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Presidente da Fifa tropeça em 'pink washing' e apropriação identitária em fala criticada no mundo inteiro

Gianni Infantino criticou neste sábado (19) a "hipocrisia" dos críticos ocidentais da Copa do Mundo do Catar, que começa no domingo (20), principalmente em nome dos direitos humanos, elogiando o "progresso" da Fifa nesta área. Em um monólogo de quase uma hora de duração, o líder de 52 anos de idade se valeu muito de sua história pessoal para dizer que "se sente" "catariano", "árabe", "africano", "gay", "deficiente" e até mesmo "trabalhador imigrante", pois ele nasceu na Suíça de pais italianos.

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, em entrevista coletiva antes do início da Copa do Mundo, em Doha.
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, em entrevista coletiva antes do início da Copa do Mundo, em Doha. AP - Abbie Parr
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Enquanto vários meios de comunicação mundiais e ONGs globais vêm documentando as péssimas condições de trabalho em obras da Copa do Mundo, Infantino disse que "sabe o que é ser discriminado" porque foi "intimidado na escola" como um "garoto ruivo, de cabelo encaracolado e sardento que falava mal alemão".

"E quando cheguei a Doha, fui ver alguns desses lares de migrantes e isso me levou de volta à minha infância. Eu disse aos catarianos: 'Isto não está certo, algo deve ser feito a respeito disso'", disse ele.

"Dar lições de moral – sempre na mesma direção – é simplesmente hipocrisia", disse o presidente da federação à imprensa, durante um discurso muito ofensivo na véspera da partida de abertura entre Catar e Equador, após meses de silêncio sobre as muitas controvérsias em torno do torneio.

A Europa "devia pedir desculpas"

O presidente da Fifa falou do "progresso" alcançado nos últimos anos para os trabalhadores do Catar – um salário mínimo de cerca de € 280 por mês, a abolição do sistema de patrocínio que impedia que os empregados deixassem o país, e a compensação por salários não pagos e acidentes de trabalho.

"Quantas das empresas ocidentais aqui têm se preocupado com os direitos dos trabalhadores migrantes? Nenhuma. Porque uma mudança na legislação significa menos lucro. Mas nós o fizemos", argumentou o líder do futebol mundial.

Mais amplamente, ele chamou as críticas ao Catar de "profundamente injustas", dizendo que "pelo menos o país criou vias legais" para que os trabalhadores estrangeiros venham e ganhem a vida, quando "muito poucos sobrevivem" tentando chegar à Europa.

"Pelo que nós europeus fizemos nos últimos 3.000 anos, devemos pedir desculpas pelos próximos 3.000 anos antes de dar lições de moral aos outros", disse ele.

Ele também se referiu a artigos publicados na Espanha, Inglaterra e França descrevendo como "falsos torcedores" os fãs do sul da Ásia que demonstraram apoio às equipes que participam da Copa do Catar. "Isto é puro racismo. Todos no mundo têm o direito de torcer por quem quiserem."

Quanto à súbita decisão das autoridades do Catar, na sexta-feira, de proibir a venda de álcool nas proximidades dos estádios, o ato foi desdenhado pelo suíço: "Pessoalmente, acho que você pode sobreviver sem cerveja por três horas. E na verdade, as mesmas regras se aplicam na França, Espanha e Escócia", afirmou.

A Anistia Internacional criticou o presidente da Fifa no Twitter, dizendo que "ao deixar de lado as críticas legítimas de organizações de direitos humanos, Infantino despreza o enorme preço pago pelos trabalhadores migrantes para tornar possível seu principal torneio – assim como a responsabilidade da Fifa por isso".

Já a senadora francesa Mélanie Vogel perguntou, também no Twitter, se Infantino se sentia "hoje como um trabalhador migrante gay do Catar?". "Você tem medo de ser enforcado, espancado, explorado e que enquanto você teme a morte e o abuso, o mundo assiste a jogos de futebol sendo jogados sobre os cadáveres de seus amigos?", provocou.

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