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Com metade do público e restrições sanitárias, Roland Garros 2020 desanima comerciantes do local

O primeiro golpe veio em julho, com a confirmação oficial de que em 2020 o torneio de tênis de Roland Garros - que acontece excepcionalmente de 27 de setembro a 11 de outubro, em Paris - , terá metade do público. Nesta terça-feira (8), o segundo golpe: a tenista número 1 do mundo, a australiana Ashleigh Barty, declarou que não comparecerá a esta edição por medo do novo coronavírus. E os comerciantes do local disseram que não esperam “nada” das vendas ligadas à competição deste ano.

Inaugurada em 2019, a nova grande quadra de Roland Garros, a  Simonne Mathieu, tem capacidade para 5.000 pessoas, mas acolherá somente 1.500 em 2020, devido às restrições santirárias impostas pela Covid-19.
Inaugurada em 2019, a nova grande quadra de Roland Garros, a Simonne Mathieu, tem capacidade para 5.000 pessoas, mas acolherá somente 1.500 em 2020, devido às restrições santirárias impostas pela Covid-19. AFP - PHILIPPE LOPEZ
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Para se adaptar às normas sanitárias de uma cidade em zona vermelha, como é o caso de Paris, onde o vírus circula ativamente e não são permitidas aglomerações de mais de 5.000 pessoas, Roland Garros dividiu seu espaço de 12 hectares em três áreas diferentes e hermeticamente separadas. As grandes quadras – Philippe Chatrier e Suzanne Lenglen só poderão acolher 5.000 pessoas cada, e a nova quadra Simonne Mathieu, 1.500, limitando assim o público diário a 11.500 pessoas, quase metade dos 20.000 habituais.

Diferentemente dos anos anteriores, em que o bairro de Auteuil ficava decorado com o tema do torneio – desde “pegadas” na calçada que indicavam o caminho a percorrer entre a estações de metrô mais próximas ao local da competição e uma lojinha temporária vendendo ingressos e produtos da marca Roland Garros em um canteiro, algumas semanas antes de o evento começar -, este ano, a pouco mais de duas semanas da abertura oficial, não há sinais que mostrem que estrelas como Rafael Nadal, que tentará o seu 13o título, Serena Williams e Novak Djokovic passarão por aqui.

A reportagem da RFI foi até Roland Garros, que está fechado para visitas – incluindo o museu e a loja oficial, que ficam dentro do espaço – e ainda em reformas, e depois percorreu a maioria dos restaurantes na rua d’Auteuil, no 16º distrito de Paris, para saber o que os gerentes, garçons e responsáveis dos estabelecimentos próximos ao templo do tênis francês esperavam desta edição “diferente” do torneio. As respostas não variavam muito: a expectativa é baixa, quase nula.

"Eu temo o pior"

Laurent é garçom e barman do restaurante Le Congrès Auteil há 29 anos e, já tendo acompanhado tantas edições de Roland Garros de perto, se mostra pessimista em relação a este ano. “A gente já tem menos movimento nos últimos anos, quando limitaram o vai e vem das pessoas (quem compra o ingresso não pode sair para comer e voltar, a entrada só é permitida uma vez), mas agora, com menos turistas, eu temo o pior”, lamenta.

“Há cinco, seis anos (antes dos atentados de 2015), a gente trabalhava como máquinas na época de Roland Garros, servíamos mais de 400 refeições por dia. Depois da mudança, em que os espectadores são obrigados a comer por lá mesmo, caiu para 270 refeições na época do torneio”, explica ele.

Para a diretora do restaurante, Cristelle, que disse estar acostumada a colocar todo o seu staff “em pé de guerra” para encarar as três semanas do torneio, este ano a resposta é lacônica: “Eu realmente não sei, não tenho expectativas”.

Acostumado em ter uma alta de lucros de cerca de 15% durante a segunda semana da competição – depois das qualificações – Mickael, gerente do restaurante Village d’Auteuil, também diz não ter nenhuma expectativa para este ano: “Não vai ter um bom público”, resume.

Do outro lado da rua, no restaurante Le Fétiche, que fica também em frente a uma saída do metrô por onde chega o público de Roland Garros, o garçom Armand, que trabalha no local há 23 anos e é fã do tenista brasileiro Gustavo Kuerten, resume o que espera este ano: “O torneio nem começou e a gente já está perdendo”.

Mesma sensação tem o taxista Hakim, que trabalha há sete anos no ponto de táxi da Porta de Auteuil, a poucos metros das quadras: “Sem americanos, japoneses e chineses eu não tenho corridas especiais ligadas ao torneio. Italianos e espanhóis não são consumidores de corridas de táxi”, lamenta. Os brasileiros que moram no Brasil também não poderão vir este ano.

Qualificação a portas fechadas

Uma outra novidade anunciada este ano foi a decisão de não ter público para os primeiros dias, a chamada semana de qualifying que garante vagas no quadro principal. Quem entra no site oficial vê indicado como datas do evento de 21 de setembro a 11 de outubro, mas o diretor de Roland Garros, Guy Forget, anunciou que foi feita uma adaptação do plano inicial e a primeira semana ocorrerá a portas fechadas.

A informação pegou de surpresa o professor de tênis Jean-Claude Saka, morador de Boulogne-Billancourt, cidade a oeste de Paris, a poucos minutos do local da competição. Ele chegava na manhã desta terça-feira (8) para um torneio nas quadras anexas quando descobriu, pela reportagem, que os ingressos que havia comprado para o qualifying serão reembolsados.

“Eu assisto aos torneios há 45 anos, bem que eu estranhei que este ano, a duas semanas do início, ainda esteja tudo fechado, em reforma”, disse ele ainda meio incrédulo de não poder assistir às qualificações – que este ano acontecem de 21 a 25 de setembro -  como tem feito nas últimas quatro décadas.

Para quem já comprou os ingressos, a organização avisa: “Roland-Garros vai agora contatar os titulares dos ingressos para lhes explicar as novas condições e oferecer-lhes as providências necessárias de acordo com os seus desejos", detalha Jean-François Vilotte, diretor geral da Federação Francesa de Tênis (FFT), organizadora do evento.

Os atletas também serão submetidos a estritas normas sanitárias e, ao contrário dos anos anteriores, em que podiam ficar em apartamentos em Paris, ficarão em dois hotéis reservados para o evento. Além disso, todos eles farão testes para a Covid-19 ao chegarem em Paris e, em seguida, após 72 horas. E continuarão a fazê-los ao longo da competição.

No total, em 15 dias de competição, são esperados menos de 150 mil espectadores, apenas um quarto dos cerca de 520 mil recebidos em 2019 durante a quinzena parisiense.

Concretamente, as receitas do torneio serão reduzidas pela metade, estima o seu diretor Guy Forget, o que corresponde a cerca de € 140 milhões.

 

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