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“Me sinto preparada para competir com qualquer adversária”, diz única tenista do Brasil em Roland-Garros

Ela ocupa a posição de número 49 do ranking mundial de simples e 34 em duplas. A paulistana Beatriz Haddad Maia, 26 anos, desembarca em Paris com as melhores marcas de sua carreira até hoje. A jogadora é a única esperança do Brasil no torneio de simples de Roland-Garros, que começa neste domingo (22) na capital francesa.

A paulista Beatriz Haddad Maia
A paulista Beatriz Haddad Maia © RFI Maria Paula Carvalho
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Na segunda-feira (16), Beatriz apareceu oficialmente entre as 50 melhores tenistas do mundo na atualização do ranking da WTA, garantindo o seu lugar na chave principal. Ela faz história para o Brasil, se tornando a quinta tenista brasileira a atingir tal desempenho.

“Eu estou feliz, com certeza é um momento especial da minha carreira. Eu e minha equipe viemos trabalhando muito para chegar a esse momento. Mas, agora, já estou focada no próximo desafio, que é Roland-Garros”, disse em entrevista à RFI Brasil antes de um treino na arena Simmone-Mathieu, uma das prestigiosas quadras do Grand Slam parisiense.  

Ao longo da carreira, Beatriz sofreu com muitas lesões, que resultaram em diversas cirurgias e pausas no circuito de tênis. Mas a número 1 da América Latina diz estar em ótima forma.

“Meu corpo está muito bem, faz mais de dois anos que eu não sinto uma dor que me tire das quadras. Isso é consequência do cuidado que a gente tem, do meu fisioterapeuta, do meu preparador e treinador. Eu estou realmente pronta e preparada. Eu tenho feito jogos muito longos e tenho aguentado e me recuperado bem”, garante.

Volta por cima

A disputa de Roland-Garros coroa um retorno aos campeonatos, após uma suspensão por doping, em 2019. Na época, a tenista brasileira recebeu 10 meses de pena por uso de substâncias SARM S-22 e SARM LGD-4033, popularmente conhecidas como variações do Sarm, um anabolizante proibido pela Agência Mundial Antidoping (Wada). Ela voltou a jogar em 22 de maio de 2020. 

A minha maior rival sou eu mesma. Eu contra a Bia, os meus pensamentos, os meus anseios, a minha vaidade, o meu ego. Cada vez mais eu tento ficar mais concentrada e impor o meu jogo", comenta. "Há jogadoras duras, fortes. A favorita é a Iga Swiatek. Mas é sorteio, a gente não escolhe rival e eu me sinto preparada, independente do estilo da jogadora”, diz.

Experiência em Roland-Garros

Beatriz Haddad Maia começou a jogar tênis aos cinco anos de idade, na escola. Chegou a 15ª do mundo no ranking juvenil, época em que ganhou o vice-campeonato de duplas de Roland-Garros, em 2012 e 2013.

“A boa experiência do juvenil é poder ver de perto os grandes jogadores. Mas ser um bom juvenil, especialmente no Brasil, não define nada. Algumas até se cobram muito, depois, no profissional, e isso não ajuda”, diz. “Eu já vivenciei isso, de sentir o frio na barriga, de ver a rotina dos grandes jogadores, e hoje me sinto preparada para competir com qualquer adversária”, completa.

Como profissional, Bia disputou a primeira final na WTA em 2017, sendo vice-campeã em Seul. Foi o seu melhor ano como tenista profissional, alcançando a posição de 58ª no ranking e terminando a temporada como 65ª. Nas duplas, foi campeã do WTA de Bogotá duas vezes, em 2015 e 2017.

A atleta começou 2021 na posição de número 359 e terminou na de 80. O ano foi marcado pela vitória diante da número 3 do mundo, Karolina Pliskova.

Nesta temporada de 2022, ela começou com o título do WTA 500 de Sydney e o vice-campeonato do Australian Open, se tornando nada menos do que a terceira brasileira da história a alcançar a final de um Grand Slam. Antes de chegar a Roland-Garros, Bia conquistou o maior título da carreira: o WTA 125 de St. Malo, na França. 

“O tênis feminino é muito aberto. Tirando a Swiatek, que está acima da média, todas as outras têm um nível muito alto e entre as 100 melhores do mundo há meninas com muitas qualidades, jogadoras perigosas e eu me incluo nelas. Então, eu tenho de trabalhar duro, melhorar o meu tênis, minha mente e minha concentração, mas sim, é possível enfrentar qualquer jogadora hoje”, afirma, confiante.

Beatriz Haddad Maia do Brasil durante o torneio de tênis Miami Open, domingo, 27 de março de 2022, em Miami Gardens, Flórida.
Beatriz Haddad Maia do Brasil durante o torneio de tênis Miami Open, domingo, 27 de março de 2022, em Miami Gardens, Flórida. AP - Wilfredo Lee

“É mais difícil para mulheres”

A jogadora brasileira acredita que o sucesso é mais difícil para as mulheres. “Não é o tênis, o torneio ou o ambiente: eu acho que o mundo ainda é machista”, lamenta. “A gente vêm conquistando o nosso espaço, a gente sabe que para a mulher acaba sendo mais difícil”, diz.

“Por exemplo, eu não posso compartilhar os meus gastos. O homem acaba dividindo o quarto com o treinador, enquanto a gente tem um gasto a mais”, cita. “Há pouquíssimos torneios femininos na América do Sul. Tem um WTA 250 em Bogotá. No masculino, eles têm vários torneios. Se você der essa oportunidade para as meninas, mais jogadoras aparecerão”, acredita.

Mas ela ressalta que o tênis feminino passa por um momento especial: "as meninas fazem um excelente trabalho, é muita entrega e superação e uma vai puxando a outra”, diz.

Outra dificuldade, de acordo com Beatriz Haddad, é o apoio dado ao tênis no Brasil.  “Para a gente não é fácil, pois o dólar e o euro são muitos caros”, explica. “Eu, por resultado e merecimento, tenho empresas que me apoiam e sem elas seria impossível viajar. Eu sei que há muitos tenistas que param no caminho ou vão para os Estados Unidos porque realmente não têm este apoio”, lamenta Bia, reconhecendo ser uma "pessoa privilegiada".

"Eu trabalho muito duro para ter o que eu tenho e eu sei que muitos tenistas não têm oportunidades. O tênis é um esporte muito caro e infelizmente a gente não tem a cultura popular do tênis no Brasil”, conclui. “No Brasil, professores, de maneira geral, não são valorizados e isso cabe, também, para preparadores físicos, fisioterapeutas e treinadores”, complementa.  

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