Vitória de Egan Bernal no Tour de France é um "cala boca" ao preconceito, diz Libération
O jornal Libération desta segunda-feira (29) dedicou sua capa a Egan Bernal, o jovem colombiano que fez história ao se tornar o primeiro sul-americano a conquistar o Tour de France. Aos 22 anos, ele também se tornou o mais jovem vencedor dos últimos 100 anos.
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Para o jornalista Pierre Carrey, a vitória de Bernal também é um “cala boca” a todos os preconceitos que ainda existem dentro do ciclismo. Ele lembra que até então, os “pequenos colombianos” eram vistos pelos europeus como “criaturas” simpáticas, exóticas, caladas, assimiladas a imagem dos pioneiros do ciclismo colombiano dos anos 80, com seus bonés estampados “Café de Colômbia” e que mais pareciam com agricultores.
Carrey lembra que até pouco tempo atrás, comentários racistas ainda eram feitos, como o do ciclista francês Laurent Fignon, vencedor do Tour em 1983 e 1984. Em uma entrevista que voltou a ser publicada por uma revista especializada em 2017, Fignon dizia que “para ganhar, os colombianos teriam que mudar de raça”.
Bernal é, portanto, o primeiro vencedor vindo de uma país emergente. Herdeiro de uma rica história de ciclistas pobres, da Colômbia, onde o esporte é tão popular quanto o futebol.
Libération lembra que até então Bernal não era muito conhecido. A verdadeira estrela leva o nome de Nairo Quintana. O jornalista Pierre Carrey descreve então uma cena que presenciou em um bar de Medellín. Segundo ele, todos olham com atenção para a única televisão do recinto. Um deles, um ciclista amador suíço que mora no país, pergunta para os outros quem era aquele colombiano, com cara de adolescente que começava a se destacar na 19º etapa. “Esse nome, Egan, é Colombiano? ”, perguntou El suizo, como é chamado.
Nome errado
O jornal conta então a história que fez com que o jovem fosse batizado com esse nome. “Foi o médico da mãe de Bernal que quando ela engravidou, propôs ser o padrinho da criança e sugeriu o nome Egan, dizendo que vinha do grego e que significava ‘campeão’. A mãe acabou aceitando a proposta”, conta Carrey. “Mas o médico estava enganado já que Egan quer dizer ‘pequena chama’ e vem do gaélico irlandês.
A publicação também lembra que a história de Bernal é diferente da maioria dos ciclistas do país. “Bernal é a imagem do colombiano europeanizado, que aprendeu inglês, cresceu escutando conselhos de treinadores europeus. É o oposto de Quintana, que leva um modo de vida mais ‘tropical’, uma atitude mais sossegada que se satisfaz com pouco”, afirma o jornalista colombiano Luis Enrique Barbosa.
De fato, Bernal vem de uma família de classe média, e antes de se tornar ciclista profissional, sonhava em ser jornalista. Mas, aos 18, é contratado por uma equipe italiana de ciclismo e se muda para a Europa com o pai. Aos 20, vence o Tour de l’Avenir (Volta do Futuro, em português) e agora, aos 22, chega a inédita conquista do Tour de France.
O jornal termina sua matéria acreditando que a carreira do jovem colombiano será brilhante. É essa a opinião de muitos ciclistas, como o suíço Simon Pellaud: “Talento extraordinário, grande humildade e atencioso. Apesar do sucesso, ele não se comporta como uma estrela mimada”, conclui Pellaud.
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