insulto ou ataque" e que "tomaria as medidas mais severas", embora tenha se referido a um "ato isolado". "O racismo não tem lugar no futebol ou na sociedade", disse o chefe da Fifa, Gianni Infantino, apontando para a existência de um procedimento específico para tratar de casos como os de Vini.

"Primeiro, interrompemos a partida e fazemos um anúncio. Depois, os jogadores deixam o campo e anunciamos a suspensão da partida se os ataques recomeçarem. A partida é reiniciada e, se os ataques recomeçarem, (...) os três pontos vão para o adversário.

 "Essas regras deveriam ser introduzidas em todas as ligas, em todos os países", reiterou Infantino.

(Com AFP)

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