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Liverpool incita Uefa a agir após federação ser responsabilizada por tumultos no Stade de France

O Liverpool pediu nesta terça-feira (14) à Uefa que tomasse medidas concretas para evitar mais falhas de segurança ao redor dos estádios, um dia após a publicação de um relatório que responsabilizou a federação europeia e as autoridades francesas pela gestão calamitosa da última final da Liga dos Campeões, ocorrida em maio passado, em Paris.

Agente de segurança no portão do Stade de France tenta controlar ingressos de torcedores na final entre o Liverpool e o Real Madrid, em 28 de maio de 2022.
Agente de segurança no portão do Stade de France tenta controlar ingressos de torcedores na final entre o Liverpool e o Real Madrid, em 28 de maio de 2022. AP - Christophe Ena
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"Pedimos à Uefa e aos que estão no topo da pirâmide reguladora do futebol que se unam e ajam de forma positiva e transparente para evitar outro 'quase fiasco'", declarou o Liverpool, a respeito da partida em que o time inglês saiu do Stade de France derrotado por 1 a 0 pelo Real Madrid. 

"Como um clube com uma orgulhosa história europeia, pedimos à Uefa que faça a coisa certa e implemente as 21 recomendações do relatório para garantir a segurança de todos os torcedores que assistirão a uma partida da federação no futuro", acrescenta a nota do Liverpool, cujos torcedores já tinham sido vítimas de tragédias em Heysel, em 1985, e Hillsborough, em 1989.

No primeiro incidente, na final da Champions de 1985, disputada entre o Liverpool e a Juventus no estádio de Heysel, na Bélgica, confrontos violentos entre as torcidas rivais deixaram 39 mortos e 600 feridos. Quatro anos depois, em 1989, 95 torcedores do Liverpool morreram pisoteados e outros 766 ficaram feridos no estádio Hillsborough, em Sheffield (Inglaterra), durante o jogo entre Liverpool FC e Nottingham Forest, válido pelas semifinais da Taça da Inglaterra. Foi o maior desastre do futebol inglês e um dos maiores do mundo. 

O comunicado do Liverpool ainda ressalta que "falsos relatos foram divulgados após aquela noite em Paris, relatos que desde então foram totalmente refutados", continua o texto, referindo-se em particular às declarações do ministro do Interior da França, Gérald Darmanin. Na época, o ministro culpou os incidentes nos arredores do Stade de France a supostas "hordas de hooligans" e a torcedores ingleses que teriam tentado entrar no estádio com ingressos falsificados. 

"O que aconteceu em Paris reacendeu o sofrimento das famílias, amigos e sobreviventes de Hillsborough", conclui a declaração.

A investigação independente encomendada pela federação europeia, cujos resultados foram divulgados nesta segunda-feira (13), concluiu que a Uefa é a "primeira responsável" pelos graves incidentes ocorridos nos portões do Stade de France. 

"O grupo conclui que a Uefa, como dona do evento, tem a primeira responsabilidade dos fracassos que quase se tornaram um desastre", disse o relatório dos especialistas.

"Embora seja razoável delegar as tarefas de segurança a outros, em primeiro lugar à Federação Francesa de Futebol, e de remeter à (...) polícia as questões de segurança, não significa que a Uefa esteja eximida de sua responsabilidade. A Uefa tinha um papel central na organização do evento e deveria ter vigiado, supervisionado e colaborado com as medidas de segurança", afirmou o documento.

"As outras partes cometeram erros que contribuíram (para os incidentes), mas era a Uefa quem estava no controle" da organização da final entre Real Madrid e Liverpool, em 28 de maio de 2022.

Os peritos criticaram a FFF por seu "papel-chave" na organização do jogo como federação anfitriã e constataram "falhas de comunicação" com a polícia e as autoridades de transportes, origem do colapso de torcedores na chegada ao estádio.

Críticas à reação policial

"Estes erros não deveriam ter acontecido e, quando foram detectados, a FFF deveria considerá-los como prioridade", apontou o relatório.

Tumulto nos acessos, torcedores atacados com gás lacrimogênio e vítimas de roubos. As falhas no dispositivo de segurança na final realizada no Stade de France proporcionaram cenas caóticas, provocando grande polêmica tanto na França quanto na Inglaterra. O relatório criticou também a reação das forças de segurança francesas, dado que o uso de gás lacrimogênio "não tem lugar em uma festa do futebol".

Os peritos responsáveis pela investigação, dirigida pelo ex-ministro de Educação, Juventude e Esportes de Portugal Tiago Brandão Rodrigues, se mostraram "estupefatos" diante da possibilidade de a resposta policial ter sido influenciada pela imagem dos torcedores do Liverpool apontados como "hooligans", uma "ideia errônea inexplicável".

Em um primeiro momento, o ministro do Interior da França, Gérald Darmanin, incriminou os torcedores britânicos, muitos dos quais tinham viajado a Paris com ingressos falsificados, embora posteriormente o chefe da polícia, Didier Lallement, tenha admitido que poderia ter se "equivocado" nos números, reconhecendo um "fracasso".

Os peritos não encontraram "nenhuma prova de um número anormalmente alto de torcedores sem ingressos ou com bilhetes falsos", e criticaram as estimativas das autoridades francesas, "infladas falsamente e exageradas", sugerindo a intenção de "desviar sua responsabilidade nas falhas operacionais".

Um relatório governamental apontou desajustes no funcionamento da polícia e da organização em um episódio que prejudicou a imagem da França, que vai receber os Jogos Olímpicos de 2024 em Paris.

Desculpas da Uefa

O secretário-geral da Uefa, Theodore Theodoridis, pediu desculpas em um comunicado em nome da federação.

"Em nome da Uefa, gostaria de pedir desculpas sinceramente mais uma vez a todos aqueles que foram afetados pelos acontecimentos que se desenvolveram no que deveria ter sido uma celebração no auge da temporada de clubes."

"Em particular, gostaria de pedir desculpas aos torcedores do Liverpool pelas experiências que muitos deles tiveram ao comparecerem ao jogo e pelas mensagens lançadas antes e durante o jogo que tiveram o efeito de culpá-los injustamente pela situação que levou ao atraso do pontapé inicial."

"A Uefa se compromete a aprender com os acontecimentos de 28 de maio e vai cooperar estreitamente com os grupos de torcedores, os clubes finalistas, as federações anfitriãs e as autoridades locais a fim de oferecer finais excepcionais, nas quais todos possam aproveitar o jogo em um entorno seguro e acolhedor", acrescentou Theodoridis.

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